Cristão Adulto III

Vida em Cristo, espiritualidade teologal

A maturidade cristã implica que cada cristão possua uma comunhão íntima com Cristo, levando-o a expressar o amor salvífico de Deus.
Este objectivo é alcançado através de um vida espiritual profunda, sendo a vida espiritual o desenvolvimento da vida de Deus em cada pessoa criada, amada e salva por Deus. O progresso espiritual encaminha para uma mais íntima união com Cristo. Desta união relacional brota a compreensão das virtudes teologais.
As virtudes humanas, as qualidades de cada pessoa, radicam nas virtudes teologais, que adaptam as faculdades do ser humano à participação na natureza divina. De facto, “as virtudes teologais referem-se directamente a Deus e dispõem os cristãos para viverem em relação com a Santíssima Trindade. Têm Deus Uno e Trino por origem, motivo e objecto”(CCE 1812).
As virtudes teologais são infundidas por Deus nos seus fiéis, para que sejam capazes de proceder como filhos de Deus. São “o penhor da presença e da acção do Espírito Santo nas faculdades do ser humano”(CCE 1813).


A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que Ele disse e revelou, e que a Igreja transmite(Cf CCE 1814). A fé é alimentada quotidianamente com o Evangelho e“é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se vêem. Foi por ela que os antigos foram aprovados”(Hb 11, 1-2). Por isso, mesmo que a fé comporte uma atitude de procura humilde e corajosa, fundamenta-se na Palavra de Deus que não se engana e é sobre esta rocha firme que edificamos a Igreja. Cada cristão possui, então, certezas simples e sólidas que hão-de ajudar a procurar um cada vez maior conhecimento do Senhor.
Deus mostra a Sua fidelidade porque cumpre sempre a Sua Palavra, mesmo quando há oposição ou indiferença; tem confiança no homem, no Seu povo e acredita nas suas possibilidades; e ama o Seu povo com amor de esposo, sempre fiel. É este acreditar no Deus fiel que dá segurança a o cristão, mesmo no meio das dificuldades e incompreensões.

Esperança
A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos o Reino dos Céus e a vida eterna como nossa felicidade, por isso pomos toda a nossa confiança nas promessas de Cristo, apoiados não nas forças humanas, mas na acção do Espírito Santo(Cf CCE 1817).
O cristão vê com esperança a acção de anunciar a Palavra de Deus, sabendo que “o Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Quer esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e cresce, sem ele saber como”(Mc 4, 26-27). A esperança, como virtude teologal, fundamenta-se apenas em Deus e na Sua Palavra. É um dom do Espírito Santo: “Que o Deus da esperança vos encha de toda a alegria e paz na fé, para que transbordeis de esperança, pela força do Espírito Santo”(Rm 15,13).

Caridade

A caridade é a virtude teologal que torna o cristão capaz de amar a Deus sobre todas as coisas por Ele mesmo, e ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus(Cf CCE 1822). A caridade orienta-se sempre para Deus, dando-O a conhecer aos irmãos.
A caridade, o amor a Deus e, nele, aos irmãos, não é mais do que a resposta Àquele que nos amou primeiro. “O amor de Deus manifestou-se desta forma no meio de nós: Deus enviou ao mundo o seu Filho unigénito, para que, por Ele, tenhamos a vida. É nisto que está o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi ele mesmo que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados. Caríssimos, se Deus nos amou assim, também nós devemos amar-nos uns aos outros”(1Jo 4,9-11). Em Cristo ficámos a conhecer o amor de Deus, como é, e n’Ele somos convidados e viver de acordo com esse amor. A caridade cristã é, então, um dom do Pai, que se manifesta especialmente na solidariedade(cf Flp 2,1-11) e no serviço aos demais, nomeadamente aos pobres e abandonados.
Ora, esta virtude, a caridade, precisa de ser continuamente alimentada pela vida de comunhão com o Senhor, o que se consegue através da oração e da liturgia sacramental. Os sacramentos, e em especial a Eucaristia, “comunicam e alimentam aquele amor para com Deus e para com os homens”(LG 33).

Cristão Adulto II

A vida adulta é entendida muitas vezes como uma fase de estabilidade, pelo que essa estabilidade é, ela mesma, uma característica de maturidade.
Vamos, pois, ao longo deste texto, percorrer os aspectos nucleares do adulto, vendo-os na sua dimensão também espiritual e religiosa.

