A educação cristã na Web IV

A possibilidade de usar a Internet ao serviço da educação cristã é, muitas vezes, olhada de soslaio, por parecer que não integra a dimensão física da realidade. É uma dificuldade a que temos de dar resposta, até porque mais que uma vez os textos do magistério apelam à utilização dos meios digitais:
«A Internet é relevante para muitas atividades e programas da Igreja — a evangelização, incluindo a reevangelização e a nova evangelização, e a obra missionária tradicional ad gentes, a catequese e outros tipos de educação, notícias e informações, apologética, governo e administração, assim como algumas formas de conselho pastoral e de direção espiritual. Não obstante a realidade virtual do espaço cibernético não possa substituir a comunidade interpessoal concreta, a realidade da encarnação dos sacramentos e a liturgia, ou a proclamação imediata e direta do Evangelho, contudo pode completá-las, atraindo as pessoas para uma experiência mais integral da vida de fé e enriquecendo a vida religiosa dos utentes»[1].
Da reflexão sobre a posição oficial da Igreja a respeito da internet, a primeira ideia a destacar é o claro benefício que a Web tem para a missão da Igreja e a sua relevância para a formação dos cristãos. Mas, para isso, pressupõe-se uma compreensão mais profunda desta nova etapa cultural em que vivemos, a denominada sociedade em rede. Aqui, para os cristãos, a comunhão e a sua expressão na autêntica cultura do encontro (Cf. EG 220) é, seguramente, um dos maiores desafios.
O que o mundo digital evidencia, antes de mais, é a natureza comunicativa do ser humano, pois só ele é capaz de assumir e negociar relações complexas e ambientes sociais[2]. Mas a história da Web recorda-nos um detalhe interessante: comunicar é interagir, criar relação[3]. A vontade de comunicar faz com que o indivíduo não se limite a ser um receptor (Web 1.0), antes deseje interagir (Web 2.0), pelo que a capacidade de interação, de criar e manter relações, se tornou a característica-chave da Web 2.0. Dos mass media, passamos para os cross media.
Este fenómeno leva a uma nova compreensão das categorias de tempoespaço, bem como à assunção de novas linguagens e de novos significados, de um novo universo semântico. Muitas das palavras do mundo digital resultam de processos de ressignificação linguística (e.g. amizade), e inclusive algumas com ressonâncias na gramática religiosa, como seja o caso dos termos “salvar”, “justificar” ou ainda “converter”[4]. A comunicação é um bem de primeira necessidade para o Cristianismo, pois sem comunicar a Igreja não realiza a sua missão.


[1]Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, «Igreja e Internet», in L’Osservatore Romano, ed. em português, 16 de março de 2002, 5.
[2]Cf. K. AlbrechtSocial Intelligence: The new Science of Sucess, ed. Jossey-Bass, San Francisco 2006, 211-215.
[3]Cf. P. Watzlawick, et al, Pragmática da comunicação humana. Um Estudo dos Padrões, Patologias e Paradoxos da Interação, ed. Cultrix, São Paulo 19939,20-35.
[4]Cf. A. SpadaroCyberteologia. Pensare il cristianismo al tempo della rete[eBook],ed. Vita e Pensiero, Milano 2012,22-24.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *