Símbolos Paulinos

• Primeiro, as datas de início e conclusão do ano Paulino, desde hoje e até ao dia 29 de Junho do próximo ano, para comemorar os dois mil anos do nascimento de São Paulo, quando este era ainda Saulo, de Tarso, judeu exemplar, fariseu convicto e exímio perseguidor de cristãos.

• Logo depois, a Cruz da qual disse São Paulo: «Quanto a mim, de nada me quero gloriar, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo». Paulo abraçou com todo o amor a Cruz de Cristo, nas suas tribulações, calúnias, sofrimentos, prisão e, por fim, no seu martírio.

• Seguem-se os nove anéis das algemas, que, segundo a tradição, mantiveram São Paulo, preso em Roma. Paulo não hesita em definir-se, várias vezes, como “prisioneiro de Cristo”, apoiado na força de Deus, por amor dos pagãos. Ele sente-se também «prisioneiro do Espírito», impelido pelo sopro do Espírito Santo, que o conduz, de cidade em cidade, a anunciar a Boa Nova!

• A espada é, sem dúvida, o grande símbolo de São Paulo. Esta espada é o símbolo do verdadeiro “soldado de Cristo”, do grande combatente e sofredor! Mas a espada, sugere também o vigor penetrante da Palavra de Deus, que é “como uma espada de dois gumes”, é uma palavra cortante, que fere e cura; é uma palavra penetrante, que vai até ao mais íntimo de nós mesmos. A espada é, por fim e sobretudo, o instrumento com que São Paulo foi martirizado em Roma, no tempo da perseguição de Nero, nos anos 64 a 65.

• Não podia faltar, entre os símbolos paulinos, o grande livro, que representa os escritos de São Paulo, as suas treze Cartas, que lemos praticamente, em quase todos os domingos, ao longo do ano, como segunda leitura;

• Por fim, a chama, que exprime a paixão ardente, o fogo da caridade, o calor da ternura paterna e do amor maternal, com que São Paulo formou e gerou, pelo evangelho tantos filhos para a fé. Esta chama manifesta ainda a extrema afectividade e calor humano que Paulo mantém com todos os seus colaboradores e fiéis.

Igreja e Gestão

Na semana que terminou, o Episcopado português esteve reunido em Fátima a realizar mais uma das suas jornadas pastorais, desta vez em torno dos temas da gestão e liderança.
Tive oportunidade de participar nessa iniciativa: foi fabuloso ver os nossos Bispos a reflectir sobre o que é liderar, visão estratégica, dinâmicas de mudança… Foram ajudados por profissionais extraordinários, quer da ACEGE, quer da McKenzie.
Mas de nada serviria, ou melhor, estaria descontextualizado se não fosse a primeira intervenção: a conferência do Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, intitulada «Critérios evangélicos e pastorais para a liderança e para a gestão de pessoas e administração dos bens ao serviço da Igreja “Comunhão e Missão”».
Permitam-me realçar um item da sua comunicação e que consta do esquema divulgado a todos os participantes.

O ícone, por excelência, do líder: Jesus que lava os pés dos apóstolos

Jesus introduziu no mundo um novo estilo de liderança em nítido contraste com o estilo dos líderes das nações. Ele mesmo se apresenta como modelo para aqueles a quem confia o encargo pastoral das comunidades. O ícone, por excelência, da autoridade na comunidade cristã é o “Lava-pés” dos apóstolos que sintetiza a experiência de Jesus como liderança de serviço: “Compreendestes o que eu vos fiz? Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’, e dizeis bem. Ora, se eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós vos deveis lavar os pés uns aos outros. Na verdade, dei-vos exemplo para que, assim como eu fiz, vós façais também.”
Três imagens bíblicas exprimem este modelo do Mestre e Senhor:
– o servo, numa perspectiva de serviço à graça de Deus e à comunidade, de apoio e de partilha de responsabilidades;
– o pastor, em ordem à solicitude, à coragem e ao papel de guia;
– o administrador, em ordem à afabilidade, à responsabilidade e à fidelidade.

Pertencer ao Povo de Deus

Afirmando-se Povo de Deus, a Igreja chama a tenção para o aspecto pedagógico que encerra. Pois sendo particular, em relação com Deus universal, a Igreja, para ser fiel a si mesma, tem de se abrir ao diálogo. E nesta situação dialogal, o povo de Deus é um sacramento que se vai manifestando historicamente, particularmente hoje, quando as crenças parecem deixar de ser críveis…
Para além das certezas de antigamente, parece dever fazer-se um trabalho a descoberto, sem a protecção de uma ideologia garantida por uma instituição, mas sob a forma itinerante.

