A Catequese na Arquidiocese de Braga

A Arquidiocese de Braga iniciou festivamente o ano catequético no passado dia 12 de Setembro, com o Dia Arquidiocesano do Catequista. Este dia acontece todos os anos no segundo sábado de Setembro e pretende dar o mote à catequese diocesana: trabalhando os temas e opções de cada ano pastoral, ouvindo a voz do Bispo, convivendo e celebrando juntos.

Este ano reuniram-se no Sameiro cerca de 3500 catequistas que através de conferências, ateliers, oração e celebrações tomaram consciência e trabalharam formativamente as opções catequéticas da Arquidiocese.

Catequese: um serviço à Palavra de Deus

A catequese irá caminhar sob o lema «Catequese: um serviço à Palavra de Deus». Fazemo-lo porque temos consciência de que o ministério da Palavra é elemento fundamental da evangelização. Não haverá nunca verdadeira evangelização se o nome, a doutrina, a vida, as promessas, o Reino, o mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, não forem anunciados. Mesmo aqueles que já são discípulos de Cristo têm necessidade de ser alimentados constantemente com a Palavra de Deus para crescerem na sua vida cristã (Cf DGC 50).

É o serviço à Palavra de Deus, onde se insere a catequese, que transmite a Revelação por meio da Igreja, valendo-se das «palavras» e «acções» humanas. Estas, porém, estão sempre em relação: com as «obras» que Deus realizou e continua a realizar, especialmente nos sacramentos; com o testemunho de vida dos cristãos; e com a acção transformadora que estes, unidos a tantas pessoas de boa vontade, realizam no mundo.

Pelo acima exposto, consideramos que não é correcto esperar que o catequizando se deixe transformar pela Palavra de Deus, quando o catequista não se compreende como um crente que tem um contacto aprofundado com a Sagrada Escritura, lida não somente na Igreja, mas com a Igreja e na sua fé sempre viva. Este contacto ajuda a descobrir a verdade divina, de modo a suscitar a permanente resposta de fé. A chamada «lectio divina» é forma eminente deste estudo orante e vital das Escrituras (Cf DGC 71). Até porque a Catequese deve ser uma autêntica introdução à lectio divina, isto é, à leitura da Sagrada Escritura feita “segundo o Espírito” que habita na Igreja(Cf DGC 127). Aqui temos bem presente aquilo que o Directório Geral da Catequese alerta para o facto de que “o ministério da Palavra compreende também uma dimensão litúrgica”(DGC 51).

Três prioridades, três níveis distintos

A catequese, acção eclesial de transmissão da fé, acontece no acompanhamento que o catequista faz de cada catequizando no encontro e configuração com Jesus Cristo, pela proposta da Palavra e celebração dos Sacramentos, deixando-se guiar e auxiliar pela Graça divina. Toda a programação pastoral está orientada para auxiliar, formar e animar os agentes de pastoral catequética a realizarem a sua missão com maior fidelidade a Jesus Cristo e à sua Igreja.

Formação de Catequistas

Nos últimos tempos, a formação de catequistas têm-se vindo aproximar o mais possível das paróquias. Para isso estamos a constituir, em diversos pontos da Arquidiocese, Centros Arquidiocesanos de Formação de Catequistas (CAFCA). Nestes centros – 8 em funcionamento e mais 3 em fase de implementação – cada catequista tem a possibilidade de realizar um itinerário de formação, tal como foi definido no plano estratégico de formação: Catequista: rosto e porta-voz da fé da Igreja, de Julho de 2008.

Nestes CAFCA’s pretende-se que em toda a diocese haja uniformidade na formação, em fidelidade àquilo que a Igreja nos pede. No ano pastoral que terminou pudemos oferecer propostas formativas diferenciadas a 1154 catequistas em formação. Para isso, constitui-se uma rede de formadores que, de acordo com o nível de formação a que estão dedicados e sob uma única coordenação, procedem à elaboração de materiais didácticos, planificação, realização e avaliação das acções, para que resplandeça, também na formação, a unidade da Igreja local.

