Ambientes Pessoais de Aprendizagem

Artigo realizado na UC Modelos de Ensino à Distância, do Mestrado em Pedagogia do E-Learning, da Universidade Aberta, no âmbito da qual este trabalho foi realizado, sob orientação da Docente, Prof. Doutora Lina Morgado.

Resumo
Neste artigo faz-se uma aproximação ao conceito de Ambiente Pessoal de Aprendizagem, também denominado PLE (Personal Learning Environment). Esta aproximação faz-se um pouco pela contraposição com os clássicos LMS’s (Learning Management System). O PLE centra-se no aprendente que utilizará um agregado de ferramentas, que personalizará de acordo com as suas preferências e necessidades. Esta realidade dá ao aprendente o controle da sua aprendizagem, quer num contexto pontual, quer na aprendizagem ao longo da vida.
Por que este é um conceito ainda recente, é compreensível que haja alguma disparidade e até divergência no modo como se percebe, constrói e acolhe ferramentas que suportem este modo de aprender. Razão pela qual este artigo aborda aquelas que deverão ser, no nosso entender e de acordo com a literatura disponível, os serviços que deverão estar presentes nas ferramentas adoptadas ou a adoptar pelo aprendente.

Palavras-chave:
Personal Learning Environment, PLE, Aprendizagem.

Metodologia
Analisámos alguma literatura relativa a aos Ambientes Pessoais de Aprendizagem.

Introdução
Os PLE (Personal Learning Environment – Ambiente Pessoal de Aprendizagem) são recursos que pretendem ajudar o aprendente a ter o controlo e a gerir a sua aprendizagem. Para que isso seja possível: os aprendentes podem definir os seus objectivos de aprendizagem; realizar a gestão da aprendizagem, através da gestão de conteúdos e de processos; e comunicar com outros participantes no processo de aprendizagem. Por isso, de acordo com a literatura disponível, o conceito de PLE representa o mais recente passo evolutivo para uma aprendizagem centrada, não na instituição, mas no aluno.
“representa, de certa forma, o convergir de muitos dos aspectos que temos vindo a referir no que toca às mudanças sociais e culturais provocadas pelo desenvolvimento tecnológico, nomeadamente com a Web 2.0, e que acabam por ter, inevitavelmente, um forte impacto na educação e na concepção da aprendizagem. Os PLEs representam, se quisermos, uma busca para operacionalizar nestas áreas os princípios do e-Learning 2.0, do poder e autonomia do utilizador / aprendente, da abertura, da colaboração e da partilha, da aprendizagem permanente e ao longo da vida, da importância e valor da aprendizagem informal, das potencialidades do software social, da rede como espaço de socialização, de conhecimento e de aprendizagem”[José Mota (6-2009) – Da Web 2.0 ao e-Learning 2.0: Aprender na Rede].

Ambiente Pessoal de Aprendizagem
Quando Ron Lubensky[Ron Lubensky, The present and future of Personal Learning Environments (PLE), Disponível em https://www.deliberations.com.au/2006/12/present-and-future-of-personal-learning.html. [Acedido em 07-07-2009]], em 2006, ensaia uma definição diz que “um Ambiente Pessoal de Aprendizagem é uma iniciativa para que um indivíduo aceda, agregue, configure e manipule artefactos digitais das suas experiências de aprendizagem”.
Na sua definição, Ron Lubensky procura congregar alguns aspectos aglutinadores da identidade dos PLEs. Refere, e passo a transcrever, que:
1. Os PLEs são controlados pelo indivíduo e depois separados de portais institucionais como Ambientes de Aprendizagem Virtuais (VLE) universitários ou Plataformas de Ensino (LMS) profissionais, para os quais os objectivos de construção correspondem às exigências institucionais.
Os artefactos geridos através dos PLEs incluem os recursos digitais e referências com as quais os indivíduos preferem interagir de momento e talvez recordar no futuro. Os recursos incluem não só texto estático e multi-média mas também serviços dinâmicos e seus artefactos, tais como mensagens instantâneas, fóruns on-line e entradas de blogues. Embora um ePortfolio contenha observações actuais sobre o objectivo da reflexão, avaliação e auto-promoção, o PLE inclui um repositório maior que também inclui ligações e comentários para os três propósitos.
2. O principal objectivo de um PLE para um indivíduo é o de reunir todos os diferentes artefactos de interesse para a aprendizagem. O pressuposto é que existem muitos artefactos, organizá-los é demorado e é fácil esquecê-los. O objectivo dos PLEs é simplificar a gestão destes artefactos, criar sentido através da agregação, ligação e etiquetagem através de meta-dados (p. ex: comentários, palavras-chave).
3. Um PLE integra-se com serviços digitais que o indivíduo subscreve. Podem ser os LMSs universitários, os CMSs do trabalho ou uma colecção de serviços da denominada Web 2.0, como o bookmarking social ou partilha de fotografias.
4. Um PLE engloba as várias experiências de aprendizagem que um indivíduo subscreve durante a sua vida. Os estudantes do liceu operam o seu próprio PLE, ligando-o ao Ambiente de Ensino Virtual (Virtual Learning Environments) da escola. Quando entram na universidade, pode ser ligado ao da universidade. Entrando numa actividade profissional, o indivíduo pode então ligar o PLE à aprendizagem empresarial e a funcionalidades de desenvolvimento profissional. Ao mesmo tempo, o indivíduo pode escolher ligar-se individualmente a uma crescente vaga de serviços da Web 2.0 que possam ser úteis para fomentar o crescimento e aprendizagem pessoal.

