Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil

Depois de os bispo italianos terem publicado, em 2004, um diretório sobre comunicação social, intitulado Comunicazione e Missione, a Igreja do Brasil publicou também o seu Diretório.
Este Documento brasileiro é composto por dez capítulos, que tratam dos diferentes conteúdos da comunicação, são eles: 1. Comunicação e Igreja no mundo em mudanças, 2. Teologia da Comunicação, 3. Comunicação e vivência da fé, 4. Ética e Comunicação, 5. O protagonismo dos leigos na comunicação evangelizadora, 6. A Igreja e mídia, 7. Igreja e mídias digitais, 8. Políticas de comunicação, 9. Educar para comunicação e 10. Comunicação na Igreja: a atuação da Pascom.
Em cada capítulo, além das reflexões apresentadas, são oferecidas pistas de ação para a formação, articulação, produção e espiritualidade da comunicação.
O Diretório é destinado aos responsáveis que atuam na comunicação eclesial e nas relações com a sociedade. O texto oferece conteúdos com referenciais comunicacionais, sociológicos, éticos, políticos, teológicos e pastorais.

Apresentamos aqui alguns números que são essenciais para a compreensão do diretório, porém é na riqueza do conjunto de todo seu conteúdo que compreendemos melhor o valor do documento. Todos os capítulos terminam com algumas pistas de ação prática o que facilita na aplicação do diretório nos diferentes âmbitos propostos. O trabalho terá como base quatro eixos: Formação, Articulação, Produção e Espiritualidade.
CAPÍTULO 1 -Comunicação e Igreja no mundo em mudanças: “A comunicação tem
como objetivo primordial criar comunhão, estabelecer vínculo de relações, promover o bem comum, o serviço e o diálogo na comunidade” (Nº. 13).
CAPÍTULO 2 -Teologia da Comunicação: “A Trindade è, por sua natureza, comunicadora. Pai, Filho e Espírito Santo são exemplos da unidade na diversidade. Eles colaboraram intimamente para a realização do projeto divino na história humana. Criando, salvando e santificando, o Pai, o Filho e o Espírito Santo redimem os seres humanos e glorificam para sempre a comunicação nas suas dimensões humana e divina” (Nº. 39).
CAPÍTULO 3 -Comunicação e vivência da fé: “A Igreja existe para Evangelizar e sua missão primordial consiste em comunicar a Boa Noticia do Reino, proclamado e realizado em Jesus Cristo. Isso implica, no mundo contemporâneo, uma pastoral em contínuo estado de missão, com novo ardor, novos métodos e novas expressões” (Nº. 64).
CAPÍTULO 4 -Ética e Comunicação: “A Ética na comunicação consiste em saber se os avanços tecnológicos estão contribuindo para um desenvolvimento humano autêntico e ajudando os indivíduos e os povos a corresponder à verdade de seu destino transcendente” (Nº. 104).
CAPÍTULO 5 -O protagonismo dos leigos na comunicação evangelizadora: “Os fiéis cristãos participam da missão sacerdotal de Cristo quando vivem as realidades do cotidiano, como a vida familiar e conjugal, o trabalho, o lazer e as ações comunicativas, em espírito de oração e comunhão com Cristo” (Nº. 121).
CAPÍTULO 6 -A Igreja e mídia: “É recomendável que a Igreja dialogue com os
responsáveis pela mídia e aprofunde aspectos culturais, sociais, políticos, econômicos e religiosos. Esse diálogo é indispensável para um entendimento dos modos de ação da mídia, em uma busca constante de discernimento. Além disso, a Igreja precisa sustentar e encorajar
aqueles que atuam nos meios de comunicação” (Nº. 144).
CAPÍTULO 7 Igreja e mídias digitais: “A Igreja tem convicção de que as mídias digitais
não substituem a vida em comunidade e litúrgica presencial, contudo pode completá-las, atraindo as pessoas para uma experiência mais integral da vida de fé e enriquecendo a vida
religiosa dos usuários” (Nº. 176).
CAPÍTULO 8 -Políticas de comunicação: “As políticas de comunicação, concebidas ao longo da história, pautam estratégias de ações concretas dos vários segmentos sociais. Segundo a Constituição Brasileira, cabe ao Estado estabelecer, através do Poder Executivo, um marco regulatório consistente, que defina os limites e as responsabilidades na atuação dos diversos agentes da comunicação, garantir a liberdade de expressão e de imprensa, assegurar as condições, políticas para que sejam exercidas a pluralidade e diversidade das
manifestações de pensamento” (Nº. 203).
CAPÍTULO 9 -Educar para comunicação: “A abertura para com o outro – base do processo comunicativo cristão – exige exercícios de uma prática pedagógica que tem como referência o próprio modo de Jesus se comunicar” (Nº. 215).