Pessoa unificadaUm adulto é alguém que já fez uma primeira unificação da sua personalidade. Todas as dimensões da sua personalidade estão harmoniosamente interligadas. Um cristão adulto faz esta harmonização a partir da sua decisão livre de aderir a Jesus Cristo, pela fé. Esta conversão compromete livremente a cada pessoa que vai adequando a sua conduta na direcção daquilo que vai descobrindo como vontade de Deus. A vida do cristão adulto não é fruto de um determinismo circunstancial, mas sim de um permanente exercício de liberdade. Escolher, em cada caso, de acordo com a vontade de Deus implica o manuseamento de muitas variáveis. Este exercício de discernimento é fruto e gerador de uma personalidade crente equilibrada e madura.

Com convicções

A liberdade e entrega do adulto, geradores de profundas convicções, leva-o a viver com estabilidade, e não ao sabor dos acontecimentos. A coerência cristã deriva das profundas convicções evangélicas que dão forma a uma fé adulta.
Embora o Cristianismo não se reduza a uma mensagem ou a um conjunto de conhecimentos, o adulto assimilou uma estrutura de conteúdos de fé capaz de dar consistência às atitudes e aos comportamentos.
Este maturidade é fruto de um itinerário de crescimento, já realizado, no seio de uma comunidade cristã, acompanhado por um catequista, e onde a sua vida pessoal foi e é relida à luz do Acontecimento pascal de Jesus Cristo.

Responsável
O adulto é responsável e sabe-se consciente por todas as dimensões da sua vida e atitudes, pelo que o seu assumir da vida cristã implica a vivência de uma vocação. A vocação faz de cada cristão responsável por um projecto de vida, fiel à sua identidade de filho de Deus. Este compromisso deriva da sua identificação com o ser e a missão da Igreja, que se traduz no cumprimento da sua responsabilidade eclesial na circunstância e condição a que o Senhor o chamou.
Como membro de uma comunidade, o cristão vive em Igreja, comprometido com o Reino de Deus: é um ser socializado. Por isso, é capaz de estar inserido no mundo, nos diversos âmbitos – família, cultura, economia, política e outras –, como seguidor de Jesus Cristo, colaborando com todas as pessoas para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.

E Humilde

O adulto é também aquele que vive adaptado à realidade que o circunda e às suas próprias capacidades. Esta tomada de consciência dá ao cristão adulto uma convicção firme da sua humildade, que não é falso comodismo, mas sim o assumir que só com a graça de Deus é capaz de viver a sua fé, fiel e livremente.
Sabe-se criatura diante do Criador, filho de Deus Pai. Reconhece que só em Cristo pode obter a salvação e que a sua santificação é resultado da acção do Espírito Santo.
Esta relação com Deus dá ao crente a capacidade de perceber a sua própria vida e a história da humanidade integradas na realização de um projecto que não é seu, mas de Deus. É a referência a este projecto que vai dando sentido e significado aos acontecimentos, mesmo aqueles que parecem negativos podem ser assumidos à luz desta visão mais ampla.
É também à luz deste projecto amplo e global, que tem Deus como origem e meta, que o adulto encontra resposta e sentido para as grandes perguntas existenciais que reiteradamente atormentam o ser humano.

Não me sai da cabeça

É assim: na actividade catequética temos muito claros os conteúdos, a referência é o Catecismo da Igreja Católica; sabemos muito bem que itinerário seguir e que estratégias utilizar, os dez anos de caetquese estão aí e a funcionar em pleno em quase todas as paróquias.

Mas o problema é sabermos que tipo de cristão queremos formar.Eu sei que o Directório Geral da Catequese fala lá da finalidade da catequese que é, passo a citar, «precisamente isto: favorecer uma profissão de fé viva, explícita e actuante.
Para alcançar esta finalidade, a Igreja transmite aos catecúmenos e aos catequizandos a sua fé e a sua viva experiência do Evangelho, a fim de que estes a assumam como sua e, por sua vez a professem. Por isso, a catequese autêntica é sempre iniciação ordenada e sistemática à revelação que Deus fez de Si mesmo à humanidade, em Jesus Cristo. Esta revelação permanece na memória profunda da Igreja e nas Sagradas Escrituras, e é constantemente comunicada, por uma tradição (traditio) viva e activa, de geração em geração»(DGC 66).

