Chuva
Dedico a todos aqueles que me marcam a alma…
Às alegrias que me fazem viver e àqueles que fazem sofrer, por não me conseguirem fazer esquecer que eles não são tudo.
As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir
Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir
São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder
Há dias que marcam a alma
e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste
não posso esquecer
A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera
Ai… meu choro de moça perdida
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera
A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade
Hallelujah
Dedicada aos Heróis que estão a fazer o Curso Geral de Catequese, na Arquidiocese de Braga.
I heard there was a secret chord
That David played and it pleased the lord
But you don’t really care for music do ya
It goes like this, the fourth the fifth
The minor fall and the major lift
The baffled king composing, hallelujah
Hallelujah, hallelujah, hallelujah, hallelujah
Your faith was strong but you needed proof
You saw her bathing on the roof
Her beauty and the moonlight overthrew ya
She tied you to her kitchen chair
She broke your throne, and she cut your hair
And from your lips she drew the hallelujah
Hallelujah, hallelujah, hallelujah, hallelujah
Well, maybe there’s a God above
But all I ever learned from love
Was how to shoot at somebody who outdrew ya
And it’s not a cry that you hear at night
It’s not somebody who’s seen the light
It’s a cold and it’s a broken hallelujah
Hallelujah …
Poema do Homem Só
Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.
Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem
Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nehum ser nós se transmite.
Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.
Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.
Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarçe,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém.
António Gedeão
Poema do Homem Só
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.
Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem
Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nehum ser nós se transmite.
Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.
Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.
Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarçe,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém.
António Gedeão
Open Educational Resources: Conversations in Cyberspace
Editada por Susan D’Antoni and Catriona Savage
Os sistemas de educação hoje enfrentam dois grandes desafios: ampliar o alcance da educação e a melhoria da sua qualidade. As soluções tradicionais não são suficientes, nomeadamente no contexto da actual sociedade do conhecimento intensivo.
O objectivo do movimento Open Educational Resources (OER) é permitir o acesso ao conhecimento mundial através, de forma aberta e livre, da disponibilização online de conteúdos com grande qualidade.
A UNESCO tem contribuído para a sensibilização sobre este movimento, facilitando uma ampla discussão no ciberespaço. Durante um período de dois anos, uma grande e diversificada comunidade internacional discutiu o conceito e as potencialidades dos OER numa série de fóruns on-line.
O fundo documental e relatórios já estão disponíveis em versão impressa. Open Educational Resources: Conversations in Cyberspace fornece uma visão geral dos primeiros passos desta excitante desenvolvimento: ele capta as conversas entre os líderes de alguns dos primeiros projectos OER e a documentação dos debates sobre as questões que continuam a desafiar o movimento. A publicação pretende fomentar a reflexão de todos aqueles que estão envolvidos nos por OER: as suas potencialidades e os seus progresso.
Cursos on-line – Um sonho!!
Foi com grande alegria que descobri estes cursos na web.
Ambientes Pessoais de Aprendizagem
Artigo realizado na UC Modelos de Ensino à Distância, do Mestrado em Pedagogia do E-Learning, da Universidade Aberta, no âmbito da qual este trabalho foi realizado, sob orientação da Docente, Prof. Doutora Lina Morgado.
Resumo
Neste artigo faz-se uma aproximação ao conceito de Ambiente Pessoal de Aprendizagem, também denominado PLE (Personal Learning Environment). Esta aproximação faz-se um pouco pela contraposição com os clássicos LMS’s (Learning Management System). O PLE centra-se no aprendente que utilizará um agregado de ferramentas, que personalizará de acordo com as suas preferências e necessidades. Esta realidade dá ao aprendente o controle da sua aprendizagem, quer num contexto pontual, quer na aprendizagem ao longo da vida.
Por que este é um conceito ainda recente, é compreensível que haja alguma disparidade e até divergência no modo como se percebe, constrói e acolhe ferramentas que suportem este modo de aprender. Razão pela qual este artigo aborda aquelas que deverão ser, no nosso entender e de acordo com a literatura disponível, os serviços que deverão estar presentes nas ferramentas adoptadas ou a adoptar pelo aprendente.
Palavras-chave:
Personal Learning Environment, PLE, Aprendizagem.
Metodologia
Analisámos alguma literatura relativa a aos Ambientes Pessoais de Aprendizagem.