Dieta no ouvir

Considero que é indiscutível que vivemos imersos num mar de ruídos, sons e palavras que nos deixam insensíveis para escutar a Palavra que sussurra no quotidiano mais singelo. Este dado ganha mais densidade, quando se considera o facto de que a palavra de Deus se torna acessível à fé através do “sinal” de palavras e gestos humanos, do quotidiano. A fé reconhece o Verbo de Deus, acolhendo os gestos e as palavras com que Ele mesmo se nos apresenta. Portanto, o horizonte sacramental da revelação indica a modalidade histórico-salvífica com que o Verbo de Deus entra no tempo e no espaço de cada pessoa, tornando-Se interlocutor de cada um de nós, chamados a acolher na fé o seu dom (Cf. VD 56). E este dom é percebido, saboreado e acolhido no hoje de cada pessoa.
É por isso que se não é por falarem muito que são ouvidos (Cf. Mt 6, 7), também não é por ouvir muito que assumem a fé. Mas sim por ouvir bem (Cf. Sl 115), da Fonte segura e não dos ídolos.


Também aqui, «não nos é pedido que sejamos imaculados, mas que não cessemos de melhorar, vivamos o desejo profundo de progredir no caminho do Evangelho, e não deixemos cair os braços. (…) Todavia, se não se detém com sincera abertura a escutar esta Palavra, se não deixa que a mesma toque a sua vida, que o interpele, exorte, mobilize, se não dedica tempo para rezar com esta Palavra, então na realidade será um falso profeta, um embusteiro ou um charlatão vazio» (EG 151).
E passou ao lado da Fonte da água viva…

Igreja, Mãe dos pequeninhos

A Igreja, que se diz Mãe e Mestra, há de ter em cada um do seus membros um ícone deste acolhimento incondicional, sobretudo dos mais pequenos.  A partir daqui percebe-se que, tal como «o amor que reina numa família guia tanto a mãe como o filho nos seus diálogos, nos quais se ensina e aprende, se corrige e valoriza o que é bom»(EG), assim também o diálogo da e na Igreja deve mostrar e “deixar tocar” o Mistério que a habita.
Todos gostamos de estar em ambientes “familiares”, que nos falem com expressões do nosso idioma materno. Quando assim acontece, ouvimos melhor e, melhor ainda, é uma linguagem que transmite coragem, inspiração e força.

Não causa espanto que muitos fiéis não percebam a “linguagem” da Igreja? Não causa estranheza que se apreciem “pregadores” que usam linguagens tão afastadas do comum dos fiéis que acabam por ser interessantes, porque exotéricas?
Reparemos como Jesus falava e de que falava: falava do amor de Deus, mostrando-o em gestos concretos, na vida dos seus ouvintes. O “sucesso” de Jesus vinha-lhe do modo como olhava o Seu povo, muito para além das suas fraquezas e quedas. Incutia coragem e esperança: «Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino» (Lc 12, 32). Quando Jesus fala, os seus ouvintes ficam cheios da alegria do Espírito.

Pedro e Paulo: a universalidade da salvação

Ao celebrar a Solenidade de São Pedro e São Paulo, que nos ensinam a ver Deus em ação em todas as coisas, em virtude da generosidade do seu amor, é importante, no mundo secularizado e pluralista de hoje, sublinhar de que modo a nossa fé cristã nos conduz a reconhecer, sem qualquer dúvida, que a instituição eclesial não é a porta exclusiva para ser gerado para a vida divina e ser salvo. Num contexto que é, sem dúvida, bem diferente, podemos hoje dizer com Pedro na assembleia de Jerusalém: «Quem somos nós para impedir Deus de agir» (At 11, 17). Somos testemunhas da salvação, mas não podemos medir a sua extensão. Não temos o direito de a limitar.