A Igreja espera que a finalidade da catequese seja conseguida através das suas quatros tarefas: iniciar à fé conhecida, celebrada vivida e orada, na Comunidade e com sentido missionário. Até aqui é claro.
Mais adiante, o referido Documento diz que a catequese, com a ajuda das ciências humanas, deve procurar que «os fiéis sejam conduzidos a uma vida de fé mais pura e adulta» (DGC 242).

Donde se pode concluir que a catequese tem como ideal formar cristãos adultos!

E o que é um cristão adulto?

Aqui permito-me dizer coisas erradas, esperando que me corrijam e ajudem a caminhar.

Um adulto é uma pessoa que tem a sua personalidade unificada, pelo que um cristão adulto é alguém que, num espaço de decisão pessoal, se compromete livremente pela causa do Reino. Desta liberdade derivam convicções evangélicas estáveis, com coerência cristã.
A pessoa madura é responsável pela totalidade da sua vida, assume todos os aspectos da sua vida, pelo que um cristão adulto vê a sua adesão a Deus implicar cada dimensão da sua vida e da sua personalidade.
Um adulto é alguém socializado e adaptado à realidade, que não foge da vida. Um cristão adulto será sempre alguém que vive em Igreja, comprometido com o Reino de Deus, numa permanente atitude de humildade.

Igreja e Gestão

Na semana que terminou, o Episcopado português esteve reunido em Fátima a realizar mais uma das suas jornadas pastorais, desta vez em torno dos temas da gestão e liderança.
Tive oportunidade de participar nessa iniciativa: foi fabuloso ver os nossos Bispos a reflectir sobre o que é liderar, visão estratégica, dinâmicas de mudança… Foram ajudados por profissionais extraordinários, quer da ACEGE, quer da McKenzie.
Mas de nada serviria, ou melhor, estaria descontextualizado se não fosse a primeira intervenção: a conferência do Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, intitulada «Critérios evangélicos e pastorais para a liderança e para a gestão de pessoas e administração dos bens ao serviço da Igreja “Comunhão e Missão”».
Permitam-me realçar um item da sua comunicação e que consta do esquema divulgado a todos os participantes.

O ícone, por excelência, do líder: Jesus que lava os pés dos apóstolos

Jesus introduziu no mundo um novo estilo de liderança em nítido contraste com o estilo dos líderes das nações. Ele mesmo se apresenta como modelo para aqueles a quem confia o encargo pastoral das comunidades. O ícone, por excelência, da autoridade na comunidade cristã é o “Lava-pés” dos apóstolos que sintetiza a experiência de Jesus como liderança de serviço: “Compreendestes o que eu vos fiz? Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’, e dizeis bem. Ora, se eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós vos deveis lavar os pés uns aos outros. Na verdade, dei-vos exemplo para que, assim como eu fiz, vós façais também.”
Três imagens bíblicas exprimem este modelo do Mestre e Senhor:
– o servo, numa perspectiva de serviço à graça de Deus e à comunidade, de apoio e de partilha de responsabilidades;
– o pastor, em ordem à solicitude, à coragem e ao papel de guia;
– o administrador, em ordem à afabilidade, à responsabilidade e à fidelidade.

Pertencer ao Povo de Deus

Afirmando-se Povo de Deus, a Igreja chama a tenção para o aspecto pedagógico que encerra. Pois sendo particular, em relação com Deus universal, a Igreja, para ser fiel a si mesma, tem de se abrir ao diálogo. E nesta situação dialogal, o povo de Deus é um sacramento que se vai manifestando historicamente, particularmente hoje, quando as crenças parecem deixar de ser críveis…
Para além das certezas de antigamente, parece dever fazer-se um trabalho a descoberto, sem a protecção de uma ideologia garantida por uma instituição, mas sob a forma itinerante.

O que é pertencer?
Para que uma pessoa se sinta integrada é necessário que perceba uma certa interactividade entre ele e o grupo, é necessário que possuam um mínimo de interacção com a comunidade. De seguida, é preciso que aceite os valores e normas propostas pelo grupo. Pode-se, assim, numa certa medida, identificar com o próprio grupo e também sentir-se considerados e acolhidos como verdadeiros membros desse grupo.
Na base do sentido de pertença, supõe-se de cada membro um sentimento consciente de fazer parte desse grupo, o qual, por seu lado, o reconhece como um dos seus. O sentimento de pertença supõe portanto uma dupla integração pessoal e social, mais estruturado que a identificação espontânea de um indivíduo com uma realidade mais indiferenciada, como a raça, a classe social. Surge, então, a comunidade e o espírito comunitário reina onde a interacção que acontece tem lugar na comunidade que prima pela sua própria realidade comunitária, e onde a pessoa é tratada humanamente, como um ser para o qual eu estou aqui, do mesmo modo que ele está aqui para mim.

