Igreja é Comunhão – III

A Comunhão na Sagrada Escritura

Para já, podemos adiantar que comunhão humana deriva da comunhão trinitária, como a imagem deriva do original, causa exemplar e inclui a distinção, a diferença e a pluralidade. Só se torna possível porque o Pai toma inteiramente a iniciativa, enviando o seu Filho como vida para o mundo.
A novidade da condição do cristão consiste fundamentalmente na sua participação na vida trinitária, que a teologia bíblica neotestamentária designa com o termo grego koinônia. A salvação obtêm-se através da comunhão com Cristo e com os outros baptizados. E a mística da unidade “entre Deus e o homem, e entre os homens e Cristo, é no cristianismo uma mística do encontro […]. Assim se constata também neste aspecto que o mistério trinitário é o fundamento mais profundo e o sentido último do mistério da pessoa humana e da sua perfeição no amor”(Walter Kasper).
A comunhão tem subjacente a dinâmica do amor divino, de um Deus que se revela aos homens e se dá a conhecer por amor.
A Sagrada Escritura é fonte de comunhão e cânone por onde se pode verificar a autenticidade das várias comunhões; é o garante inspirador de ulteriores comunhões, pois o homem por si só não era capaz de comunhão; a comunhão horizontal é fruto e reflexo da comunhão vertical.

“Esta união e comunhão dos homens entre si encontra na trindade o seu exemplo e fonte. Na verdade, Deus quis introduzir os homens no mistério do amor da comunhão trinitária. Quis que os homens dispersos, divididos, filhos da cólera e da iniquidade, se congregassem e reunissem no Espírito de amor, a exemplo das Pessoas divinas. Por meio da Igreja, Deus quis fazer de todos os homens uma só família, um só povo, um só corpo de Cristo. E quis que o elemento de união, de coesão desse povo fosse o amor pelo qual o Pai ama o Filho e Filho ama o Pai”(René Latourelle).

O amor, como fonte de coesão, é um reflexo do amor trino revelado pelos textos do Novo Testamento, no qual viver em Igreja “como comunidade não significa configurá-la ao arbítrio de grupos ou maiorias. A comunidade eclesial é comunidade com Deus por Jesus Cristo e no Espírito Santo e desenvolve-se como comunidade na Palavra de Deus e nos sacramentos”(J. Pottmeyer). Como consequência, a palavra comunhão (koinônia) significa participação comum. Designa uma relação baseada na participação e uma realidade partilhada. Exprime a participação comum em Jesus Cristo, no Seu Evangelho, na Sua fé, transmitidos pelos Doze. Aqui o Espírito Santo manifesta a sua acção como autêntico agente dessa comunhão que converte em católica a Igreja universal, ao integrar a diversidade e pluralidade de elementos, como tema essencial.
A comunhão é a participação na realidade da salvação na qual Deus nos introduz pelo baptismo e é também uma exigência, feita por Deus de actuação intramundana.
Perante estes dados, “a Comunhão trinitária é fonte de inspiração para práticas sociais. Especialmente os cristãos comprometidos com mudanças estruturais da sociedade a partir das grandes maiorias pobres encontram na Tri-unidade a sua utopia eterna.[…] Por isso uma sociedade que se deixa inspirar pela comunhão trinitária não pode tolerar as classes, as dominações a partir de um poder (económico, sexual ou ideológico) que submete e marginaliza os demais diferentes”(Leonardo Boff). As comunidades primitivas, fiéis à sua missão, anunciam o Deus criador que quer a plena realização da criatura humana, e esta só se pode realizar na sociedade do amor, não pode deixar de haver relação entre a história eterna da comunhão trinitária e o processo histórico de construção da família humana. Esta comunhão fraterna tem como base a fé, em referência à doutrina dos Apóstolos: expressa-se no culto, mediante a fracção do pão e as orações e toma a sua realização concreta através da partilha dos bens materiais”(Bruno Forte).
A comunhão em Cristo é activa, é dinâmica, operacional, não se ficando apenas na contemplação, mas concretiza-se em obras. A comunhão em Cristo é fonte de comunhão com todas as pessoas.
A Igreja, a partir da comunhão pericorética da Trindade, “mistério solar, ilumina o mistério lunar da Igreja, mostra-se como um mistério derivado (mysterium derivatum como falavam os Padres da Igreja) de outros mistérios mais fundamentais, principalmente, daquele do amor e da comunhão entre os divinos Três. Como há a koinónia trinitária, assim há a koinónia eclesial”(Leonardo Boff).
É precisamente desta realidade, a eclesial, de que nos vamos ocupar no próximo post.