O que é pertencer?
Para que uma pessoa se sinta integrada é necessário que perceba uma certa interactividade entre ele e o grupo, é necessário que possuam um mínimo de interacção com a comunidade. De seguida, é preciso que aceite os valores e normas propostas pelo grupo. Pode-se, assim, numa certa medida, identificar com o próprio grupo e também sentir-se considerados e acolhidos como verdadeiros membros desse grupo.
Na base do sentido de pertença, supõe-se de cada membro um sentimento consciente de fazer parte desse grupo, o qual, por seu lado, o reconhece como um dos seus. O sentimento de pertença supõe portanto uma dupla integração pessoal e social, mais estruturado que a identificação espontânea de um indivíduo com uma realidade mais indiferenciada, como a raça, a classe social. Surge, então, a comunidade e o espírito comunitário reina onde a interacção que acontece tem lugar na comunidade que prima pela sua própria realidade comunitária, e onde a pessoa é tratada humanamente, como um ser para o qual eu estou aqui, do mesmo modo que ele está aqui para mim.

Igreja e Culturas
O modo de pertença à Igreja pode variar de um contexto cultural para outro, porque se estabelece uma dialéctica muito especial entre os valores culturais de uma sociedade e a identificação própria dos cristãos que vivem nesse meio.
Distingue-se três contextos bastante típicos que poderão condicionar a identidade cristã, do ponto de vista psicossocial:
– a cultura de apoio, como a de muitos países tradicionais, onde as pertenças sociais e religiosas se reforçam reciprocamente;
– a cultura de rotura, onde se vive um situação de rejeição, de perseguição e marginalização dos cristãos;
– a cultura pluralista, que obriga o cristão a definir a sua identidade, num meio onde todas as condições coabitam num clima geral de indiferença.

Pertencer gera atitudes
O pertencer a um grupo eclesial torna-se fonte de atitudes, pois o cristão, ao identificando-se com um grupo concreto, actua de acordo com os modelos propostos, que ele anteriormente aceitou.
Este sentido de pertença é tanto maior quanto mais elevada for a reciprocidade entre o indivíduo e a comunidade.
A cultura, como a marca própria de uma sociedade, é que personaliza um grupo no âmbito da diversidade, pois é pela cultura que os grupos se inter-comunicam.
Com o acelerar vertiginoso das mudanças, nenhum grupo se pode considerar como um fenómeno estático; é antes dinâmico e com facilidade se pode deixar ultrapassar. Assim, a civilização actual, já não se pensa em função da religião, mas sim por uma multiplicidade enorme de pequenas pertenças, o que gera a dispersão e a precariedade.

Igreja Plural
Neste ambiente pluralista, a Igreja deve tornar-se plurifacetada, acomodando o seu discurso aos diversos destinatários, para ser por eles compreendida. E isto por várias razões. Em primeiro lugar já não vivemos numa civilização de primeira vaga, onde as pertenças sociais e religiosas são recíprocas, criando uma estabilidade. E em segundo lugar, estamos a viver uma situação de choque, numa civilização de segunda vaga, onde se rejeitam os valores religiosos.Uma possível solução pode passar pela definição bem clara da identidade dos cristãos, apresentando a Igreja como sacramento de Cristo – por isso Universal e de Salvação –, sabendo à partida que estaremos a viver no meio da indiferença religiosa. Mas há bons caminhos por onde se pode caminhar, como é o caso do desejo de comunhão expresso em múltiplas manifestações culturais…

O Toque nas relações

É o toque humano que conta neste mundo
O toque da tua mãe e da minha
Que significa muito mais para o coração fragilizado
Que o abrigo, o pão e vinho.
Porque o abrigo vai-se quando a noite acaba
E o pão dura apenas um dia
Mas o toque de uma mão e o som da voz
Cantam para sempre na alma.
[Spencer Michael Free]

Não podemos viver sem tocar… e ser tocados,
Sem acariciar… e ser acariciados,
Sem partilharmos o nosso corpo.
Já que a corporeidade
É a nossa única forma de ser e estar neste mundo.
O corpo é mediação para a relação,
Não apenas consigo próprio,
A relação intrapessoal,
Mas com o outro,
A relação interpessoal.
A sensação de «pertença»,
Quando é forte,
Sente a falta e a necessidade
Do contacto de uma mão que segura a outra,
Que acaricia e afaga…
Sente a falta do abraço (…)
É pelo corpo que pensamos,
Que sentimos e falamos,
Que tocamos e somos tocados
Num diálogo de familiaridade
Que exprime intimidade afectivo-emocional,
Livre de tabus, de falsas interpretações, (…)
O toque…
Deixa a «marca» do(s) outro(s) «em nós (…)».
[Ana Paula Bastos]

Convite

«Cada pessoa precisa de um “centro” na sua vida, de uma fonte de verdade e de bondade à qual recorrer na sucessão das diferentes situações e no cansaço da vida quotidiana.
Cada um de nós, quando se recolhe, precisa sentir não somente o palpitar do coração, mas, de maneira mais profunda, o palpitar de uma presença fiável, perceptível com os sentidos da fé e que, no entanto, é muito mais real: a presença de Cristo, coração do mundo.
Eu vos convido, portanto, a renovar no mês de Junho a vossa devoção ao Coração de Cristo, valorizando também a tradicional oração de oferecimento do dia e tendo presentes as intenções que proponho a toda a Igreja.»

Bento XVI, Ângelus 01/06/08

Bênção dos Sentidos

O Espírito Santo de Deus
conduz-me e guia-me
para que eu possa conhecer Jesus Cristo,
ouvir a Sua voz,
ver a luz de Deus
e responder à sua Palavra.

