A propósito, ou não, d«O último segredo»

Ando há dias a terminar de ler um romance «A Alma das Pedras», de Paloma Sanchez-Garnica. Este romance versa sobre a relação entre as peregrinações a Santiago de Compostela e o culto velado ao herege Pelágio.
Logo que termine, vou ler «O último segredo» de José Rodrigues dos Santos.
Quem me conhece, poderá pensar: aquele homem não tem mais que fazer? Tanta literatura boa e anda por ali. Bom, também ando por aqui! Estes tipos de romances, de que o Código de Da Vinci é um bom ícone, são uma expressão de uma certa cultura pseudo-religiosa, que existe e está na mente e coração dos nossos contemporâneos, a quem devo, como crente, propor o sempre novo Evangelho. Daí que esta leitura é uma forma de conhecer e pensar sobre os modos como hoje o ‘religioso’ e as religiões são vistas.
Andava eu nestes pensamentos, quando vejo o texto do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura que transcrevo. É bom ouvir quem sabe, mesmo que queiramos fazer a experiência de «ir lá».

Uma imitação requentada: Nota sobre o romance “O último segredo”, de José Rodrigues dos Santos

O romance de José Rodrigues dos Santos, intitulado “O último segredo”, é formalmente uma obra literária. Nesse sentido, a discussão sobre a sua qualidade literária cabe à crítica especializada e aos leitores. Mas como este romance do autor tem a pretensão de entrar, com um tom de intolerância desabrida, numa outra área, a história da formação da Bíblia por um lado, e a fiabilidade das verdades de Fé em que os católicos acreditam por outro, pensamos que pode ser útil aos leitores exigentes (sejam eles crentes ou não) esclarecer alguns pontos de arbitrariedade em que o dito romance incorre.

1. Em relação à formação da Bíblia e ao debate em torno aos manuscritos, José Rodrigues dos Santos propõe-se, com grande estrondo, arrombar uma porta que há muito está aberta. A questão não se coloca apenas com a Bíblia, mas genericamente com toda a Literatura Antiga: não tendo sido conservados os manuscritos que saíram das mãos dos autores torna-se necessário partir da avaliação das diversas cópias e versões posteriores para reconstruir aquilo que se crê estar mais próximo do texto original. Este problema coloca-se tanto para o Livro do Profeta Isaías, por exemplo, como para os poemas de Homero ou os Diálogos de Platão. Ora, como é que se faz o confronto dos diversos manuscritos e como se decide perante as diferenças que eles apresentam entre si? Há uma ciência que se chama Crítica Textual (Critica Textus, na designação latina) que avalia a fiabilidade dos manuscritos e estabelece os critérios objetivos que nos devem levar a preferir uma variante a outra. A Crítica Textual faz mais ainda: cria as chamadas “edições críticas”, isto é, a apresentação do texto reconstruído, mas com a indicação de todas as variantes existentes e a justificação para se ter escolhido uma em lugar de outra. O grau de certeza em relação às escolhas é diversificado e as próprias dúvidas vêm também assinaladas.
Tanto do texto bíblico do Antigo como do Novo Testamento há extraordinárias edições críticas, elaboradas de forma rigorosíssima do ponto de vista científico, e é sobre essas edições que o trabalho da hermenêutica bíblica se constrói. É impensável, por exemplo, para qualquer estudioso da Bíblia atrever-se a falar dela, como José Rodrigues dos Santos o faz, recorrendo a uma simples tradução. A quantidade de incorreções produzidas em apenas três linhas, que o autor dedica a falar da tradução que usa, são esclarecedoras quanto à indigência do seu estado de arte. Confunde datas e factos, promete o que não tem, fala do que não sabe.

2. Chesterton dizia, com o seu notável humor, que o problema de quem faz da descrença profissão não é deixar de acreditar em alguma coisa, mas passar a acreditar em demasiadas. Poderíamos dizer que é esse o caso do romance de José Rodrigues dos Santos. A nota a garantir que tudo é verdade, colocada estrategicamente à entrada do livro, seria já suficientemente elucidativa. De igual modo, o apontamento final do seu romance, onde arvora o método histórico-crítico como a única chave legítima e verdadeira para entender o texto bíblico. A validade do método de análise histórico-crítica da Bíblia é amplamente reconhecida pela Igreja Católica, como se pode ver no fundamental documento “A interpretação da Bíblia na Igreja Católica” (de 1993). Aí se recomenda o seguinte: «os exegetas católicos devem levar em séria consideração o caráter histórico da revelação bíblica. Pois os dois Testamentos exprimem em palavras humanas, que levam a marca do seu tempo, a revelação histórica que Deus fez… Consequentemente, os exegetas devem servir-se do método histórico-crítico». Mas o método histórico-crítico é insuficiente, como aliás todos os métodos, chamados a operar em complementaridade. Isso ficou dito, no século XX, por pensadores da dimensão de Paul Ricoeur ou Gadamer. José Rodrigues dos Santos parece não saber o que é um teólogo, e dir-se-ia mesmo que desconhece a natureza hipotética (e nesse sentido científica) do trabalho teológico. O positivismo serôdio que levanta como bandeira fá-lo, por exemplo, chamar “historiadores” aos teólogos que pretende promover, e apelide apressadamente de “obras apologéticas” as que o contrariam.