Coordenadores Paroquias

Estamos persuadidos de que a catequese paroquial será tanto melhor, quanto melhor os catequistas se encontrarem e forem grupo. Para que o Grupo aconteça com mais facilidade urge valorizar e potenciar a missão do catequista coordenador e da equipa de coordenação paroquial. Fazemo-lo porque a coordenação da catequese não é um facto meramente estratégico, voltado para uma mais incisiva eficácia da acção evangelizadora, mas possui uma dimensão teológica de fundo. A acção evangelizadora deve ser bem coordenada porque ela visa a unidade da fé, a qual, por sua vez, sustenta todas as acções da Igreja (Cf DGC 272). Para dotar aqueles que lhe são ou poderão vir a ser incumbidas tarefas de coordenação paroquial realizaremos em cada CAFCA diversas edições do Curso de Coordenação Paroquial, depois de o termos estruturado e realizado em várias edições no ano que passou, onde pudemos formar 148 coordenadores paroquiais.

Equipas Arciprestais

O Arciprestado, como unidade pastoral estruturante da Igreja local, tem diversas equipas sectoriais: a da catequese é uma delas. Procura-se que esta Equipa seja dotada dos meios humanos imprescindíveis para a prossecução da sua finalidade, sendo constituída por sacerdotes e leigos, podendo a coordenação ser confiada a um leigo. Assim, e no próximo dia 1 de Dezembro, vamos realizar a primeira acção de formação para coordenadores de catequese que exercem a sua missão nas equipas arcirpestais, versando esta primeira edição sobre o planeamento estratégico.

De referir ainda que o Departamento Arquidiocesano da Catequese (DAC) é constituído por um Coordenador, nomeado pelo Arcebispo Primaz, e pelos coordenadores arciprestais e do serviço de formação, que reúnem periodicamente para, em unidade diocesana, levar a cabo a promoção da pastoral catequética na Arquidiocese.

In. Agência Ecclesia

O meu ícone para este ano catequético que se inicia!

12Josué levantou-se muito cedo, e os sacerdotes transportaram a Arca do Senhor. 13Os sete sacerdotes, com as sete trombetas, diante da Arca do Senhor, puseram-se em marcha, tocando as trombetas. Os guerreiros precediam-nos. Os restantes seguiam atrás da Arca do Senhor. Durante a marcha ouvia-se o ressoar das trombetas. 14No segundo dia, deram uma volta à cidade, e voltaram ao acampamento; o mesmo fizeram durante seis dias. 15No sétimo dia, levantando-se de madrugada, deram sete vezes a volta à cidade, como nos dias precedentes. Foi o único dia em que deram a volta à cidade por sete vezes. 16Quando os sacerdotes, à sétima volta, tocavam as trombetas, Josué disse ao povo: «Gritai, porque o Senhor vos entrega a cidade. 17A cidade será votada à destruição em honra do Senhor, com tudo o que nela se encontra. Só Raab, a prostituta, terá a vida salva, com todos os que se encontrarem em sua casa, porque ela escondeu os exploradores que havíamos enviado. 18Mas tende cautela com o que é votado ao anátema: se tomardes alguma coisa do que foi declarado anátema, atraireis o anátema sobre o acampamento de Israel, e será uma catástrofe. 19A prata, o ouro e todos os objectos de bronze e de ferro serão consagrados ao Senhor, e ficarão a pertencer ao seu tesouro.» 20O povo gritou e os sacerdotes tocaram as trombetas. Mal o povo escutou o som das trombetas, fez ouvir um grande clamor e as muralhas da cidade desabaram; os filhos de Israel subiram à cidade, cada um pela brecha que tinha na sua frente e tomaram a cidade. 21Votaram-na ao anátema, passando ao fio da espada quanto nela encontraram, homens e mulheres, crianças e velhos, e os bois, as ovelhas e os jumentos.
(Js 6, 12-21)

Uso da Bíblia na formação de catequistas

Apresentamos aqui um testemunho dum grupo de catequistas da diocese de Ávila que, depois dum curso de iniciação bíblica, sentiu necessidade de mais alguma coisa.



1. A quem iremos nós, Senhor? (Jo 6,68)

Com esta pergunta, que resume a inquietação de muitos catequistas da diocese de Ávila, começa uma experiência de formação bíblica que já tem dois anos de vida.


A necessidade era clara:

* O material catequético utiliza cada vez mais citações bíblicas e pressupõe que o catequista é capaz de situar, interpretar, actualizar… cada texto no seu contexto e dar-lhe o valor catequético que eles pretendem.

