É um dado claro, para quem vê a Teologia pós conciliar, que a perda de unidade da teologia é um dos maiores desafios que se coloca hoje ao pensamento cristão. Le Guillou tenta dar resposta a esta situação, propõe uma teologia do Mistério, capaz de devolver uma reflexão crítica e sistemática no horizonte onde o cristianismo nasceu: a recepção da Verdade revelada na história. A categoria de Mistério permite à reflexão teológica encontrar a unidade e o equilíbrio na confissão do cristocentrismo trinitário, capaz de inspirar uma acção verdadeiramente missionária e pastoral da Igreja. Esta é a verdadeira confissão apostólica.
O teólogo acima citado, escreve no seu livro O Mistério do Pai, em 1973, que «o certo é que a fidelidade ao testemunho trinitário que está presente no coração da Igreja e a congrega na unidade, é o que suscitou ao longo de séculos as comunidades de vida monástica e de vida apostólica nas quais germinou, apoiando-se, uma sobre a outra, a experiência pastoral e o aprofundamento teológico. Nos nossos dias, tal como no passado, há-se ser nestas comunidades onde a fé e a teologia se hão-de restaurar nos seus verdadeiros fundamentos. Mas, no futuro – continua Le Guillou -, será na comunicação de comunidades espirituais livres – que agrupem na vida do Espírito a homens e mulheres, sacerdotes, religiosos e leigos – onde se desenvolverão os caminhos de uma renovação espiritual, teológica e missionária, digna do chamamento profético do Vaticano II». Eu vejo aqui uma clara aposta nos Novos Movimentos Eclesiais, e no contributo que são chamados a dar à Igreja, onde todos os aspectos e perspectivas da Igreja devem ser vistos desde o prisma do Mistério Trinitário.
Estas novas organizações de apostolado secular, excepcionalmente dinâmicas, às quais se referia o Papa no ano de 1979, chegariam a ser denominadas pelo termo genérico de «movimentos», expressão que nem o Vaticano II nem o Código de Direito Canónico empregam ao referir aos cristãos leigos, pois falam mais de associações seculares. João Paulo II utilizou-a em 1981, referindo-se aos novos movimentos na Igreja que é, ela mesma, movimento. Na Redemtoris Missio(73) assinala como uma novidade surgida recentemente em não poucas Igrejas o grande desenvolvimento dos movimentos eclesiais, dotados de um forte dinamismo missionário.
Na Igreja movimento, estes movimentos sobressaem e chamam a atenção pela sua novidade e por um dinamismo espiritual, missionário e evangelizador; supõem uma forte interpelação para outras realidades eclesiais mais antigas e tradicionais que o tempo foi anquilosando e que a modernidade fez com que experimentassem uma amarga decepção de impotência, assim como a ineficácia dos seus métodos, ainda que tivessem algum desejo de evangelizar e não só de «manter a fé».