Igreja e Culturas
O modo de pertença à Igreja pode variar de um contexto cultural para outro, porque se estabelece uma dialéctica muito especial entre os valores culturais de uma sociedade e a identificação própria dos cristãos que vivem nesse meio.
Distingue-se três contextos bastante típicos que poderão condicionar a identidade cristã, do ponto de vista psicossocial:
– a cultura de apoio, como a de muitos países tradicionais, onde as pertenças sociais e religiosas se reforçam reciprocamente;
– a cultura de rotura, onde se vive um situação de rejeição, de perseguição e marginalização dos cristãos;
– a cultura pluralista, que obriga o cristão a definir a sua identidade, num meio onde todas as condições coabitam num clima geral de indiferença.

Pertencer gera atitudes
O pertencer a um grupo eclesial torna-se fonte de atitudes, pois o cristão, ao identificando-se com um grupo concreto, actua de acordo com os modelos propostos, que ele anteriormente aceitou.
Este sentido de pertença é tanto maior quanto mais elevada for a reciprocidade entre o indivíduo e a comunidade.
A cultura, como a marca própria de uma sociedade, é que personaliza um grupo no âmbito da diversidade, pois é pela cultura que os grupos se inter-comunicam.
Com o acelerar vertiginoso das mudanças, nenhum grupo se pode considerar como um fenómeno estático; é antes dinâmico e com facilidade se pode deixar ultrapassar. Assim, a civilização actual, já não se pensa em função da religião, mas sim por uma multiplicidade enorme de pequenas pertenças, o que gera a dispersão e a precariedade.

Igreja Plural
Neste ambiente pluralista, a Igreja deve tornar-se plurifacetada, acomodando o seu discurso aos diversos destinatários, para ser por eles compreendida. E isto por várias razões. Em primeiro lugar já não vivemos numa civilização de primeira vaga, onde as pertenças sociais e religiosas são recíprocas, criando uma estabilidade. E em segundo lugar, estamos a viver uma situação de choque, numa civilização de segunda vaga, onde se rejeitam os valores religiosos.Uma possível solução pode passar pela definição bem clara da identidade dos cristãos, apresentando a Igreja como sacramento de Cristo – por isso Universal e de Salvação –, sabendo à partida que estaremos a viver no meio da indiferença religiosa. Mas há bons caminhos por onde se pode caminhar, como é o caso do desejo de comunhão expresso em múltiplas manifestações culturais…

Há dias…

Há dias em que sei – eu sei sempre –, mas há dias em que é mais evidente que as pessoas não morrem, partem.
Partem, mas não morrem, porque continuam vivas e bem vivas na minha vida.
A pessoa que sou deve-se a cada uma das pessoas que me amou e eu amei. Por isso, enquanto eu viver, saberei que elas também vivem, através de mim, bem guardadas naquele canto do reservado de mim, onde só vai quem eu quero.
Estão lá, e é lá que eu as posso visitar, falar e escutar… E de lá sai aquela frase de sempre: sê tu mesmo, sê livre, vive…
…para que amanhã outros possam viver por ti.

Como fazer com que os catequistas vão à Missa?

Quando me fizeram esta pergunta – e já ma fizeram muitas vezes –, justificaram-no com o facto de haver catequistas que não celebram os sacramentos, dos quais o exemplo mais gritante é a ausência da celebração dominical.

Mas antes de iniciar a reflexão gostava de deixar duas questões:
– Os catequistas deixaram de celebrar depois de iniciarem a sua missão ou já não celebravam antes? Se não celebravam, porque foram convocados para catequistas?
– O que é que o responsável ou responsáveis pela catequese da comunidade concreta têm feito, em termo de acompanhamentos, destes catequistas? Como se pode pedir a um catequista que seja acompanhante dos catequizandos, quando ele não se sente acompanhado?