* Existe a intuição de que nos textos bíblicos se encontra uma enorme riqueza de recursos didáticos capazes de abordar duma forma viva e atraente a mensagem a transmitir.

* As celebrações litúrgicas adquirem variedade, criatividade e, sobretudo, profundidade e vida, a partir do aprofundamento dos textos bíblicos.


Mas, como tirar tanto “sumo” dum “livro” tão difícil como a Bíblia? Que fazer? No Secretariado da Catequese foram pensadas várias soluções, inclusive a de conferências a fazer por peritos. Foi posta de lado esta solução, porque não atingia as zonas rurais, que eram quem mais precisava. Além disso, não se tratava apenas de “ouvir”. As pessoas simples (a maioria das pessoas) entendem pouco de conferências de peritos. Tinha que ser algo muito mais vivo, mais participativo, mais simples, mais “nosso”. Algo que implicasse a nossa participação e “complicasse” a nossa vida, porque só isso é que deixa rasto; e que fosse uma coisa que se pudesse fazer em todas as zonas.


Contactámos a “Casa da Bíblia”. Daí veio a ideia de fazer grupos bíblicos de catequistas. Era uma fórmula mais experimentada e tanto o Objectivo como a Metodologia e Material eram precisamente o que procurávamos.


Mas, como sempre, o mais difícil não é encontrar uma ideia, senão pô-la a funcionar. A primeira grande dificuldade é que um grupo bíblico não nasce nem funciona se não tiver Animador. Daí a necessidade de encontrar catequistas para animadores e formá-los para isso (não há pessoas mais ocupadas que os catequistas!). Utilizaram-se todos os processos para a “captação” e convocou-se um encontro de fim de semana. Foram convidados 30 e éramos 16 (uma coisa é pregar, outra é dar trigo!).

2. Todas as coisas têm o seu tempo (Ecl 3,1)

Tratava-se de descobrir a que tínhamos sido chamados:

* Fundamento: Abordagem da Bíblia como Palavra de Deus lida em comunidade, e conscientes da sua importância: a Bíblia situa-se no coração da Igreja. E esta tem como prioridade, nas vésperas do ano 2000, responder ao desafio da nova evangelização.

* Objectivo: fazer crescer e amadurecer a própria vida e a própria fé à luz da Bíblia.

* Tipologia do grupo:

– O número ideal oscila entre os 7 e os 12.

– Reúnem-se cada 15 dias, durante uma a duas horas.

– Clima aberto e participativo, que facilita a comunicação entre os elementos e provoca o diálogo contínuo entre a experiência religiosa contida na Bíblia e a nossa própria experiência.

– Algumas pessoas exercem um serviço especial dentro do grupo: animador, secretário, perito…

– O grupo é temporal, com uma duração de vários anos, durante os meses de Outubro a Junho.


* O Animador:

– Convoca, coordena e favorece o desenvolvimento do grupo.

– Tem certa cultura bíblica e pedagógica; mas não é um perito.

– É um autêntico convencido da importância da Palavra de Deus na vida da Igreja; e, portanto, um assíduo ouvinte da Palavra, que necessita conhecer, estudar, meditar e testemunhar com a própria vida.


Depois dum minucioso “desenho” do que deve ser um grupo bíblico, veio a grande pergunta: Estás disposto a ser Animador deste “invento”? Quase todos dissemos que sim. Tínhamos um verão pela frente.


3. Tocai a trombeta…Convocai a assembleia (Jl 2,15)

Com o início do ano, chegou o momento da verdade! Cada animador encarregou-se de fazer a convocatória na sua paróquia. Formaram-se 11 grupos: 4 nas aldeias e 7 na capital da Província. Praticamente todos os membros dos grupos são catequistas. Apenas num grupo, a maioria não são catequistas; mas são pais que procuram no grupo respostas para os próprios filhos. A preocupação pela “transmissão da fé” é o denominador comum de todos os membros, que são maioritariamente adultos.


E começámos! Com todos os medos e com a ilusão das “coisas novas”. Nós, os animadores, reunimo-nos frequentemente, com o coordenador diocesano, e…que maravilha!, o “invento” funciona! Isso sim, de onze maneiras diferentes. É curioso: todos recebemos a mesma coisa, mas os grupos são a coisa mais variada do mundo!


