A simplicidade, então, não é ausência, mas presença. É um modo de estar na vida que nos devolve o essencial. Quem aprende a valorizar o quotidiano encontra uma alegria que não depende do ter, mas do ser.

Viver com simplicidade é um ato de resistência num mundo que nos empurra para a pressa, o consumo e a distração. A vida simples não é um refúgio cómodo, mas uma escolha consciente de valorizar o que nos rodeia, de cultivar a proximidade, o silêncio e o encontro. Não se trata de ter menos, mas de ser mais: mais atento, mais presente, mais humano. Como nos lembra o Papa Francisco, «a sobriedade, vivida livre e conscientemente, é libertadora» (Laudato Si’, 223).
A simplicidade pede um olhar renovado sobre o quotidiano. O aroma de um café pela manhã, o som da chuva na janela, a luz que dança sobre a mesa – tudo isto é vida a acontecer, dons que passam despercebidos na busca incessante pelo extraordinário. Mas, como nos recorda Francisco, a vida autêntica ganha um redobrado sabor quando cada ligação interpessoal é vista como «uma oportunidade extraordinária de diálogo, encontro e intercâmbio entre as pessoas» (cf. Christus Vivit, 87). O que há de mais belo está no que é real, próximo, concreto. É preciso aprender a ver melhor, a afinar os sentidos, a respirar com consciência, a trabalhar com sentido. Cuidar da casa, do nosso jardim, das relações: eis o verdadeiro caminho da plenitude.
A espiritualidade autêntica não é feita de excessos ou teatralidade, mas de um testemunho de vida simples, onde a fé se traduz em gestos concretos. O próprio Cristo escolheu a simplicidade para nos ensinar o essencial, para mostrar que a grandeza está no serviço, na partilha, na humildade. A vida espiritual não se mede pelo muito que se faz, mas pela autenticidade com que se vive.
Francisco desafia-nos a esta vivência essencial: «A espiritualidade cristã propõe uma forma alternativa de entender a qualidade de vida, encorajando um estilo de vida profético e contemplativo, capaz de gerar profunda alegria sem estar obcecado pelo consumo» (Laudato Si’, 222). A oração e a ação andam de mãos dadas: é impossível estar em comunhão com Deus sem se preocupar com os pobres, os excluídos, os que sofrem. Orar por eles é importante, mas não basta: é «inseparável a oração a Deus e a solidariedade com os pobres e os enfermos» (Francisco, Dia Mundial dos pobres, 2020). A verdadeira espiritualidade move-nos, coloca-nos a caminho, empurra-nos para a transformação pessoal e social.
Mais do que nunca, somos chamados a deixar que os movimentos sociais e ecológicos nos interpelem. O compromisso com a criação, com a justiça e com o outro faz parte da fé que professamos: tudo está interligado! Não podemos falar de Deus e ignorar o clamor da Terra, não podemos querer encontrar Cristo e virar as costas aos que sofrem.
Viver com simplicidade é também comunicar com simplicidade. Num tempo de ruído e superficialidade, é preciso encontrar as pessoas onde elas estão, escutá-las como são. A comunicação verdadeira não se baseia em estratégias ou discursos técnicos, mas na empatia e no calor humano. Há uma “fome de histórias”, porque são elas que dão sentido à vida, que nos ajudam a compreender quem somos.
Francisco insiste nisto: «A comunicação tem de estar ao serviço de uma cultura do encontro» (Francisco, Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, 2014). As palavras que realmente tocam são as que nascem da verdade e da proximidade. Contar histórias não é um luxo, mas uma necessidade, porque são as histórias que moldam a nossa memória, que nos ligam uns aos outros, que dão voz aos que, muitas vezes, são silenciados. A simplicidade na comunicação é saber falar ao coração, sem máscaras, sem ruído, sem distrações. É contar a verdade, sem manipulação.
A simplicidade, então, não é ausência, mas presença. É um modo de estar na vida que nos devolve o essencial. Quem aprende a valorizar o quotidiano encontra uma alegria que não depende do ter, mas do ser. A verdadeira liberdade não está em acumular, mas em desprender-se. Em olhar o que nos rodeia com gratidão. Em aprender a saborear o momento presente. Em escolher o que vale a pena. A simplicidade é, antes de tudo, um caminho de amor: pelo outro, pelo mundo, por Deus.