Bem, depois disto, já podemos reflectir, dizendo que a catequese e a celebração da fé não podem viver uma sem a outra dentro da Igreja. Em boa verdade, uma catequese que se dissocie da experiência cristã vivida em comunidade, é uma catequese alienada, exterior à realidade dessa comunidade e cujos conteúdos não são mais do que simples informações religiosas. Ainda que a acção catequética seja fundamental, esta deve também ser vivida e celebrada nas acções litúrgicas, momento onde todos os cristãos celebram o Mistério Pascal.
Aliás, é aqui, na realidade do Mistério que radica a solução desta dificuldade. Não podemos continuar a dissociar as diversas dimensões da pastoral. Muitas vezes, após o século XVI e fruto das mutações culturais operadas na Europa, procurou-se afirmar a fé com expressões isentas de erro, formalmente correctas. Esta realidade, a ortodoxia da afirmação, levou a que se separassem as diversas disciplinas teológicas. Veja-se todo o ambiente pré-concílio Vaticano II: movimento bíblico, movimento catequético, movimento litúrgico…
A solução está na redescoberta daquilo que é o Mistério Cristão, aquela realidade onde o crente habita e da qual faz parte pela
A Liturgia é, na verdade, a fonte e o cume de toda a vida cristã (cf. LG 11), onde os catequizandos experimentam e vivenciam em comunidade o que ouvem na catequese e descobrem sinais visíveis da experiência de Deus: “A catequese está intrinsecamente ligada a toda acção litúrgica e sacramental. Pois é nos sacramentos, e sobretudo na Eucaristia, que Cristo Jesus age em plenitude para a transformação dos homens”. (CCE 1074).
Por sua vez, a Igreja, que transmite a fé como dom do Senhor, que está presente na Sua Igreja, especialmente nas acções litúrgicas (cf. SC 7), acredita ser importante que os cristãos participem activa, mas também conscientemente, na liturgia, onde celebram a presença salvífica de Cristo. Destarte, à catequese, como caminho de fé e inserção na vida eclesial, compete iniciar o catequizando na liturgia, favorecendo o conhecimento dos significados litúrgicos e sacramentais, de forma a que a celebração dos ritos cristãos sejam, de facto, expressão dum caminho de fé que garanta a verdade e a autenticidade. Não se trata apenas de uma instrução sobre um determinado objecto religioso, mas uma iniciação viva e orante que deve levar à interiorização do culto litúrgico: “…a vida sacramental empobrece e bem depressa e se torna um ritualismo oco, se ela não estiver fundada num conhecimento sério do que significam os sacramentos. E a catequese intelectualiza-se, se não for haurir vida numa prática sacramental” (CT 23). Em boa verdade, sendo a catequese uma aprendizagem dinâmica da fé, da vida cristã, e da celebração da eucaristia, esta não pode prescindir de momentos celebrativos e festivos fortes, porque sem expressão de fé não há comunicação nem amadurecimento da fé.
Deste modo, a catequese deve conduzir o catequizando a uma experiência viva da presença e acção de Cristo na vida da Igreja, de modo a poder levar a um seguimento firme do Senhor e um compromisso missionário. Quando as pessoas são evangelizadas a partir da sua própria vivência cristã e, a partir daí, se sentem chamados a se identificarem a Cristo, a liturgia e os sacramentos assumem nas suas vidas um novo valor e um sentido diferente.

Jesus Cristo, fonte de sentido!

É relativamente recente, na história do pensamento, a abordagem do problema do sentido como uma questão separada. A normalidade era considerar que a referência sobre o ser implicava, necessariamente, a referência ao sentido. Na metafísica clássica, o que se considerava ser era o que por sua vez possuía sentido, de tal modo que «o ser e sentido deste equivaliam aproximadamente à mesma coisa» (Ferrater Mora).
Mas actualmente, a questão do sentido une todos os homens; é a profunda inquietação sobre o sentido da vida, em que toda a Humanidade está unida. A interrogação sobre a condição humana revela o homem como uma interrogação para si mesmo. E um problema ao qual não pode escapar, correndo o risco de se negar. O problema agudiza-se ainda mais quando se torna evidente que nada do que se faz tem valor; a literatura, a filosofia e a teologia referem o problema supremo que é o homem, em busca de uma resposta sempre inacabada.

