Afirmando-se Povo de Deus, a Igreja chama a tenção para o aspecto pedagógico que encerra. Pois sendo particular, em relação com Deus universal, a Igreja, para ser fiel a si mesma, tem de se abrir ao diálogo. E nesta situação dialogal, o povo de Deus é um sacramento que se vai manifestando historicamente, particularmente hoje, quando as crenças parecem deixar de ser críveis…
Para além das certezas de antigamente, parece dever fazer-se um trabalho a descoberto, sem a protecção de uma ideologia garantida por uma instituição, mas sob a forma itinerante.
O que é pertencer?
Para que uma pessoa se sinta integrada é necessário que perceba uma certa interactividade entre ele e o grupo, é necessário que possuam um mínimo de interacção com a comunidade. De seguida, é preciso que aceite os valores e normas propostas pelo grupo. Pode-se, assim, numa certa medida, identificar com o próprio grupo e também sentir-se considerados e acolhidos como verdadeiros membros desse grupo.
Na base do sentido de pertença, supõe-se de cada membro um sentimento consciente de fazer parte desse grupo, o qual, por seu lado, o reconhece como um dos seus. O sentimento de pertença supõe portanto uma dupla integração pessoal e social, mais estruturado que a identificação espontânea de um indivíduo com uma realidade mais indiferenciada, como a raça, a classe social. Surge, então, a comunidade e o espírito comunitário reina onde a interacção que acontece tem lugar na comunidade que prima pela sua própria realidade comunitária, e onde a pessoa é tratada humanamente, como um ser para o qual eu estou aqui, do mesmo modo que ele está aqui para mim.
Igreja e Culturas
O modo de pertença à Igreja pode variar de um contexto cultural para outro, porque se estabelece uma dialéctica muito especial entre os valores culturais de uma sociedade e a identificação própria dos cristãos que vivem nesse meio.
Distingue-se três contextos bastante típicos que poderão condicionar a identidade cristã, do ponto de vista psicossocial:
– a cultura de apoio, como a de muitos países tradicionais, onde as pertenças sociais e religiosas se reforçam reciprocamente;
– a cultura de rotura, onde se vive um situação de rejeição, de perseguição e marginalização dos cristãos;
– a cultura pluralista, que obriga o cristão a definir a sua identidade, num meio onde todas as condições coabitam num clima geral de indiferença.
Pertencer gera atitudes
O pertencer a um grupo eclesial torna-se fonte de atitudes, pois o cristão, ao identificando-se com um grupo concreto, actua de acordo com os modelos propostos, que ele anteriormente aceitou.
Este sentido de pertença é tanto maior quanto mais elevada for a reciprocidade entre o indivíduo e a comunidade.
A cultura, como a marca própria de uma sociedade, é que personaliza um grupo no âmbito da diversidade, pois é pela cultura que os grupos se inter-comunicam.
Com o acelerar vertiginoso das mudanças, nenhum grupo se pode considerar como um fenómeno estático; é antes dinâmico e com facilidade se pode deixar ultrapassar. Assim, a civilização actual, já não se pensa em função da religião, mas sim por uma multiplicidade enorme de pequenas pertenças, o que gera a dispersão e a precariedade.
Igreja Plural
Neste ambiente pluralista, a Igreja deve tornar-se plurifacetada, acomodando o seu discurso aos diversos destinatários, para ser por eles compreendida. E isto por várias razões. Em primeiro lugar já não vivemos numa civilização de primeira vaga, onde as pertenças sociais e religiosas são recíprocas, criando uma estabilidade. E em segundo lugar, estamos a viver uma situação de choque, numa civilização de segunda vaga, onde se rejeitam os valores religiosos.Uma possível solução pode passar pela definição bem clara da identidade dos cristãos, apresentando a Igreja como sacramento de Cristo – por isso Universal e de Salvação –, sabendo à partida que estaremos a viver no meio da indiferença religiosa. Mas há bons caminhos por onde se pode caminhar, como é o caso do desejo de comunhão expresso em múltiplas manifestações culturais…