Introdução
Os PLE (Personal Learning Environment – Ambiente Pessoal de Aprendizagem) são recursos que pretendem ajudar o aprendente a ter o controlo e a gerir a sua aprendizagem. Para que isso seja possível: os aprendentes podem definir os seus objectivos de aprendizagem; realizar a gestão da aprendizagem, através da gestão de conteúdos e de processos; e comunicar com outros participantes no processo de aprendizagem. Por isso, de acordo com a literatura disponível, o conceito de PLE representa o mais recente passo evolutivo para uma aprendizagem centrada, não na instituição, mas no aluno.
“representa, de certa forma, o convergir de muitos dos aspectos que temos vindo a referir no que toca às mudanças sociais e culturais provocadas pelo desenvolvimento tecnológico, nomeadamente com a Web 2.0, e que acabam por ter, inevitavelmente, um forte impacto na educação e na concepção da aprendizagem. Os PLEs representam, se quisermos, uma busca para operacionalizar nestas áreas os princípios do e-Learning 2.0, do poder e autonomia do utilizador / aprendente, da abertura, da colaboração e da partilha, da aprendizagem permanente e ao longo da vida, da importância e valor da aprendizagem informal, das potencialidades do software social, da rede como espaço de socialização, de conhecimento e de aprendizagem”[José Mota (6-2009) – Da Web 2.0 ao e-Learning 2.0: Aprender na Rede].
Ambiente Pessoal de Aprendizagem
Quando Ron Lubensky[Ron Lubensky, The present and future of Personal Learning Environments (PLE), Disponível em https://www.deliberations.com.au/2006/12/present-and-future-of-personal-learning.html. [Acedido em 07-07-2009]], em 2006, ensaia uma definição diz que “um Ambiente Pessoal de Aprendizagem é uma iniciativa para que um indivíduo aceda, agregue, configure e manipule artefactos digitais das suas experiências de aprendizagem”.
Na sua definição, Ron Lubensky procura congregar alguns aspectos aglutinadores da identidade dos PLEs. Refere, e passo a transcrever, que:
1. Os PLEs são controlados pelo indivíduo e depois separados de portais institucionais como Ambientes de Aprendizagem Virtuais (VLE) universitários ou Plataformas de Ensino (LMS) profissionais, para os quais os objectivos de construção correspondem às exigências institucionais.
Os artefactos geridos através dos PLEs incluem os recursos digitais e referências com as quais os indivíduos preferem interagir de momento e talvez recordar no futuro. Os recursos incluem não só texto estático e multi-média mas também serviços dinâmicos e seus artefactos, tais como mensagens instantâneas, fóruns on-line e entradas de blogues. Embora um ePortfolio contenha observações actuais sobre o objectivo da reflexão, avaliação e auto-promoção, o PLE inclui um repositório maior que também inclui ligações e comentários para os três propósitos.
2. O principal objectivo de um PLE para um indivíduo é o de reunir todos os diferentes artefactos de interesse para a aprendizagem. O pressuposto é que existem muitos artefactos, organizá-los é demorado e é fácil esquecê-los. O objectivo dos PLEs é simplificar a gestão destes artefactos, criar sentido através da agregação, ligação e etiquetagem através de meta-dados (p. ex: comentários, palavras-chave).
3. Um PLE integra-se com serviços digitais que o indivíduo subscreve. Podem ser os LMSs universitários, os CMSs do trabalho ou uma colecção de serviços da denominada Web 2.0, como o bookmarking social ou partilha de fotografias.
4. Um PLE engloba as várias experiências de aprendizagem que um indivíduo subscreve durante a sua vida. Os estudantes do liceu operam o seu próprio PLE, ligando-o ao Ambiente de Ensino Virtual (Virtual Learning Environments) da escola. Quando entram na universidade, pode ser ligado ao da universidade. Entrando numa actividade profissional, o indivíduo pode então ligar o PLE à aprendizagem empresarial e a funcionalidades de desenvolvimento profissional. Ao mesmo tempo, o indivíduo pode escolher ligar-se individualmente a uma crescente vaga de serviços da Web 2.0 que possam ser úteis para fomentar o crescimento e aprendizagem pessoal.
Graficamente, podemos ver como os PLE’s se situam na intersecção da VLEs, Web 2.0 e uma vista expandida da ePortfolios.
PLE vs LMS
Para se poder perceber o modo como os PLEs vão sendo adoptados, é preciso compreender a sua evolução, nomeadamente por comparação com os LMS’s e VLE’s. Estes tendem a perpetuar o modelo de instrução tradicionalista da educação, onde o objectivo principal dos sistemas é organizar conteúdos de cursos para transmissão a alunos matriculados, com um grande controlo por parte das instituições.