Assim, sobre mim mesmo, eu:

– Faço o sinal da cruz na FRONTE
para que Cristo me fortaleça com o sinal do seu amor
e eu aprenda a conhecê-l’O e a segui-l’O…

– Faço o sinal da cruz nos OUVIDOS
para ouvir a voz do Senhor…

– Faço o sinal da cruz nos OLHOS
para ver a luz de Deus…

-Faço o sinal da cruz na BOCA
para responder à Palavra de Deus…

-Faço o sinal da cruz no PEITO
para que Cristo habite, pela fé, no meu coração…

– Faço o sinal da cruz nos OMBROS
para levar sempre o jugo de Cristo que é suave…

– Faço o sinal da cruz,
em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo,
para ter a vida pelos séculos sem fim.
Ámen

Há dias…

Há dias em que sei – eu sei sempre –, mas há dias em que é mais evidente que as pessoas não morrem, partem.
Partem, mas não morrem, porque continuam vivas e bem vivas na minha vida.
A pessoa que sou deve-se a cada uma das pessoas que me amou e eu amei. Por isso, enquanto eu viver, saberei que elas também vivem, através de mim, bem guardadas naquele canto do reservado de mim, onde só vai quem eu quero.
Estão lá, e é lá que eu as posso visitar, falar e escutar… E de lá sai aquela frase de sempre: sê tu mesmo, sê livre, vive…
…para que amanhã outros possam viver por ti.

Uma metáfora pastoral!!


Chamam-lhe o “Manso” e é uma lenda entre os pescadores de Sesimbra. Pescava tanto que se dizia que fazia nascer peixe no mar. O seu barco, o Luís Adrião, que está hoje no fundo do mar, depois de um naufrágio que matou o seu novo proprietário, trazia as redes sempre cheias. Nunca ninguém soube como o velho “Manso” conseguia aquilo. Era um mistério numa comunidade piscatória sazonalmente invadida por ondas de miséria. Mas eu falei com Teodoro “Manso”, na altura já com 70 anos, e ele contou-me tudo.

O segredo do “Manso” é que ele “vivia com o peixe“. Ele próprio mo explicou. “Sonhava com o peixe.” Conhecia as várias espécies como se fossem da sua família. Os hábitos, as manhas, a inteligência de cada uma.

“Os peixes deslocam-se no mar como os pássaros no céu, em fila”, dizia ele. “Basta olhar o céu para saber o que se passa no fundo do mar.” Os peixes, continuava, “são como as pessoas. Têm as suas manias. Se os conhecermos, se vivermos com eles, temos mais hipóteses de os apanhar“.

Há peixes pouco inteligentes, que são traídos pela Lua. “Têm medo da luz, e vão para a fundura. Se estiver escuro, pensam que ninguém os vê.” Nestes casos, a Lua indica a direcção em que se deslocam os cardumes. Mas mesmo os peixes mais inteligentes, como por exemplo o sargo, têm as suas fraquezas. “O sargo vê um anzol e não vai lá porque sabe que está ali um pescador. E se apanharmos um, temos de lavar as mãos ao pôr o isco de novo, ou não apanhamos mais nenhum. Eles sentem o cheiro, e sabem. Os sargos andam sempre junto à costa. Dizemos que eles gostam de ver passar os automóveis. Aí, são muito difíceis de apanhar. Escondem-se nos rochedos. Uma vez dei com um com a cabeça de fora, a olhar para mim, como quem diz: queres apanhar-me? Pois anda cá, a ver se eu deixo.”

Em certas alturas, porém, os sargos são de uma inexplicável imprudência. Após a desova, deslocam-se em cardume e deixam-se apanhar com facilidade. “As mulheres quando engravidam também têm desejos extravagantes. Apetece-lhes comer carvão e coisas assim. Com o peixe é a mesma coisa. Deixam os filhos e pensam: vocês já estão aí, a gente agora vai dar uma volta. Não sei se é loucura do peixe…”

As sardinhas também têm hábitos muito humanos. É a sua maior fragilidade. “A sardinha vai às zonas com rochas, para se alimentar, passar a noite, como nós vamos ao café. Depois volta para a profundidade, poque se acha insegura ali. A sardinha é um peixe friorento. No Inverno, vai para o fundo, onde as águas são mais quentes.” E é aí, meio enterradas na areia, que dormem. Mas deitam-se tarde. “Sabe, quando vamos com os amigos, à noite, beber uns canecos… Já não nos víamos há tanto tempo e tal… Chega aí uma altura, lá para as cinco, seis da manhã, em que dá uma dormência… A gente tem de se encostar um bocado… Pois com a sardinha é a mesma coisa.” É a hora certa para as apanhar. Vai-se com cuidado e lançam-se as redes quando elas acordam, estremunhadas. Não falha. Eram grandes pescarias. “Eu encostava o ouvido ao fundo do bote e até as ouvia ressonar”, jurou-me o “Manso”.

[Paulo Moura, “Viver com os peixes”. Público. P2, 30.05.2008, 3]