É difícil que exista coisa tão flexível e que melhor se adapte a cada tipo de necessidade de formação bíblica: Alguns há que reúnem uma hora por semana; outros hora e meia cada quinze dias; e, outros, uma vez por mês; uns estudam muito material; outros preferem menos “teoria” e “degustar” muitos textos da Bíblia. É como o maná: “Uns recolheram mais, outros menos….Cada um recolhera apenas o que necessitava para o seu sustento” (Ex 16,17-18).


4. Tu tens palavras de vida eterna (Jo 6,68)

Vida! A vida divina! A vida que ninguém nos pode tirar! Essa é a grande oportunidade que recebem todos os que se aproximam da Palavra e dela se alimentam. E o grupo Bíblico participa desse grande “milagre” que, apesar de ser frequente e familiar, não deixa de surpreender. Vem-se ao grupo para “melhorar o serviço” e leva-se a grande surpresa de que se está a receber VIDA. Vida em grupo: Escola de Comunidade:”o anjo retirou-se de junto dela” (Lc 1,38). Quantas vezes temos tido esta experiência de Maria! Quantas vezes temos recebido a “mensagem” do anjo que transmitia a missão e o Anjo nos deixa sozinhos. Por isso, não podemos estranhar que as pessoas que frequentam o grupo há dois anos, a primeira coisa que dizem, quando se lhes pergunta pela sua experiência, respondam: “o grupo é uma ideia genial!”. E é-o porque nos “obriga” a fazer o que nos prometemos centenas de vezes: “Deveria ler todos os dias um bocadinho de Bíblia!”; “preciso de orar, mas não tenho tempo!”; “com tantos comentários de Bíblia que há, deveria…”. Deveria… mas não há tempo!


O tempo! Somos escravos do urgente, do imediato, e muitíssimas vezes escapa-se-nos o o que é importante, o que é fundamental. E assim vamos andando. A vantagem do grupo é que conseguimos fazer do importante imediato. Porque temos que ir ao grupo com “os deveres feitos”, para podermos estar ao corrente do que os outros dizem, para poder colaborar “com fundamento”. A quantos livros não limpámos o pó, e pedimos ao Menino Jesus e fotocopiámos…! E, neste aspecto, ainda há muito caminho para andar. Porque estamos pouco habituados a ler, a saborear, a meditar e a orar à luz da Palavra, no encontro directo e pessoal com a mesma. Falta-nos ainda o hábito do silêncio, da escuta e de nos deixarmos guiar pela brisa de Deus, ao entardecer. Pesa demasiado a comodidade do que nos “dizem”, “que pensam por nós e nos dêem tudo mastigadinho”


“Pedro disse: Vou pescar. Eles responderam: Nós também vamos contigo. Saíram e subiram para o barco (Jo 21,3). O grupo é uma boa ideia também porque quanto mais experiência temos de Deus, mais necessitamos duma autêntica Comunidade de irmãos para poder partilhá-la. Um ambiente onde cada um é valorizado, conhecido, aceite tal como é. Sem necessidade de máscaras nem disfarces. Não é nada fácil encontrar ambientes destes! Os encontros da comunidade paroquial são massificadores; as reuniões de catequistas são pouco frequentes, apressadas e, além disso, os temas de conversa são as crianças, os pais, os métodos, os resultados… Sempre os “outros”!


Muitos catequistas são membros de grupos onde podem fazer experiência comunitária; mas outros não são. E um sozinho no barco não pesca! Para estes, o grupo bíblico é uma magnífica Escola de Comunidade. Como é difícil, ao princípio, pôr em comum tudo aquilo que deixa entrever a própria interioridade, a experiência de fé! Isto é compreensível, se se tem em conta a prolongadíssima “educação para o silêncio” que se deu na Igreja. É que o diálogo é difícil: prestar atenção ao que fala, e falar ao grupo, preferindo os mini-diálogos ou o “fogo cruzado”. É difícil convencer-se de que todos somos emissores e receptores, na mesma sintonia duma fé idêntica.