Claro que, como cristãos, podemos dizer que a graça de Deus para o mundo se manifesta e age na Igreja e pelos seus sacramentos, mas temos também de ter em conta esta outra afirmação de Gaudium et Spes, retomada no Catecismo da Igreja Católica que diz isto: «Visto que Cristo morreu por todos e que a vocação final do homem é de facto única, na realidade divina, devemos considerar que o Espírito Santo oferece a todos, de uma forma que Deus conhece, a possibilidade de serem associados ao mistério pascal» (GS 22, LG 16, AG 7). Quer dizer que o poder salvífico de Deus se estende muito para além das realidades eclesiais. Estas dão testemunho da graça de Deus, mas sem poder limitá-la. A graça de Deus é significada e passa pelos sacramentos, mas essa graça operante de Deus não está ligada aos sacramentos (Cf. CCE 1257). Transborda deles. De facto, o único caminho para a salvação é o caminho das bem-aventuranças. “Bem-aventurados os pobres em espírito, bem-aventurados os mansos, bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, bem-aventurados os que fazem a paz, deles é o Reino dos céus”. Mas estas bem-aventuranças não implicam uma pertença a esta ou àquela religião ou convicção. O Evangelho das bem-aventuranças dirige-se a todos e a todas. Pertence, evidentemente, à tradição cristã, mas força-nos a ver, para lá dessa tradição, o poder criador e salvífico de Deus em todo o ser humano – de qualquer religião, convicção ou cultura – desde que as ponha em prática ou que tenha, pelo menos, o desejo de o fazer.

Eu estou sempre convosco

É sintomático que as últimas palavras de Jesus sejam: «Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos»!  Note-se que o verbo está no presente. Não é uma promessa, estarei, mas sim uma realidade atual, estou. Esta voz que interpela tem, no quotidiano/presente, a sua caixa de ressonância mais elementar e o seu palco. É aqui que se percebe e se diz. É aqui que poderá ser escutada e correspondida. A relação com a alteridade divina, o totalmente outro, que me atrai e me implica, com tudo o que ela tem de fascinante e de tremendo, joga-se no espaço vital da consciência que temos de nós próprios como corpo/carne sensível e relacional, na exposição quotidiana às possibilidades e dramas da liberdade. E é aqui que constatamos que Deus não envolve menos do que a totalidade do que somos: corpo, afetos, desejos, inteligência, liberdade, imaginação, vontade… E também não nos pede nada menos do que começarmos por ser, no mínimo, realmente humanos.
É por isso que a fé cristã implica com os conceitos de ser humano, de Deus e, admire-se!, de religião. Crer ao estilo cristão configura um determinado conceito de pessoa, assume um determinado Deus, e estabelece uma demarcada forma de ser crente. Sempre em tensão entre a verdade e a justiça, entre o humano e o divino.

A fé no digital!

O(s) “deus(es)”, na Internet, acompanham as ofertas de mercado, dando resposta às necessidades evidenciadas pelos consumidores. E estas serão tanto mais “verdadeiras”, quando os “gostos” e as partilhas o evidenciarem (Web 2.0). Mas subsiste a certeza de que o Deus de Jesus Cristo não se encontra senão na lógica da busca de sentido, não se reduz a um software, mas na articulação cultural onde o significado não é abstracto, mas contextualizado na identidade crente, que se descobre no fio da história.


Comunhão

Para se realizar plenamente, cada pessoa precisa de entrar em relação com o mundo, o que implica perceber e aceitar o outro na sua totalidade, na sua unidade e sua unicidade. É preciso que ele se torne presença para mim.
O diálogo genuíno só se dá em clima de plena reciprocidade, quando o indivíduo experiencia a relação também do lado do outro, sem contudo abdicar da especificidade própria, o que gera uma multiplicidade de interesses.
Assim, o rosto da Igreja há de ser múltiplo, pois na pessoa de Cristo tornou-se possível uma comunhão entre Deus e o homem. Ao mesmo tempo, a pessoa do Filho tornou-se lugar da comunhão entre os homens, na medida em que cada um destes está unido ao Filho.

O pluralismo dos pontos de vista e o nascimento de conflitos internos, com os diversos ritmos, constituem para cada um dos grupos eclesiais a inevitável prova duma passagem do entusiasmo frágil dos primeiros encontros a um compromisso verdadeiro na e pela realidade evangélica da comunhão. Cada pessoa é chamada a ultrapassar-se permanentemente, por causa de Cristo, tendo como consequência um aprofundamento do conceito de comunhão e a tomada de consciência do seu papel inevitável numa sociedade plural, incapaz de se dizer através de um único discurso, e que para mais está sujeita a profundas transformações.

