A questão do sentido une todos os homens. Ter uma vida com sentido é a profunda inquietação que também hoje se sente. O problema agudiza-se ainda mais quando se torna evidente que nada do que se faz parece ter valor. Perante a morte e o problema do antes e do depois, não se pode deixar de colocar a questão do sentido. E quando a sede de sentido se agudiza, pode chegar-se ao desespero, ao sem sentido.
A resposta à questão do sentido era, normalmente, herdada do ambiente familiar, social ou religioso circundante. Houve, pois, uma infinidade de sentidos, desde os primórdios da humanidade até hoje. Exemplos disso são a história das religiões, da filosofia e da literatura. E mesmo da arte.
Sede de absoluto
Perante as diversas vagas de sentido, que chegam até a contradizer-se, surge a inevitável pergunta se não haverá um verdadeiro sentido que acabe por valer de facto a pena viver?
O cristão adulto vive a sede de absoluto, que não se realiza plenamente por esta vida, sem contudo negar a possibilidade de vir a realizar-se. Perante a morte, a radicalidade do problema humano faz emergir na consciência a aspiração que habita cada pessoa: realizar-se infinitamente. «Queria era sentir-me ligado a um destino extrabiológico, a uma vida que não acabasse com a última pancada do coração»(Miguel Torga).
A partir da morte pode reconhecer-se, também, a impotência do homem para construir sozinho a sua realização. «O homem é um animal compartilhante. Necessita de sentir as pancadas do coração sincronizadas com as doutros corações, mesmo que sejam corações oceânicos, insensíveis a mágoas de gente. Embora oco de sentido, o rufar dos tambores ajuda a caminhar. Era um parceiro de vida que eu precisava agora, oco tambor que fosse, com o qual acertasse o passo da inquietação»(Miguel Torga).
O adulto na fé reconhece que a vida terrena — projecto e aspiração a ser mais — tem sentido e abre a possibilidade da esperança de um futuro transcendente. A descoberta do sentido para a vida, integrando o sentido da morte, revela a precariedade e a finitude de uma vida sobre a qual assenta o desejo de absoluto que se espera. É a descoberta da liberdade ansiada, aquela que se tem devido a uma liberdade transcendente. O desejo de liberdade infinita do homem dá lugar à descoberta da condição de possibilidade da liberdade humana: Deus. A realização humana surge a partir do ser pessoa, da relação.
Cristo fonte de sentido
Mas o sentido é um dom, oferecido pelo mistério do Verbo encarnado. «Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente. […] Cristo, novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a vocação sublime»(GS 22). O mistério do homem revela-se através do mistério de Cristo, chamado a participar da sua filiação. Quando o homem descobre que é amado pelo Pai, em Cristo e através do Espírito, revela-se a si mesmo, descobre a grandeza de ser objecto da benignidade divina, receptor do amor do Pai revelado em Cristo. O mistério trinitário é o único capaz de realizar o homem, é o «mistério iluminador» do sentido. A expressão desse mistério faz-se pela vivência da comunhão, onde o ser com os outros impele para a solidariedade e para o diálogo.
Jesus Cristo, através da sua vida e pregação, é o mediador do sentido, o único intérprete dos problemas humanos. Em Cristo, os cristãos podem compreender-se, realizar-se e superar-se continuamente.
Em Jesus Cristo, cada ser humano, realiza-se e plenifica-se. O ser insaciado sacia-se. Aquilo que o homem é e o que anseia por ser têm um espaço de convergência e realização: Jesus Cristo.