“Poucos VLEs fornecem áreas de partilha de ficheiros e funcionalidades de colaboração como conversação e fóruns de discussão. Nas universidades, os VLEs geralmente servem como gateways seguros para índices digitais e relatórios de pesquisa. A não ser que os estudantes copiem manualmente os materiais da área do VLE, todos os indícios da sua experiência de aprendizagem são perdidos após a conclusão dos seus estudos”[Idem].
O conceito de PLE surgiu um pouco como resposta aos constrangimentos dos LMS, vistos muitas vezes como limitadores da aprendizagem. Acresce ainda o facto de o acesso a outros recursos Web serem vistos, muitas das vezes, como uma ameaça às instituições, em vez de serem encarados como uma vantagem. Contudo, as reflexões sobre os PLEs surgiram também pela assumpção da existência de oportunidades reais de aprendizagem com muitos dos serviços da WEB 2.0.
Vejamos graficamente o conceito de PLE [Imagem retirada de Scott Leslie – A Collection of PLE diagrams].
Podemos, então, dizer que os PLEs se centram nos aprendentes, ao passo que os LMS se centram mais na instituição e nas suas necessidades de organizar e controlar todo o processo.
Operacionalização
Quando o aprendente pretende construir o seu PLE espera-se que utilize um conjunto de serviços unificado, que ele personaliza de acordo com os seus objectivos e necessidades. Com isso, consegue-se que o aprendente tenha um grande controlo e liberdade para colaborar com outros aprendentes, na utilização de recursos.
Porque esta realidade ainda é muito nova, e porque não há uma ferramenta por nós conhecida que se possa chamar a ferramenta de apoio por exelência, vamos propor um modelo referência que adoptámos, de Milligan et al.[Milligan, Colin; Beauvoir, Phil; Johnson, Mark; Sharples, Paul; Wilson, Scott; & Liber, Oleg. (2006). Developing a reference model to describe the personal learning environment. Disponível em https://www.box.net/public/nuc1azcray [Acedido em 12-07-2009]]. Procura definir o conjunto de serviços e ferramentas que o aprendente precisa para interagir com os serviços de um PLE.
Depois de uma vasta pesquisa, os autores identificaram um conjunto de serviços que deverão estar presentes num PLE:
* Gestão da Actividade (Activity Management) – este serviço fornece uma função de coordenação para grupos, gerindo a interacção com uma actividade. Facilita a adesão a grupos e a sua desanexação, bem como contribuir e aceder a recursos.
* Fluxo de Trabalho (Workflow) – um serviço deste tipo coordena o estado de um recurso como, por exemplo, uma actividade de aprendizagem, processando os eventos relativos aos utilizadores e reportando informação relativa às modificações desse recurso.
* Sindicância (Syndication) – facilita a descoberta e a contextualização de recursos.
* Publicação (Posting) – permite a apresentação de recursos.
* Grupo (Group) – fornece a informação sobre a composição dos grupos.
* Classificação, Anotação e Recomendação (Rating, Annotating, and Recommending) – em conjunto, estes serviços suportam uma grande variedade de actividades, desde a simples classificação até ao fornecimento de informação de retorno, relativa a um conteúdo específico.
* Presença (Presence) – permite indicar a disponibilidade de um utilizador e propagar este estado.
* Perfil Pessoal (Personal Profile) – permite ao utilizador manter um perfil pessoal (ou vários) e partilhar esta informação com outros quando necessário ou desejado.
* Exploração e Percursos (Exploration and Trails) – permite a partilha de percursos, através dos conteúdos.
O Modelo de Referência do PLE constitui um mínimo de serviços identificados, que se articulam e pressupõem uma série de padrões prévios, analisados pelos autores citados. Mas vejamos graficamente o Modelo[Imagem retirada de Milligan et el. Ibidem].
Considerações Finais
Depois deste breve recorrido, consideramos poder afirmar que os PLE são uma realidade a ter bem em conta no futuro da educação, quer pela possibilidade de expandir o campo da aprendizagem durante o tempo formal de aprendizagem, quer pela possibilidade de apoiar e possibilitar a aprendizagem ao longo da vida. A isto acresce a mais-valia de um PLE poder acompanhar o indivíduo ao longo da vida, das suas transições académicas, profissionais e pessoais.
Tendo presente as mudanças culturais, assentes na Web, nomeadamente a 2.0, os PLE também respondem e são potenciadores desta mudança de paradigma cultural, o que postula uma compreensão atenta desta realidade.
Bibliografia
- Fridolin Wild, Felix Mödritscher, Steinn Sigurdarson – Designing for Change: Mash-Up Personal Learning Environments. Disponível em https://www.elearningeuropa.info/files/media/media15972.pdf. [Acedido a 15-07-2009].