Quem é a Igreja?

A Igreja existe por causa de um acontecimento, que é a Páscoa, e perspectiva-se no carácter pessoal: a questão é quem é (ou quem somos Igreja) e não o que é a Igreja. A questão assim colocada sai da forma de questionar no âmbito das coisas para o âmbito da real existência eclesial, que é ao nível pessoal.
A Igreja, que é um ser um com o outro, constituída por pessoas, não é determinada por uma utilidade e proveito comuns, antes tem o seu fundamento na graça de Deus e no seu Espírito santo. Este ser um com o outro, que não é excludente, é aberto a todos, pois os crentes vivem da convicção de que cada um é chamado a esta aliança de Deus com todos. Este ser um com o outro iniciado pela iniciativa de Deus subsiste apenas aí, na comunidade eclesial, e concretiza-se em cada acontecer histórico. Por isso, a  Igreja é um espaço de vida, pelo que cristãos creem a Igreja, porque creem no Espírito Santo. E perceber a identidade da Igreja só é possível quando se participa da vida eclesial, como lugar próprio de compreensão. Não é por acaso que Jesus, àqueles que lhe perguntava quem era (onde moras?), não lhe explica, antes convida à participação: «“Vinde e vereis”. Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia» (Jo 1, 39).
É que dentro é o único local onde se compreende!

Vocação do Catequista

“Não fostes vós que me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi” (Jo 15,16).

Aquando o Baptismo, todo o cristão recebe a responsabilidade de colaborar, segundo as suas capacidades, no anúncio da Palavra de Deus. Ora, ser catequista é uma forma concreta e específica de viver e exercer essa responsabilidade em anunciar e testemunhar o Senhor na comunidade e no mundo. Com efeito, o catequista é alguém que recebeu o chamamento de Deus, enviando-o para ser o mensageiro, o porta-voz da mensagem do Senhor e testemunha dos valores do Reino: «Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for baptizado, será salvo. Quem não acreditar será condenado» (Mc. 16, 15-16).
Com efeito, «além da vocação comum ao apostolado, alguns leigos sentem-se chamados interiormente por Deus, a assumirem a tarefa de catequistas. A Igreja suscita e distingue esta vocação divina, e confere a missão de catequizar. Dessa forma, o Senhor Jesus convida homens e mulheres, de uma maneira especial, a segui-Lo, mestre e formador dos discípulos. Este chamado pessoal de Jesus Cristo e a relação com Ele são o verdadeiro motor da acção do catequista. É deste conhecimento amoroso de Cristo que jorra o desejo de anunciá-Lo, de “evangelizar”, e de levar outros ao “sim” da fé em Jesus Cristo» (DGC 231). O catequista é, então, um apóstolo que participa na missão da Igreja  e de Jesus Cristo no anúncio da Boa Nova. O catequista é aquele que, pelo testemunho da sua própria vida, e pela Palavra que transmite, torna Jesus presente no íntimo dos seus catequizandos e dá-lhes a conhecer o Seu amor.

A missão do catequista será tanto mais fiel quanto mais estiver em união com Deus, consciente de se saber apenas instrumento, já que o principal catequista é o Espírito Santo (EN 75). Ao catequista cabe apenas a missão de colaborar com a ação de Deus e ajudar os catequizandos a acolher a ação do Espírito Santo na vida de cada pessoa e na sua conversão ao Senhor Jesus (DGC 22). «Quem vos ouve, a Mim ouve» (Lc 10,16).
Sendo o catequista alguém que recebeu de Deus o dom de anunciar a Sua Palavra a todos os homens, o catequista deve ser dotado, em ordem à exigência da sua missão, de uma profunda espiritualidade, capaz de o ajudar a renovar-se continuamente na sua identidade. Como Maria, o catequista deve procurar acolher com humildade a Palavra de Deus, meditando-a e pautando a sua vida tendo por referência o Evangelho.
No seu discurso dirigido aos diretores nacionais, aos colaboradores e às colaboradoras das pontifícias obras missionárias, o Papa João Paulo II afirmava que “o verdadeiro missionário é o santo” Esta expressão «pode aplicar-se certamente ao catequista. Como todo o fiél, o catequista “está chamado à santidade de missão”, ou seja a realizar a sua própria vocação ‘com o fervor dos santos» (GCM 6), pois sabe que é portador de uma sabedoria que vem de Deus.