Passo tantas vezes por videiras
escoradas, hirtas, apoiadas confiadamente
sobre esteios de granito, de cimento
ou de madeira tosca… Felizes!
Passo tantas vezes por videiras
contorcidas, quebradas, caídas,
sem esteio… Frustradas!
Abençoado esteio
que acolhe, ampara e defende,
que partilha da luta contra os ventos
e do júbilo das vindimas abundantes;
que escuta, compassivo,
os gemidos de sofrimento,
ou, embevecido, o murmúrio grato e manso
da vide garbosa que sustenta…
Há tantas pessoas tombadas, sem apoio!
Sê esteio generoso e forte,
para um viver rectilíneo e firme,
vertical e coerente.
Sê um esteio vivo, sensível,
humano, solícito, alentador:
– para os desânimos do caminho
– para os debates das opções do dia-a-dia,
– para os vendavais da dúvida,
da angústia, do desespero, da solidão
e da frustração atroz…
Sê um esteio possante de amor,
e sentirás perenemente
a alegria compensante de ajudar
e tornar feliz tanta gente…
Mário Salgueirinho