Mas, pelo número de membros, pelos temas, pela presença do Espírito, que vai criando comunhão, progressivamente, vai surgindo o que cada um leva dentro de si: os encontros, as dúvidas, as lutas, as noites escuras, as luzes, as esperanças… A experiência da fé num Deus que Se manifesta na história, na história de cada um de nós e que caminha connosco. E as pessoas ficam surpreendidas, ao partilhar espontaneamente, o que levam dentro de si mesmas. Há reuniões em que se “apalpa” o Espírito Santo, fazendo verdadeira a profecia de Isaías: “O lobo e o cordeiro pastarão juntos, o leão e o boi comerão palha, e a serpente comerá terra. Não haverá mal nem aflição em todo o Meu Monte santo” (Is 65,25). Porque lobos e cordeiros, panteras e cabritos… há-os em todos os grupos. Mas ninguém come ninguém! Até somo amigos!


5. Estai sempre prontos a responder àquele que vos perguntar a razão da vossa esperança (1 Pe 3,15)

Acontecia uma coisa curiosa: quando começámos o grupo, todos “sabíamos muito”… Bom, reconhecíamos “algumas lacunas” no que se refere ao ambiente geográfico, político, social e religioso da Bíblia, assim como as formas literárias utilizadas, o que impede de distinguir entre o conteúdo revelado e a roupagem que cada autor utiliza para exprimir dito conteúdo. No resto… todos “muito bem formados”!…


Depois, à medida que íamos confiando uns nos outros, foram surgindo as dúvidas, depois as situações que precisavam de ser iluminadas com a Palavra de Deus. Que surpresa e que alívio saber que todos tínhamos “zonas obscuras”, todos necessitávamos de ser salvos, todos tínhamos necessidade de pedir ao Senhor que nos aumentasse a fé, porque, apesar de sermos catequistas não “experimentamos” a décima parte daquilo em que “acreditamos” com a cabeça.


Ainda há muitas coisas das que não sabemos “dar razão”, mas também há muitas coisas das que sabemos dar razão, mas não são “nossa esperança”. Que sorte ter a oportunidade de que nos ajudem a distinguir a luz das trevas! “O Verbo era a luz verdadeira que, vindo ao mundo, a todo o homem ilumina” (Jo 1,9).


6. Sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular (2 Pe 1,20)

A forma de trabalho no grupo bíblico supõe uma nova maneira de abordagem da Bíblia. Até agora, a forma de “trabalhar” com o texto supunha: ler e perguntar-se ou perguntar: ” A ti, que te dizem?”. E a resposta, sobretudo em crianças e adolescentes (que normalmente não se lembram do que o padre disse na homilia!) é muito gráfica, fazem cara de quem “não sabe, não responde”; e nota-se neles um certo sentimento de culpa, porque se dirâo: “Como é possível que a Palavra de Deus não diga nada?”. Aos adultos, acontece-nos a mesma coisa; só que sabemos disfarçar melhor!…


Falta-nos todo o processo de acercamento a uma cultura muito diferente da nossa e da qual estamos separados por muitas centenas de anos. Agora sabemos, por experiência própria, que não se pode prescindir de ler o texto no seu contexto histórico, literário e teológico, e que é preciso dedicar tempo à meditação, à reflexão pessoal e de grupo, para encontrar conexão entre essa mensagem e essa situação e o “hoje” da nossa vida pessoal e comunitária; de outro modo, corremos o risco de “obrigar” a Escritura a dizer o que nós queremos que diga, deixando a Deus, que não tem voz, sem Palavra.


Neste sentido, trabalhar cada semana ou cada 15 dias um texto, seguindo o esquema da “Lectio divina” (leitura divina) é um presente do céu, que vai criando hábito. Poucos somos os que, agora, depois de ler um texto, nos lembramos de dizer: “A ti que te dizem?” E é experiência habitual que, depois de “entender” com a cabeça e com o coração, um texto diz muitíssimas coisas que automaticamente são “luz para os nossos passos”. A Lectio divina (leitura divina) é um itinerário para ler a Palavra de Deus em constante diálogo com Ele. Foi cultivada pelos Padres da Igreja e, depois, sobretudo pelos monges. Nós queremos recuperar essa experiência. Eis aqui as quatro etapas que eles costumavam seguir:


1. LER – Lectio

2. DEIXAR-SE INTERPELAR – Meditatio

3. ORAR – Oratio

4. TRASFORMAR – Contemplatio

Temos que reconhecer, com profundo agradecimento, que este acesso ao mais profundo da Escritura não seria possível para nós – que ordinariamente não dispomos dum perito em Bíblia – sem o esforço que, nestes últimos anos, fizeram os estudiosos, que dão o melhor da sua vida para que nós possamos entender a Escritura. E o esforço das editoras católicas que, cada vez mais, colocam à nossa disposição livros de introdução ao mundo da Bíblia e à sua leitura com comentários mais fáceis de ler e, ao mesmo tempo, profundos. A variedade de livros e de estudos que nos aproximam do mundo e do conteúdo da Bíblia é extraordinário. Se são caros, o grupo tem ocasião de pôr em prática a “comunhão de bens”. Cada um compra o que pode e tira informações onde lhe parece bem, “pondo à disposição dos outros o dom que recebeu (1 Pe 4,10). Isto vai-se cumprindo na medida em que cada um se vai sentindo parte do grupo. E se vão manifestando os carismas, que, ao princípio, eram um pouco forçados.


7. O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos (1 Jo 1,3)

Que diferença falar dum texto, porque está numa ficha e tem uma etiqueta: “texto eucarístico”, “texto de envio”, “texto sobre a oração”…e falar desse mesmo texto depois de ter sido objecto dum encontro profundo com o Senhor e com o grupo! Que diferente, quando de uma palavra podemos ser TESTEMUNHAS, porque vimos e ouvimos e o nosso coração sentiu que é VERDADE, que essa Palavra se cumpriu, que se cumpre na nossa vida, na vida da Comunidade! Que diferente, quando podemos dizer, com os habitantes da Samaria: “Já não é por causa das tuas palavras que acreditamos. Nós próprios ouvimos e sabemos que Ele é realmente o Salvador do mundo” (Jo 4,42).

8. Os que semeiam com lágrimas recolhem entre cânticos (Sl 126,5)

Quantas mudanças de atitudes se vão produzindo entre nós! Como sempre, mais nuns do que noutros. Poder falar livremente da Palavra, sem sentido de culpabilidade por quebrar um tabú ou destruir algum “mito”. Perceber entre os membros do grupo a ALEGRIA de se sentirem os “pequenos” que o Pai escolheu para revelar os segredos do Seu amor salvador. Quantas expressões e gestos desta alegria “que ninguém poderá tirar” se repetem em cada grupo! Não somente nas palavras. É também a falta de pressa na hora de terminar as reuniões (essas pessoas tão ocupadas!); isso leva-nos a pensar que os membros do grupo se vão encontrando com a VERDADE LIBERTADORA que, procedendo de Deus, se manifesta plenamente no FILHO-PALAVRA através das palavras.


Deste modo, a leitura e a meditação da palavra não se queda em pura teoria da fé ou em mera ilusão de salvação individual, mas vai criando a necessidade dum compromisso de vida pessoal e comunitário, a fim de obter a construção e extensão do Reino, hoje mais do que nunca, EVANGELHO DE ESPERANÇA, DE ALEGRIA, DE LIBERTAÇÃO E DE SALVAÇÃO.


Maria Isabel Lopez Fernandez (Paróquia de S. Tiago Apóstolo – Ávila)



Sobre a importância da Bíblia para os carequistas, veja-se D. horácio coelho cristino, Bíblia e ministérios- A Bíblia na “nova” catequese em A Bíblia na nova evangelização, XIV Semana Bíblica Nacional, Difusora Bíblica, 1992, p.179-215.

Recursos Visuais

Deixo aqui um vídeo, com ligações ao canal youtube onde há vários. Podemos sempre fazer o download e utilizá-los a evangelização. que vos parece?

A Catequese é um acto humano

O momento eclesial que estamos a viver, por muitos denominado de Primavera da Palavra, como a constatação de que os cristãos e as comunidades estão cada vez mais conscientes do lugar da Palavra de Deus e da necessidade que como cristãos temos dela.
Vem a este propósito referir a Constituição Dei Verbum, sobre a Revelação Divina, que é o documento do Concílio Ecuménico Vaticano II onde se aborda o tema da Revelação e da Palavra de Deus de uma forma fabulosa. É interessante ver como passados tantos anos, 44, estes continuam a ser actuais e a dar pistas excepcionais para a nossa reflexão pastoral.
Aliás, seria no mínimo um contra-senso que nós, catequistas, vocacionados para sermos servidores da Palavra de Deus não tivéssemos a Dei Verbum com um documento de visita frequente.
E quando nos propomos abordar as relações humanas na catequese, isso vai acontecer.