3. A nota final de José Rodrigues dos Santos esconde, porém, a chave do seu caso. Nela aparecem (mal) citados uma série de teólogos, mas o mais abundantemente referido, e o que efetivamente conta, é Bart D. Ehrman. Rodrigues dos Santos faz de Bart D.Ehrman o seu teleponto, a sua revelação. Comparar o seu “Misquoting Jesus. The Story Behind who Changed the Bible and Why” com o “O Último segredo” é tarefa com resultados tão previsíveis que chega a ser deprimente. Ehrman é um dos coordenadores do Departamento de Estudos da Religião, da Universidade da Carolina do Norte, e um investigador de erudição inegável. Contudo, nos últimos anos, tem orientado as suas publicações a partir de uma tese radical, claramente ideológica, longe de ser reconhecida credível. Ehrman reduz o cristianismo das origens a uma imensa batalha pelo poder, que acaba por ser tomado, como seria de esperar, pela tendência mais forte e intolerante. E em nome desse combate pelo poder vale tudo: manobras políticas intermináveis, perseguições, fabricação de textos falsos… Essa luta é transportada para o interior do texto bíblico que, no dizer de Ehrman, está texto repleto de manipulações. O que os seus pares universitários perguntam a Ehrman, com perplexidade, é em que fontes textuais ele assenta as hipóteses extremadas que defende.

4. Resumindo: é lamentável que José Rodrigues dos Santos interrogue (e se interrogue) tão pouco. É lamentável que escreva centenas de páginas sobre um assunto tão complexo sem fazer ideia do que fala. O resultado é bastante penoso e desinteressante, como só podia ser: uma imitação requentada, superficial e maçuda. O que a verdadeira literatura faz é agredir a imitação para repropor a inteligência. O que José Rodrigues dos Santos faz é agredir a inteligência para que triunfe o pastiche. E assim vamos.
Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
© SNPC | 23.10.11

Credo Missionário

1 – Cremos que Deus nos chamou e nos enviou a anunciar o Evangelho
      de seu Filho a todos os pontos da terra.
2 – Cremos que todos os baptizados, membros da Igreja, são
       missionários e missionárias por vocação.
3 – Cremos que a missão é a resposta ao plano de Deus, que no seu
        imenso amor e vontade, quer que todos conheçam a Verdade.
4 – Cremos que a vontade de Deus é que todos acreditem em Jesus Cristo
       Seu único Filho, se salvem e tenham a vida eterna.
5 – Cremos que podemos ser missionários sem sair da nossa aldeia ou
       da cidade, pois o nosso país é terra de missão.
6 – Cremos que como seguidores de Cristo, devemos comportar-nos
       de maneira firme e digna da vocação a que fomos chamados.
7 – Cremos que o mundo necessita de ver e sentir o nosso testemunho
       de amor, de esperança e de alegria por sermos cristãos.
8 – Cremos que o Espírito Santo nos dará energia, vontade e imaginação
       para lutar contra a corrente adversa e enfrentar perseguições.
9 – Cremos que os cristãos, tal como Jesus, são chamados a caminhar na
       História ao lado de todos os que sofrem.
10 – Cremos que a Virgem Maria caminha connosco, transmitindo ao
         nosso coração o que disse nas Bodas de Cana: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.
   (Arranjo de Artur Soares)

La Ultima Cima

Eu conheci Pablo Dominguez!
Cada vez gosto mais de ter estado em «San Dámaso» e pela primeira vez dei valor ao Diploma que me deram: ele era o Decano de Teologia!

Meta-carta a Deus (endereço desconhecido)

A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo. Quando verei aquele de que tenho tanta sede? As lágrimas são o meu pão de dia e de noite, eu que todo o tempo ouço perguntar. – onde está o teu Deus? (SI 41, 1-4)