Perante a morte e o problema do antes e do depois, não se pode deixar de colocar a questão do sentido. E quando a sede de sentido se agudiza, pode chegar-se ao desespero, ao suicídio.
A resposta à questão do sentido é, normalmente, herdada do ambiente familiar, social ou religioso circundante. Há, pois, uma infinidade de sentidos, desde os primórdios da humanidade até hoje. Exemplo disso são a história das religiões, da filosofia e da literatura. E mesmo da arte.
Perante as diversas vagas de sentido, que chegam até a contradizer-se, surge a inevitável pergunta se não haverá um verdadeiro sentido que acabe por se impor? As várias posições podem ser agrupadas em quatro tipos.

A dos sôfregos, que se entregam avidamente à vida, tentando auferir dela tudo o que seja possível, esperando encontrar aí todas as respostas para as aspirações humanas.

A segunda atitude, pessimista, é a dos que, opostamente, defendem uma solução radical: a negação franca e brutal, o nihilismo. Mas qualquer concepção ou desejo do nada não pode ser feita senão afirmando uma outra coisa. De facto, a afirmação do nada é o grito de desespero do amor absoluto da pessoa decepcionada com a insuficiência do fenómeno, da aparência (Maurice Blondel). Não será o desejo inconfessado de que exista algo, uma aspiração mais profunda, que exista Alguém?

A posição rebelde surge quando o homem descobre que já não é livre, nem dono, antes se vê escravizado. Só quando se rebela é que é realmente homem. A morte de Deus apregoada por Nietzsche dá lugar à rebelião contra tudo o que tente substituir a divindade desaparecida. A salvação é terrena e sem Deus. Marx quer libertar o homem da exploração económica, substituindo o explorador pelos explorados. Freud tenta a libertação de todos os mecanismos inconscientes que aprisionam o homem.
Sarte e Camus vêem na vida e na morte o absurdo. Para Jean Paul Sarte, o homem é alguém lançado no mundo sem paternidade nem finalidade: «acordamos em plena viagem numa história de loucos». Por isso, são inevitáveis os sentimentos de abandono e absurdo. O sentido da vida é, agora, o sem-sentido; o homem torna-se um «ser­-para-a-morte». Albert Camus, afirmando a absurdo da vida, chega a outra conclusão: deve aceitar-se a absurdidade da vida e exercer aí a liberdade humana para lhe criar um sentido. É o retorno do estoicismo.

Por último surge a postura que reconhece o homem sedento de absoluto, que não se realiza por esta vida, sem contudo negar a possibilidade de vir a realizar-se. Perante a morte, a radicalidade do problema humano faz emergir na consciência a aspiração que habita o homem: realizar-se infinitamente. «Queria era sentir-me ligado a um destino extrabiológico, a uma vida que não acabasse com a última pancada do coração»(Miguel Torga).
A partir da morte pode reconhecer-se, também, a impotência do homem para construir sozinho a sua realização. «O homem é um animal compartilhante. Necessita de sentir as pancadas do coração sincronizadas com as doutros corações, mesmo que sejam corações oceânicos, insensíveis a mágoas de gente. Embora oco de sentido, o rufar dos tambores ajuda a caminhar. Era um parceiro de vida que eu precisava agora, oco tambor que fosse, com o qual acertasse o passo da inquietação»(Miguel Torga). É aqui se abrem duas hipóteses: ou o homem reconhece que a vida terrena — projecto e aspiração a ser mais — tem sentido e abre a possibilidade da esperança de um futuro transcendente; ou aceita que a vida não tem sentido e é o desespero total.
A descoberta do sentido para a vida, integrando o sentido da morte, revela a precariedade e a finitude de uma vida sobre a qual assenta o desejo de absoluto que se espera. É a descoberta da liberdade ansiada, aquela que se tem devido a uma liberdade transcendente. O desejo de liberdade infinita do homem dá lugar à descoberta da condição de possibilidade da liberdade humana: Deus.