A Igreja é Comunhão II

Nova Visão de Igreja
Torna-se necessária uma nova visão da Igreja e da sua missão, pois “durante muito séculos a certeza foi garantida pelo conceito de Deus. Deus omnisciente, omnipresente e omnipotente, não só criara o mundo como também promulgara os princípios de acção a respeito dos quais não havia dúvidas. A Igreja ‘interpretava’ detalhadamente esses princípios, e o indivíduo, que garantia seu lugar na Igreja atendo-se às suas regras, estava certo de que, independentemente do que acontecesse, ele estava no caminho da salvação e da vida eterna no céu”(Erich Fromm). Hoje em toda a sociedade, e não só na Igreja institucional, “a própria identidade social está em questão. Pois cada indivíduo não se pode mais apoiar sobre um fundamento social comummente admitido por todos, a questão que se põe é sobre que fundamentar a existência. Há alguma coisa que precede o indivíduo? E se nada o precede, como é que o sujeito se pode tornar ele mesmo?”(Yves Petiton). A liberdade está subjacente a esta mudança, sendo aquela um dos valores que o homem dos nossos dias defende com todo o afinco. Mas enquanto que para a Igreja, a comunidade precede o indivíduo e cada um não se pode determinar a não ser em referência ao que o precede. Isto explica, em parte, a crise eclesial sem precedentes que vivemos. Em consequência, devemos compreender esta crise como a elaboração de novos modelos. Depois poderemos verificar se a comunhão, como tal, está em crise ou é a forma de a realizar que não responde às questões do nosso tempo.
Os cristãos admitem que a “communio não se realiza ‘a partir de baixo’; ela é graça e dom, participação comum na única verdade, na única vida e no único amor de que Deus nos fez participantes por meio de Jesus Cristo, através da mediação da Palavra e do sacramento, no Espírito Santo”(Walter Kasper).

A Igreja é Comunhão I

A inovação do Vaticano II de maior transcendência para a eclesiologia e para a vida da Igreja foi o ter centrado a teologia do mistério da Igreja sobre a noção de comunhão (A. Antón).

No mais íntimo do homem, a comunhão aparece como algo de desejável; é um valor digno de ser querido. Mas é uma realidade que todos “nascemos sós, vivemos sós e morremos sós. E que, até nas horas menos infelizes, no mais fundo do nosso inconsciente, lateja, cruciante, a dor incurável dessa condenação”( Miguel Torga). A solidão transforma-se numa fobia, em algo que impede o normal exercício da vida.

Contudo, “sabemos também que a Bíblia, o livro dos livros, nos ensina que não há homem sem homem, e que o próprio Cristo teve, a caminho do Calvário, a fortuna dum Cireneu para o aliviar do peso da cruz. O que, trocado por miúdos, significa que a solidão radical de cada existência — que, nos poetas, a cegueira de Homero ilustra premonitora e paradigmaticamente —, é mitigada por uma força que, se não vence o destino, inconformadamente desde sempre o desafia […]. A graça desta comunhão humana, sem a qual a passagem pelo mundo não teria sentido. Para mim, pelo menos, feito dum barro tão frágil e vulnerável, que necessito de ser amado durante a vida e de acalentar a esperança de continuar a sê-lo depois da morte” (Idem).