Deus fala como um amigo

Nesse documento, no número 2, diz-se que, e o sublinhado é nosso:
“Aprouve a Deus, na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cfr. Ef. 1,9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina (cfr. Ef. 2,18; 2 Ped. 1,4). Em virtude desta revelação, Deus invisível (cfr. Col. 1,15; 1 Tim. 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos (cfr. Ex. 33, 11; Jo. 15,1415) e convive com eles (cfr. Bar. 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele. Esta «economia» da revelação realiza-se por meio de acções e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal maneira que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido” (DV 2).
Assim sendo, em catequese a relação interpessoal deve ser tida em conta e reflectida. O diálogo é o elemento mais significativo mediante o qual se desenvolvem as relações humanas e, no nosso caso, a proposta de suscitar a fé. A linguagem desse diálogo revela o tipo de relação que existe e, portanto, o tipo de catequese que procuramos.

Podem-se distinguir três níveis de diálogo

1) O palavreado. É a forma mais superficial do diálogo. Consiste em falar de qualquer coisa, sabendo ou não, sem que ninguém se envolva no que diz. Sucede na catequese quando faltam objectivos precisos ou o grupo não os aceita nem se envolve neles; os catequizandos contentam-se em conversar e trocar opiniões que, ainda que de cunho religioso, não conduzem a parte alguma.
2) A informação de base que proporciona os elementos necessários para investigar, analisar, contrapor e chegar a conclusões claras e objectivas; porém se o grupo se detêm aí, sem se envolver nem se comprometer, não passará ao âmbito da cultura religiosa, ainda que ele seja importante e suponha uma contribuição valiosa para a formação dos catequizandos.
3) A comunicação. Aqui, o diálogo alcança toda intensidade quando não se trata somente de dizer algo, mas de dizer-se a si mesmo. Neste caso, os membros do grupo expressam a ressonância que tem neles a questão proposta; isso requer confiança recíproca para expor o que cada um traz dentro de si e para esperar que os outros façam o mesmo. O intercâmbio grupal não é simples eco do que se pensa, sabe ou diz, mas do que cada um sente, busca e vive. Há comunicação quando cada um expressa sua implicação pessoal naquilo que diz, quando sua expressão é verdadeira e sincera confissão de si mesmo. Nesta fase a catequese alcança seu sentido pleno como lugar no qual o grupo confessa a fé.
A comunicação plena requer, pois, o envolvimento pessoal dos que participam no grupo de catequese e permite ao catequizando fazer uma experiência de participação comunitária.

O catequista é um amigo de Deus

Para que este diálogo aconteça, o catequista tem um papel insubstituível. Aliás, a vocação de catequista, a sua existência na Igreja, é um dom do qual há que dar graças a Deus. O catequista é alguém chamado por Deus, vocacionado; que acredita no Senhor, com uma fé profunda; e consciente do seu ser Igreja, com uma clara identidade eclesial. Ou seja, o seu modo humano de viver está moldado pela sua comunhão com a Trindade.
O catequista participa e prolonga a missão de Jesus como mestre e amigo, pois realiza o mandato do Senhor: “Ide e fazei discípulos”(Mt 28,19). Assim, Jesus Cristo, no seu seguimento e imitação, constitui para o catequista o modelo determinante de toda a sua missão e acção.
Para que a catequese seja significativa, o catequista deve estar enraizado na forma de ensinar de Jesus Cristo que é cativante e atractiva, pelo que deve viver alimentado continuamente do Mistério Pascal de Jesus Cristo, que é o conteúdo fundamental do Evangelho e o núcleo do testemunho da fé.
Porque é chamado a ser educador da fé, o catequista deve possuir, antes de mais, uma profunda vida de fé. Deve estar imbuído de um profundo sentido religioso, com uma experiência madura de fé e um forte sentido de Deus, do divino. Isto porque o catequista deve ser o anunciador de Deus e dizê-Lo no mundo de hoje. Ao dizer a sua fé, está a responder às inquietações mais profundas do coração humano, que é a sede de absoluto que habita em cada homem (Cf DGC 23).
O catequista é, então, alguém consciente da sua fé. Tem uma posição tranquila e serena da sua opção por Cristo, confia n’Ele e vive em docilidade à acção do Espírito Santo. Na sua pessoa verifica-se a interacção entre fé e vida, ou seja, vive uma autêntica experiência de fé, que vai condicionar todo o modo como se relaciona.
Isto significa que o catequista deve ocupar-se da sua própria vida no Espírito como exigência da responsabilidade que lhe outorga a Igreja, catequizar. O catequista experimentará um processo contínuo de amadurecimento na fé e configuração com Cristo, segundo a vontade de Deus Pai, guiado pelo Espírito Santo(Cf ChL 57).