- José Mota (6-2009) – Da Web 2.0 ao e-Learning 2.0: Aprender na Rede. Dissertação de Mestrado, Versão Online, Universidade Aberta. Disponível em https://orfeu.org/weblearning20/. [Acedido a 16-07-2009].
- Mohamed Amine Chatti – LMS vs. PLE, disponível em https://mohamedaminechatti.blogspot.com/2007/03/lms-vs-ple.html. [Acedido a 15-07-2009].
- Ron Lubensky – The present and future of Personal Learning Environments (PLE), Disponível em https://www.deliberations.com.au/2006/12/present-and-future-of-personal-learning.html. [Acedido a 07-07-2009].
- Sandra Schaffert, Wolf Hilzensauer – On the way towards Personal Learning Environments: Seven crucial aspects. Disponível em https://www.elearningeuropa.info/files/media/media15971.pdf. [Acedido a 15-07-2009].
- Scott Leslie – A Collection of PLE diagrams. Disponível em https://edtechpost.wikispaces.com/PLE+Diagrams. [Acedido em 15-07-2009].
Uma anciã chamada Igreja
Todos desejaríamos que a Igreja fosse jovem, forte, vigorosa, ousada, criativa, primaveril, atraente… mas nós a encontramos cansada, pressionada, silenciosa, medrosa, quase muda. Parece-nos muito velha, às vezes quase tememos que tenha Alzheimer: recorda o passado, repete-o, mas parece que o que ocorre no momento lhe escapa, é quase míope para compreender as novas luzes que brilham e que exigem resposta. Outras vezes nos parece surda, não escuta os gritos e o vozerio de um mundo agitado e turbulento.
Os jovens a abandonam cansados de ver seu estado deplorável; tão calada, tão passiva, tão torpe, tão pouco acolhedora. Outros a atacam violentamente, ferem-na, inclusive anunciam sua morte próxima: “é questão de tempo, é do passado, é uma relíquia anacrônica, é um objeto de antiquário”. Outros querem rejuvenescê-la com técnicas artificiais, antioxidantes, contra as rugas. Mas ela não se deixa. Outros a vêem suja, manchada, descuidada, abandonada, desprezada, como se ninguém cuidasse dela, tentando ajudá-la com carinho, é tão velha a pobre…
Mas ela fica calada, medita em seu interior, recorda o passado, quando era jovem e pobre, quando a perseguiram, quando a coroaram como rainha e mestra, quando a uniram a príncipes e reis, quando todos diziam ser seus filhos. E ela sorri, pois sempre quis ser como no começo, fiel ao Espírito, singela, pobre, transparente, aberta a todos, fecunda, livre, evangélica, como seu Esposo, o Senhor. Agradece a seus filhos que quiseram que ela voltasse às suas origens, aos seus filhos fiéis, que nunca procuravam seu próprio proveito senão o do Senhor.
É sábia, cheia de experiência, experiente em humanidade, sabe que há primaveras e também invernos; agora é inverno. Muitos se afastam dela escandalizados, mas sabe que depois do inverno virá o verão, tem boa memória. Não tem medo, tempos melhores virão, haverá filhos proféticos e corajosos que lhe devolverão o brilho evangélico de suas origens; tornar-se-á pobre, evangélica e pascoal. Tem paciência, espera, não se desanima, o Senhor, seu Esposo, está ausente, mas voltará; enquanto isso possui a presença vivificante de seu Espírito.
Ela é muito antiga, tem séculos de história, dos tempos de Adão, Abel, como os velhos Santos Padres pressentiram e por isso a chamaram de “anciã”. Os impérios passam, reis e ditadores cairão, mas ela continua firme, silenciosa, com passo lento, caminhando para um fim sem ocaso. Espera sempre, sabe que o Senhor falou de sementes pequenas, mas que crescem, de pouco fermento, mas que fará a massa crescer, sabe também que o joio está com o trigo, por isso não quer arrancá-lo, pois todas as vezes que seus filhos tentaram fazer isso inquisitorialmente, foi um fracasso. Prefere usar a misericórdia, a paciência, o entendimento, o perdão e a indulgência, a excomungar e lançar anátemas.