Miguel Torga sintetiza deste modo peculiar o desejo e aspiração humanos à comunhão, aquela ânsia de ser membro.
Mas o sentimento de comunhão está em crise, quer socialmente, num sentido mais amplo, quer eclesialmente, num sentido mais restrito. Pois a crise de pertença eclesial e a recomposição caleidoscópica do religioso que ela arrasta inscrevem-se na evolução geral das nossas sociedades industrializadas e urbanas, caracterizadas pela mobilidade, particularmente pelas mudanças determinadas pelas orientações sócio-económicas, assim como pela atenuação do controle social e a valorização da capacidade de escolha pessoal.
Nos nossos dias há muitos indícios que revelam o mal-estar que entrou nos sectores dirigentes, nas comunidades religiosas e no clero. Há países em que algumas comunidades religiosas e mesmo o clero fazem o inventário dos seus efectivos e tomam consciência de constituir os “últimos exemplares de uma espécie em perigo de extinção”(Martin Velasco). Perspectivando o futuro, agrava-se o mal-estar de muitos cristãos que se interrogam sobre se o cristianismo, “semelhante a essas gloriosas ruínas de onde se tiram materiais para outras construções, se vai convertendo em algo que proporciona às nossas sociedades um vocabulário, um tesouro de símbolos, de sinais e de práticas que se empregam noutras partes, da forma que convém a cada um e cada grupo”(Ibidem).

Desenvolvimento Científico
O desenvolvimento científico – a meu ver, quando mal usado – é também ele um grande motor deste desajuste social, gerador de mal-estar. E se até há uns anos atrás bastava conciliar a fé com a ciência para trazer a paz às consciências, hoje já não é assim; “interessa confrontar o Deus vivo, experimentado por qualquer comunidade cristã autêntica, com uma ciência que também é vida das sociedades, e tende a constituir-se em mito”(Luís Archer). A sociedade dos nossos dias está a investir muita da sua esperança nas elaboração das novas tecnologias e a Igreja tem também algo a dizer, acima de tudo tem que se dizer a ela mesma neste contexto e transmitir a sua Mensagem, e isto nem sempre se realiza, pelo menos de uma forma frutífera. A prová-lo está “o facto de que o número dos que não comungam com ela [Igreja] seja hoje maior do que os que comungam, é a miséria da Igreja, a ferida profunda do corpo do Senhor que a deve sentir como sua própria ferida”(Josef Ratzinger).
É um dado assente que, pela primeira vez na história, “os discursos pelos quais uma civilização se pensa não são religiosos. Mas a experiência que se designa também ela como ‘religiosa’ não persiste mais, pulveriza-se somente. Multiplica-se e dispersa-se. Afasta-se das grandes instituições unificadas que eram até aqui as religiões. Ela afasta-se cada vez mais das ‘pertenças’ eclesiais. Se ela ainda se diz, é através de múltiplos discursos em formação, porque nenhuma instituição está em situação ‘sacerdotal’ de dizer a todos uma verdade total”(Michael de Certeu). A reflexão sobre a pertença eclesial, o realizar a comunhão, levanta questões que são tratadas na identidade eclesial. Nas nossas sociedades seculares, a religião católica deixou de ser um fundamento social e a Igreja perdeu a sua influência sobre as pessoas.

A Igreja é Comunhão!

Hoje, a vivência da comunhão pode assumir novos contornos; as possibilidades oferecidas pela técnica podem ajudar a uma maior clarificação do conceito de “comunhão” e a descobrir novas formas de a praticar. É um dado assente que esta revolução é universal, tal como a Igreja pretende ser – católica –, assim à Igreja cabe compreender este processo, assimilá-lo, na medida do possível, para poder situar-se na nova sociedade e realizar aí a sua missão, numa sociedade que pode caminhar para o bem e para o mal.

É com este pressuposto que eu, como crente, me proponho publicitar aqui uma série de reflexões que em tempos fiz e que têm ficado guardadas – não na gaveta –, mas no disco duro.

OER na Catequese

Este trabalho é realizado no âmbito da UC Materiais e Recursos para E-Learning.
Procurei ver uma actividade que se enquadra dentro do meu âmbito de actividade e, depois, cumprir os objectivos propostos pelo Professor.
Escolhi uma actividade para adolescentes, para lhes apresentar a relação entre a Bíblia e a doutrina cristã, recorrendo às fontes principais: Bíblia e Catecismo da Igreja Católica.