Os amigos vivem na alegria

A alegria e o gozo do anúncio da Palavra e do Evangelho de Jesus Cristo são características próprias do catequista. É precisamente a alegria do catequista, expressa na relação com os outros, como gozosa participação na vida do Espírito, a demonstração mais evidente de que a Boa Nova que anuncia encheu o seu coração.
O catequista pode entrar verdadeiramente na alegria espiritual aproximando-se de Deus e afastando-se do pecado. Sabemos que as capacidades humanas não atingirão, por si só, este objectivo, mas a Revelação pode abrir esta perspectiva e a graça pode operar esta conversão. A alegria cristã é por sua essência uma participação espiritual da alegria insondável – simultaneamente divina e humana – do Coração de Jesus glorificado. Através da oração pode experimentar-se mais profundamente esta grande alegria: cada cristão sabe que vive de Deus e para Deus.

Chegou o verão! Vamos à Festa.

A catequese tem o objectivo de iniciar, progressiva e sistematicamente, à fé cristã. Com o início das férias de Verão, a que está associada uma grande pausa nos encontros de catequese, urge propor actividades para que o grupo se possa encontrar e, o que seria muito salutar, realizar actividades lúdicas.

Esta actividade destina-se a catequizandos e catequistas, que podem optar por fazer a recolha individualmente ou por grupo.
O objectivo é promover que se faça uma leitura crente das festas populares, descobrindo-lhe valores e manifestações cristãs, bem como influência pagã nas manifestações religiosas. Vendo que o Homem que reza e celebra é o mesmo que festeja e realiza arraiais, e nisso não há nada de mal.

Se quiseres, podes ler um autor interessante: Mircea Eliade, nomeadamente a sua obra O Sagrado e o Profano.

Pode recorrer-se a câmaras de vídeo, telemóvel, máquina fotográfica ou outro sistema qualquer, e recolher as imagens da realização sobre que querem reflectir.
Depois, alojam essa imagem no youtube ou outro no género, e ‘embebem-no’ na página wiki criada para o efeito, onde colocam também as vossas reflexões e descrição das descobertas realizadas:
– Repara nas Missas das festas, se há alguma tradição mais pitoresca e o ‘porquê’ de ser assim;
– Olha para as Procissões, para o modo como são aorganizadas, as representações dos figurados, as Confrarias presentes que são reflexo das grandes devoçõpes populares. No fundo as verdades que fé que querem afirmar e expressar, à mistura com costumes e presenças pagãs.
– Por fim o arraial. Repara nas imagens que são invocadas, as letras das músicas cantadas e os costumes aí associados. Sabes, dantes era nestes arraiais que se ‘pediam as moças em namoro’.

No final procura responder à pergunta: A festa pode ser uma boa oportunidade para perceber a fé popular?

Para poder editar a página wiki, é preciso mandar um mail a solicitar.
Criaremos, na wiki, uma página por cada participante, individual ou grupo.
No final do Verão realizaremos um vídeo em conjunto, sintetizando aquilo que fomos descobrindo ao longo do Verão.

Então, vamos à festa?

Uma proposta para viver a liturgia

Embora a iniciação à vida litúrgica seja uma tarefa da Catequese, esta tem sentido algumas dificuldades.

Cosnciente disso, e num trabalho motivado por um trabalho académico, elaborei um podcasting.

Queres dar uma vista olhos e dares a tua opinião?

Está aqui.