Não quer pressionar, não quer forçar nada como alguns gostariam, não pretende ser cada vez mais numerosa e forte, não deseja ser poderosa e rica, pois os que isso queriam arruinaram-na. Não pretende saber tudo, não quer dar normas a todos, como alguns fizeram em outros tempos e ainda querem que continue fazendo agora. Ela prefere dialogar, mas muitos de seus filhos têm medo do diálogo. Os tempos mudaram, ela prefere silenciar, oferecer a água pura de sua verdade como as fontes dos povoados que oferecem água ao sedento, sem obrigar ninguém a beber. Quer abrir janelas, sacudir o pó de imperadores e reinos passados, quer respirar ares novos repletos de oxigênio mesmo sendo muito velha, mas muitos fecham apressados suas janelas, “com medo de que a velha se resfríe…”
Ainda que pareça silenciosa, muda e surda, no fundo escuta uma voz interior que lhe sussurra palavras de vida eterna. Quando nos parece cega, na realidade tem os olhos voltados para dentro, para o Senhor, seu Esposo que lhe dá força, dá-lhe seu Espírito para que nunca se desanime, não decaia, não perca a esperança, para aprender a viver novos tempos. Ainda deve percorrer um longo caminho, como aconteceu ao velho e cansado Elías no deserto.
Parece sofrer Alzheimer, mas na realidade o que ela quer é que nós a cuidemos, como um esposo carinhoso que cuida de sua esposa enferma, ela quer ser amada, atendida e que nós façamos uma reflexão sobre o que fizemos com ela, por que a deixamos nesta situação, por que a abandonamos procurando outras ideologias, outras religiões, outras cosmovisões, outras espiritualidades, mais atraentes e sedutoras, que nos deixam mais satisfeitos, mas que talvez não nos questionem tanto. Quem é o responsável por ela se encontrar assim hoje em dia? Quem é o culpado por ela parecer tão suja e imunda? Quem lhe arrebatou suas jóias para brilhar com elas? Quem foram as pessoas que se apropriaram dela, utilizando-a, manipulando-a, dizendo que eles “são” a Igreja, que a representam e falam em seu nome? Aquele que não tiver culpa que lance a primeira pedra, começando pelos mais velhos…
Esta Igreja com tanta idade atravessa fases como a lua, segundo alguns Santos Padres. Há momentos minguantes, de escuridão, de eclipse: agora estamos num deles. Mas, logo chegarão momentos de claridade e de luz crescente. Ela brilha com a luz do Sol que é o Senhor, não com luz própria. Deve esperar, ter paciência.
Essa velha senhora é visitada pelos pobres, crianças, mulheres fiéis, gente insignificante, que não lhe temem, que gostam dela, levam-lhe flores, sabem que seu coração está vivo e alegre e embora seja anciã é fértil. Sentem-se bem com ela, mesmo falando pouco ou ficando calada, escutam seu silêncio como uma música branca, sabem que seu coração é terno e jovem, misericordioso, que os compreende e que os ama. Ela agradece, sorri e acaricia-lhes suas mãos com carinho maternal.
Pessoas ilustres não a visitam, não recebe visitas de pessoas importantes e poderosas, pois já não podem tirar proveito dela, já extrairam tudo o que foi possível, abusaram dela,. Ela agora já não serve, é lixo, uma velharia. São todos aqueles que com a desculpa de servi-la, se serviram dela para seus interesses, “em seu nome”. E assim a deixaram, desprestigiada, com péssima fama. Utilizaram seu nome, invocaram a civilização cristã para se enriquecerem. Esta velha anciã cheia de achaques já não lhes serve.
Outros dizem que aceitam Jesus, seu Esposo mas não a velha e caduca Igreja, como se o Espírito de Jesus não animasse o corpo da Igreja. A velha Igreja sabe disso, dói em sua alma esta preterição, pois ninguém poderá ir a Jesus se não passar por ela, ninguém poderá separá-la de seu Esposo. É tentação, é orgulho. Mas ela se cala e espera, um dia talvez percebam e voltem para a velha Igreja. Ela tem um grande tesouro para comunicar à humanidade: chama-se Jesus de Nazaré, morto e ressuscitado por nosso bem, para termos vida em abundância. Ela o entrega generosa aos que a procuram com simplicidade de coração, mesmo sendo idosa ou talvez por isso mesmo.
Um dia o Senhor regressará e embelezará sua fiel Esposa com luz resplandecente e vestidos novos; a Igreja voltará a ser jovem e bonita e Ele lhe agradecerá por ter tido tanta paciência e tanta resistência durante muitos anos, por haver sido a velha Igreja silenciosa e meio surda, sofrendo de uma doença que parecia incurável mas que na realidade não passava de um momento de debilidade, uma fase passageira da anciã Igreja, sempre jovem pela força do Espírito. Mas, até chegar esse dia, haverá alguém que queira cuidar desta senhora idosa chamada Igreja.
Victor Codina, S.J.