Nesta actividade, irei ter como objectivo principal que os adolescentes vejam que as informações doutrinais que circulam na Comunidade têm a sua fonte na Sagrada Escritura (Bíblia).
Procurarei também, são os objectivos secundários, que os adolescentes saibam manusear a Bíblia, que conheçam alguns sítios de referência sobre doutrina cristã onde possam prosseguir as suas buscas e encontrar respostas às questões doutrinais de forma crítica, bem como saber o que é a Bíblia e o Catecismo da Igreja Católica. Tudo isto ir-lhes-á dar azo a que comentem com as suas famílias e elas tenham também algum comentário a fazer, promovendo a catequese inter-geracional, por isso opto por fontes que os pais podem ter em papel, e muito deles têm.

O primeiro OER que escolhi foi uma apresentação em Power Point, que pode ser encontrada aqui: https://www.diocese-braga.pt/catequese/NoticiaArtigo.php?cod_seccao=3&codigo=429

Vai ser utilizada como fio condutor do encontro, projectada, onde o grupo, dividido em grupos de três (com um pc disponível para cada grupo), vai descobrindo as respostas nos outros recursos disponíveis.

Critérios para a escolha:
1º – É um formato que motiva bem os adolescentes, pois lembra um concurso de televisão
2º – É um jogo que com a sua participação torna a aprendizagem divertida
3º – A aplicação está disponível para ser corrigida e melhorada.
4º – Pode ser divulgada aos participantes, gravando-a ou enviando por e-mail.
5º – Funciona em modo off-line, o que amplia a possibilidade da sua utilização.

Adaptações:
Para utilizar esta aplicação, eu mudaria as regras, dando a indicação onde poderiam buscar ajuda, e essa seria obrigatória, para possibilitar pesquisa. A componente que serviria para avaliar o melhor desempenho seria o tempo que cada equipa demora a encontrar as respostas certas.
Em cada pergunta, acrescentaria as citações da Bíblia e do Catecismo onde está a resposta.

O segundo recurso será a Bíblia Sagrada

https://www.bibliasagrada.web.pt/

Critérios para a escolha:
1º – É uma tradução de uma Igreja não católica, o que possibilita ver a dimensão ecuménica da Bíblia
2º – Pode ser divulgada aos participantes, gravando-a ou enviando por e-mail.
3º – Funciona em modo off-line, o que amplia a possibilidade da sua utilização.
4º – Tem uma arrumação muito didáctica, para se perceber a organização dos textos bíblicos
5º – Pode ser editado num simples processador de texto (através de copy/past), o que permite posteriores trabalhos sobre o texto.

Adaptações:
Neste OER eu, após fazer o download, adaptaria o ficheiro index.htm, para o personalizar de acordo com o grupo em que ia ser utilizado.
Introduziria também um texto explicativo de como se manuseia a Sagrada Escritura (divisão e organização).

Por último, o Catecismo da Igreja Católica

Critérios para a escolha:
1º – É um recurso divulgado por um sítio muito fidedigno.
2º – Pode ser divulgada aos participantes, gravando-a ou enviando por e-mail.
3º – Funciona em modo off-line, o que amplia a possibilidade da sua utilização.
4º – Tem inscrito os parágrafos relacionados, o que permite a ampliação da compreensão do texto
5º – Pode ser editado num simples processador de texto (através de copy/past), o que permite posteriores trabalhos sobre o texto.

Adaptações:
Depois de fazer o download, acrescentaria um índice analítico e temático, para tornar mais manuseável a informação (disponível em https://catecismo-az.tripod.com/)

Após o encontro enviaria por mail para os participantes os seguintes link’s para que eles pudessem ampliar a informação e rever aquilo que eu lhes tinha dito na formação:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Catecismo_da_Igreja_Cat%C3%B3lica
https://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%ADblia
https://www.catequista.net/catecismo/
https://www.capuchinhos.org/biblia/index.php?title=P%C3%A1gina_principal