Dom bosco: um mestre para a qualidade cristã

Neste início do século XXI, duas questões sérias se colocam à Igreja, como um todo, e a cada cristão individualmente. A primeira é como propor a vida bela e boa do Evangelho àqueles que ainda não o encontraram. A segunda é perceber como viver hoje ao estilo de Jesus com elevada qualidade. A história mostrou bem como S. João Bosco tem propostas interessantes para as duas questões. Neste texto vamos ver a actualidade de Dom Bosco para a segunda pergunta: como podemos hoje viver uma vida cristã de alta qualidade, isto é, como viver hoje em santidade?
Muita gente ainda se sente satisfeita com um cristianismo “mais ou menos”, feito de serviços mínimos. Alguns porque ainda não descobriram a força transformadora do Espírito de Jesus Ressuscitado. Outros porque não sabem como crescer na fé. A ideia de uma vida santa, em que todos os aspectos da vida estão tocados pelo Evangelho parece-lhes atraente mas… impossível, difícil, reservada só para uma elite.
Dom Bosco não se resignou a esta situação. Recolhendo o melhor da tradição da Igreja, ele criou uma proposta espiritual acessível a todos que leva realmente à santidade. Eis aqui algumas das suas intuições.
A vida cristã deve ser vivida no quotidiano. Não é um parêntesis. Não somos cristãos quando estamos na missa ou quando nos recolhemos em oração. A vida do dia a dia, o trabalho, o tempo livre, o desemprego, a doença… são os lugares onde Deus está connosco e onde somos convidados a viver felizes na sua companhia.
Vivemos a fé com alegria e optimismo. Não temos os olhos fechados, sabemos bem como este mundo está difícil. Mas sem ingenuidade procuramos viver cada acontecimento da vida com alegria e optimismo. Será possível? Sim, porque nos apoiamos na força de Jesus ressuscitado e na presença do seu Espírito de amor entre nós.
No centro de tudo está uma forte relação de amizade e intimidade com o Senhor Jesus. Ele é a imagem perfeita do Pai. E também a imagem perfeita do ser humano que pretendemos ser.
Toda esta experiência é feita com forte sentido de comunhão eclesial. Vivemos numa Igreja que se diz de variadas formas: dioceses, paróquias, movimentos, grupos, famílias… A experiência da fé ajudou-nos a superar o individualismo de hoje e leva-nos a uma forte comunhão. Apesar das diferenças, sentimos que estamos unidos numa mesma Igreja.
Outra intuição genial de Dom Bosco é o apelo a uma atitude de serviço responsável. Cada um com os seus talentos, todos somos chamados a construir esta Igreja de Cristo e a transformar este mundo de acordo com o sonho de Deus.
Rui Alberto, sdb

A Força do Símbolo


A liturgia, como ação eminentemente simbólica que é, educa sobretudo pela força do símbolo. Este, ao conectar com o mais profundo de cada pessoa, é um instrumento pedagógico fantástico para promover a conversão a Jesus Cristo, desde que nos deixemos transformar por aquelas realidades que são símbolos da ação salvífica de Deus realizada por Jesus Cristo, sob a ação do Espírito Santo.
Os símbolos, como realidades polissémicas que são, precisam de ser “guiados” na sua compreensão, para que não nos fiquemos na dispersão de significados. Por isso, «cada celebração sacramental é um encontro dos filhos de Deus com o seu Pai, em Cristo e no Espírito Santo. Tal encontro exprime-se como um diálogo, através de ações e de palavras. Sem dúvida, as ações simbólicas são já, só por si, uma linguagem. Mas é preciso que a Palavra de Deus e a resposta da fé acompanhem e deem vida a estas ações, para que a semente do Reino produza os seus frutos em terra boa. As ações litúrgicas significam o que a Palavra de Deus exprime: ao mesmo tempo, a iniciativa gratuita de Deus e a resposta de fé do seu povo» (CCE 1153).
Uma celebração sacramental é, então, tecida de sinais e de símbolos. Segundo a pedagogia divina da salvação, a sua significação radica na obra da criação e na cultura humana, determina-se nos acontecimentos da Antiga Aliança e revela-se plenamente na pessoa e na obra de Cristo.



Sinais do mundo dos homens. Os símbolos ocupam um lugar importante na vida humana. Sendo a pessoa humana um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais através de sinais e símbolos materiais. Como ser social, a pessoa tem necessidade de símbolos para comunicar com o seu semelhante através da linguagem, dos gestos e de ações. O mesmo acontece nas suas relações com Deus.
Deus fala-nos através da criação visível. O cosmos material apresenta-se à inteligência do homem para que leia nele os traços do seu Criador. A luz e a noite, o vento e o fogo, a água e a terra, a árvore e os frutos, tudo fala de Deus e simboliza, ao mesmo tempo, a sua grandeza e a sua proximidade.
Enquanto criaturas, estas realidades sensíveis podem tornar-se o lugar de expressão da ação de Deus que santifica os homens e da ação dos homens que prestam a Deus o seu culto. O mesmo acontece com os sinais e símbolos da vida social: lavar e ungir, partir o pão e beber do mesmo copo podem exprimir a presença santificante de Deus e a gratidão da criatura para com o seu Criador.
As grandes religiões da humanidade dão testemunho, muitas vezes de modo impressionante, deste sentido cósmico e simbólico dos ritos religiosos. A liturgia da Igreja pressupõe, integra e santifica elementos da criação e da cultura humana, conferindo-lhes a dignidade de sinais da graça, da nova criação em Cristo Jesus.

Sinais da Aliança. povo eleito recebe de Deus sinais e símbolos distintivos, que marcam a sua vida litúrgica: já não são unicamente celebrações de ciclos cósmicos e práticas sociais, mas sinais da Aliança, símbolos das proezas operadas por Deus em favor do seu povo. Entre estes sinais litúrgicos da Antiga Aliança, podem citar-se a circuncisão, a unção e a sagração dos reis e dos sacerdotes, a imposição das mãos, os sacrifícios e sobretudo a Páscoa. A Igreja vê nestes sinais uma prefiguração dos sacramentos da Nova Aliança.

Sinais assumidos por Cristo. Na sua pregação, o Senhor Jesus serve-Se muitas vezes dos sinais da criação para dar a conhecer os mistérios do Reino de Deus. Realiza as suas curas ou sublinha a sua pregação com sinais materiais ou gestos simbólicos. Dá um sentido novo aos factos e sinais da Antiga Aliança, sobretudo ao Êxodo e à Páscoa, porque Ele próprio é o sentido de todos esses sinais.

Sinais sacramentais. Depois do Pentecostes, é através dos sinais sacramentais da sua Igreja que o Espírito Santo opera a santificação. Os sacramentos da Igreja não vêm abolir, mas purificar e assumir, toda a riqueza dos sinais e símbolos do cosmos e da vida social. Além disso, realizam os tipos e figuras da Antiga Aliança, significam e realizam a salvação operada por Cristo, e prefiguram e antecipam a glória do céu.