A realização humana surge a partir do ser pessoa, da relação.
Mas o sentido é um dom, oferecido pelo mistério do Verbo encarnado. «Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente. […] Cristo, novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a vocação sublime»(GS 22). O mistério do homem revela-se através do mistério de Cristo, chamado a participar da sua filiação. Quando o homem descobre que é amado pelo Pai, em Cristo e através do Espírito, revela-se a si mesmo, descobre a grandeza de ser objecto da benignidade divina, receptor do amor do Pai revelado em Cristo. O mistério trinitário é o único capaz de realizar o homem, é o «mistério iluminador» do sentido (René Latourelle). A expressão desse mistério faz-se pela vivência da comunhão, onde o ser «não sem os outros» (Michael de Certaux) impele para a solidariedade e para o diálogo. Miguel Torga escreve que «a Bíblia, o livro dos livros, nos ensina que não há homem sem homem, e que o próprio Cristo teve, a caminho do Calvário, a fortuna dum cireneu para o aliviar do peso da cruz (a dor incurável da solidão). Para mim, pelo menos — continua Torga —, feito dum barro tão frágil e vulnerável, que necessito de ser amado durante a vida e de acalentar a esperança de continuar a sê-lo depois da morte».
Jesus Cristo, através da sua vida e pregação, é o mediador do sentido, o único intérprete dos problemas humanos. Em Cristo, o homem pode compreender, realizar e superar-se continuamente.
O homem, em Jesus Cristo, pode ver, por fim, realizada a sua identidade. O ser insaciado sacia-se. A essência e a existência humanas têm um espaço de convergência e realização: Jesus Cristo.

Cristão Adulto!

A vida adulta é entendida muitas vezes como uma fase de estabilidade, pelo que essa estabilidade é, ela mesma, uma característica de maturidade.

Vamos, pois, ao longo deste texto, percorrer os aspectos nucleares do adulto, vendo-os na sua dimensão também espiritual e religiosa.

Pessoa unificada

Um adulto é alguém que já fez uma primeira unificação da sua personalidade. Todas as dimensões da sua personalidade estão harmoniosamente interligadas. Um cristão adulto faz esta harmonização a partir da sua decisão livre de aderir a Jesus Cristo, pela fé. Esta conversão compromete livremente a cada pessoa que vai adequando a sua conduta na direcção daquilo que vai descobrindo como vontade de Deus. A vida do cristão adulto não é fruto de um determinismo circunstancial, mas sim de um permanente exercício de liberdade. Escolher, em cada caso, de acordo com a vontade de Deus implica o manuseamento de muitas variáveis. Este exercício de discernimento é fruto e gerador de uma personalidade crente equilibrada e madura.

Com convicções

A liberdade e entrega do adulto, geradores de profundas convicções, leva-o a viver com estabilidade, e não ao sabor dos acontecimentos. A coerência cristã deriva das profundas convicções evangélicas que dão forma a uma fé adulta.

Embora o Cristianismo não se reduza a uma mensagem ou a um conjunto de conhecimentos, o adulto assimilou uma estrutura de conteúdos de fé capaz de dar consistência às atitudes e aos comportamentos.

Este maturidade é fruto de um itinerário de crescimento, já realizado, no seio de uma comunidade cristã, acompanhado por um catequista, e onde a sua vida pessoal foi e é relida à luz do Acontecimento pascal de Jesus Cristo.

Responsável

O adulto é responsável e sabe-se consciente por todas as dimensões da sua vida e atitudes, pelo que o seu assumir da vida cristã implica a vivência de uma vocação. A vocação faz de cada cristão responsável por um projecto de vida, fiel à sua identidade de filho de Deus. Este compromisso deriva da sua identificação com o ser e a missão da Igreja, que se traduz no cumprimento da sua responsabilidade eclesial na circunstância e condição a que o Senhor o chamou.

Como membro de uma comunidade, o cristão vive em Igreja, comprometido com o Reino de Deus: é um ser socializado. Por isso, é capaz de estar inserido no mundo, nos diversos âmbitos – família, cultura, economia, política e outras –, como seguidor de Jesus Cristo, colaborando com todas as pessoas para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.

E Humilde

O adulto é também aquele que vive adaptado à realidade que o circunda e às suas próprias capacidades. Esta tomada de consciência dá ao cristão adulto uma convicção firme da sua humildade, que não é falso comodismo, mas sim o assumir que só com a graça de Deus é capaz de viver a sua fé, fiel e livremente.

Sabe-se criatura diante do Criador, filho de Deus Pai. Reconhece que só em Cristo pode obter a salvação e que a sua santificação é resultado da acção do Espírito Santo.