1. Quase já não escrevo cartas. Respondo a chamadas telefónicas; respondo, se não suspeito da fonte, aos chamados que me chegam do céu (electrónico). Escrever, até pela dificuldade que teriam os destinatários em decifrar os gatafunhos em que inconscientemente entrei, tornou-se raro. Há desvios e perdas de correio por culpa (minha) da letra. E aqui começa o problema: faz parte do destino da carta perder-se, extraviar-se. Há uma fórmula que adverte para esse extravio: atopos ho Théos.
Esta fórmula diz que nem o sagrado nem o numinoso são Deus. «Onde moras?», perguntam aqueles a quem a palavra é dirigida em primeiro lugar (Jo 1, 36) e que seguem aquele que não tem sequer uma pedra onde repousar a cabeça. Outro problema: o do destinatário. Acontece-nos escrever não sabendo se aquele a quem escrevemos ainda vive. F. Nietzsche traçou um primeiro prognóstico em 1886: «O acontecimento recente mais importante é este: Deus morreu.» E se mudou de morada, se não está disposto a responder-me? As cartas ao Pai Natal são de negócio e fingimento, não são cartas de amor. Deus vem de Deus, de graça, não vou por aí. Escrever só para pedir é mesquinho. Também não enviarei uma carta ao Javé ou ao Deus teológico (Jesus Cristo) de H. Bloom que, pelos vistos, nem sequer se conhecem. Sei, porém, que toda a escrita é uma prática do espaço (do desejo e da página em branco). Sei que “a linguagem se ouve mas que o pensamento se vê”  (Agostinho di-lo no De Trinitate). A palavra cruza-se no espaço do que escreve, do que joga, do que vê. Sei que a Deus se vai com palavras, mesmo sabendo que o drama da interlocução se instalou entre os humanos e que o sentido (da língua) se pode tornar uma impostura. A teologia da de Deus, mas, ao mesmo tempo, fala de um Deus que fala aos humanos, supostamente capazes de lhe dar o seu assentimento, revelando-os a si mesmos a partir de um horizonte «não mundano», logorreico, da palavra. Lactâncio dizia que Deus, por ser um Deus vivo, está sempre em movimento, é capaz de adfectus, de paixão, e que é portanto capaz e amor e de cólera. Este é também o ponto de vista de Bernardo Soares: «Onde está Deus, mesmo que não exista?… um regaço para chorar, mas um regaço enorme sem forma, espaçoso, como uma noite de verão e contudo próximo, quente, feminino, ao pé de uma lareira qualquer… Poder ali chorar coisas impensáveis, falências que nem sei quais são, ternuras de coisas inexistentes, e grandes dúvidas arrepiadas de não sei que futuro… ». Um Deus feminino, à maneira de Juliana de Norwich é um Deus a quem mais facilmente se vai. Se, como afirma Tertuliano: «Nada é, se não é um corpo. Nada é incorpóreo.», Deus há-de ter um corpo, logo há-de ouvir, falar, sentir.
Os pressupostos para falar (escrever) parecem desanuviar-se.
2. Reconhece-se a palavra pelos seus efeitos no corpo. O Teu nome está escrito no meu corpo como memória e futuro. Começo, pois a escrever-Te, porque, ao contrário de Kierkegaard que Te pensava imutável, eu creio que a minha (fala) escrita Te move e Te comove. Ao Deus causa sui ninguém pode rezar nem dançar. Aos místicos é o indizível que lhes dá o poder de falar. E a entrar, tem de ser pela roda da enunciação: eu, aqui e agora, escrevo-Te. Escrevo-Te com o punhado de palavras que me habita para dizer o mais além de mim que passa também pela treva luminosa das palavras e pelo fascínio dos nascimentos novos. A palavra é, de raiz, messiânica. Escrevo porque espero O teu advento. Escrevo para celebrar o Teu Nome, ao desabrigo dos nomes. Contra a idolatria conceptual que Te congelou no tempo. Contra o velho e cínico humanismo e o seu sonho demiúrgico de em tudo dar ao homem um trono e um altar. Escrevo para afirmar, não apenas para dizer os limites da linguagem ou a besta imunda que evoca o teu Nome para matar e torturar e vigiar. Creio, sim, que o nome que melhor Te convém continua a ser este: Amor.
Ou este outro: Misericórdia. Nunca Te vi, Deus abscondítus, apenas Te pressinto no olhar aflito ou alegre dos passantes. Apenas te pressinto na palavra, que é um vivo. Ou na pujança que move o mundo. Sim, o olhar transporta. O sentido é transpositivo. A palavra é legião: sei que não falo no deserto, alucinado e estéril. O magnificat é a forma mais jubilosa de ver o mundo como um milagre, de assistir à primavera, aos nascimentos e até às despedidas. Creio que Tu és o Verbo que se fez carne em Jesus e que habitou entre nós (Jo 1, 14). Porque não sei falar (escrever-Te) só queria mostrar as feridas das palavras varridas pela areia dos dias com que Te escrevo. Espero que, chegando à Páscoa, chegarei à palavra plena. Vou deixar de querer ver-Te: o Teu olhar me basta. Para os amantes, escrever foi sempre dizer: “Vem”! Que outra coisa poderia eu querer, escrevendo-Te?
Nasceu para o Céu a 5 de Maio 2011.

YOUCAT – Catecismo Jovem da Igreja Católica

Acabei de passar algum tempo com o YOUCAT nas mãos. Está muito bonito, agradável, sintético e incisivo!
O Catecismo, seja ele qual for, é sempre jovem, porque a sua jovialidade e beleza vêm da adesão a Jesus Cristo, que é sempre jovem: cheio de novidade, encanto e vida.
Mas esta edição, coordenada pelo Cardeal Christoph Schoenboorn, actual Arcebispo de Viena, está com uma redacção e grafismo muito agradável. O facto de este Cardeal ter sido o Secretário Geral do Catecismo da Igreja Católica dá-nos a certeza de esta edição destinada aos jovens, par além dos conteúdos, mantém a dinâmica interna do CCE.
A editora Paulus, que o edita em Portugal, além de o traduzir adaptou-o também ao nosso contexto, através da escolha de imagens ‘portuguesas’.
Mas mais do que o que eu diga, vejamos excertos a obra aqui.