Esta relação com Deus dá ao crente a capacidade de perceber a sua própria vida e a história da humanidade integradas na realização de um projecto que não é seu, mas de Deus. É a referência a este projecto que vai dando sentido e significado aos acontecimentos, mesmo aqueles que parecem negativos podem ser assumidos à luz desta visão mais ampla. É também à luz deste projecto amplo e global, que tem Deus como origem e meta, que o adulto encontra resposta e sentido para as grandes perguntas existenciais que reiteradamente atormentam o ser humano.

Gestos e Símbolos do Baptismo

O rito do Baptismo celebra, com gestos e palavras, isto é, com símbolos simples e concretos, tudo o que pro­curou exprimir. Cada um de nós é convidado a reler estes gestos e símbolos, especialmente por ocasião do Bap­tismo de alguma pessoa que nos seja querida.

Que nome dais ao vosso filho? Dar o nome a uma criança é reconhecê-la como valor em si mesma, com dig­nidade igual. Ser chamado é tomar consciência de existir como sujeito em relação: quanto mais alguém é chamado, mais existe.

É muito bom, por exemplo, ouvir chamar nosso nome quando nos encontramos no meio de uma multidão anó­nima: tenho a certeza de que alguém me conhece, me ajuda a existir como pessoa.E o nome é reflexo do nome de Deus, uma participa­ção na sua glória. Depois, se o meu nome é o de um santo liga-me àquela história especial, certifica-me de que faço parte da comunhão dos santos.

Exorcismo e unção do baptizando. Mas o nosso nome é, desde o início, desenvolvido numa história que não é toda de bem, numa história em que dominam a descon­fiança, a incomunicabilidade, os medos, os egoísmos e a agressividade. No Baptismo recebemos a certeza de nos podermos defender e desvincular destas ligações. O exor­cismo dispõe-nos para vencer o mal com o bem, para re­nunciar ao que é negativo.

O óleo da unção que prepara os atletas para a luta: a vida é um combate para chegar à plena liberdade dos fi­lhos de Deus, é uma libertação progressiva do corpo de todas as escravidões.

A água. Mergulhar na água é morrer, emergir é respirar e viver. O Baptismo, ser mergulhado na água, é morrer para renascer para a vida nova do Espírito. Como o povo de Israel sai da escravidão do Egipto entrando no Mar Vermelho por um caminho de liberdade, assim também no Baptismo saímos dos condicionamentos dos ídolos para conformar a nossa vida com a do Filho, a de Jesus.

E com a fórmula «Eu te baptizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo», somos mergulhados no misté­rio da Trindade, no poder criador e redentor de Deus, consagrado a Ele.

Mediante a unção com o Santo Crisma, o óleo com que se consagravam os reis, os sacerdotes e os profetas, reco­nhece-se que a nova criatura é rei, súbdito de ninguém, fi­lho e não servidor; é sacerdote em comunhão plena com o Pai e com o supremo sacerdote Jesus Cristo e, por isso, tor­nado capaz, pelo dom do Espírito Santo, de prestar um ver­dadeiro culto a Deus; é profeta, depositário da palavra de Deus, feito para conhecer a verdade e para testemunhá-la.

Todo o ministério pastoral, sacerdotal e profético na Igreja está ao serviço da realeza (liberdade), do sacerdócio (santidade) e da profecia (verdade) comuns a todos os baptizados e próprios de cada um.

A vela acesa é símbolo de Cristo, que é luz e vida. A nova vida é luminosa, o corpo do baptizado é reflexo de Deus na terra, segundo as palavras de São Paulo: «E nós to­dos que, com o rosto descoberto, reflectimos a glória do Senhor, somos transfigurados na sua própria imagem, de glória em glória, pelo Senhor que é Espírito» (2Cor 3, 18).

Somos chamados a ser filhos da luz, luz do mundo.

A veste branca é a imagem visível do nosso corpo tor­nado nova criatura porque revestido de Cristo.

Por fim, o sinal do Efatha. Tocam-se as orelhas para que se abram continuamente à escuta da Palavra de Jesus; tocam-se os lábios para que se tornem capazes de expri­mir esta Palavra, de professar a nossa fé.

Como na semente

Quando nasço, está dentro de mim, em em­brião, toda a minha vida que, no entanto, deve crescer e desenvolver-se.

O Baptismo é a semente, o ADN da vida nova. É pre­ciso que cresça, que seja alimentada, protegida de feridas, de atrofias e de tumores.Tudo isto acontecerá na escuta da Palavra e com os ou­tros sacramentos que acompanham a vida do corpo.