Graficamente, podemos ver como os PLE’s se situam na intersecção da VLEs, Web 2.0 e uma vista expandida da ePortfolios.

© Ron Lubensky


PLE vs LMS

Para se poder perceber o modo como os PLEs vão sendo adoptados, é preciso compreender a sua evolução, nomeadamente por comparação com os LMS’s e VLE’s. Estes tendem a perpetuar o modelo de instrução tradicionalista da educação, onde o objectivo principal dos sistemas é organizar conteúdos de cursos para transmissão a alunos matriculados, com um grande controlo por parte das instituições.
“Poucos VLEs fornecem áreas de partilha de ficheiros e funcionalidades de colaboração como conversação e fóruns de discussão. Nas universidades, os VLEs geralmente servem como gateways seguros para índices digitais e relatórios de pesquisa. A não ser que os estudantes copiem manualmente os materiais da área do VLE, todos os indícios da sua experiência de aprendizagem são perdidos após a conclusão dos seus estudos”[Idem].
O conceito de PLE surgiu um pouco como resposta aos constrangimentos dos LMS, vistos muitas vezes como limitadores da aprendizagem. Acresce ainda o facto de o acesso a outros recursos Web serem vistos, muitas das vezes, como uma ameaça às instituições, em vez de serem encarados como uma vantagem. Contudo, as reflexões sobre os PLEs surgiram também pela assumpção da existência de oportunidades reais de aprendizagem com muitos dos serviços da WEB 2.0.
Vejamos graficamente o conceito de PLE [Imagem retirada de Scott Leslie – A Collection of PLE diagrams].

Podemos, então, dizer que os PLEs se centram nos aprendentes, ao passo que os LMS se centram mais na instituição e nas suas necessidades de organizar e controlar todo o processo.

Operacionalização
Quando o aprendente pretende construir o seu PLE espera-se que utilize um conjunto de serviços unificado, que ele personaliza de acordo com os seus objectivos e necessidades. Com isso, consegue-se que o aprendente tenha um grande controlo e liberdade para colaborar com outros aprendentes, na utilização de recursos.
Porque esta realidade ainda é muito nova, e porque não há uma ferramenta por nós conhecida que se possa chamar a ferramenta de apoio por exelência, vamos propor um modelo referência que adoptámos, de Milligan et al.[Milligan, Colin; Beauvoir, Phil; Johnson, Mark; Sharples, Paul; Wilson, Scott; & Liber, Oleg. (2006). Developing a reference model to describe the personal learning environment. Disponível em https://www.box.net/public/nuc1azcray [Acedido em 12-07-2009]]. Procura definir o conjunto de serviços e ferramentas que o aprendente precisa para interagir com os serviços de um PLE.
Depois de uma vasta pesquisa, os autores identificaram um conjunto de serviços que deverão estar presentes num PLE:
* Gestão da Actividade (Activity Management) – este serviço fornece uma função de coordenação para grupos, gerindo a interacção com uma actividade. Facilita a adesão a grupos e a sua desanexação, bem como contribuir e aceder a recursos.
* Fluxo de Trabalho (Workflow) – um serviço deste tipo coordena o estado de um recurso como, por exemplo, uma actividade de aprendizagem, processando os eventos relativos aos utilizadores e reportando informação relativa às modificações desse recurso.
* Sindicância (Syndication) – facilita a descoberta e a contextualização de recursos.
* Publicação (Posting) – permite a apresentação de recursos.
* Grupo (Group) – fornece a informação sobre a composição dos grupos.
* Classificação, Anotação e Recomendação (Rating, Annotating, and Recommending) – em conjunto, estes serviços suportam uma grande variedade de actividades, desde a simples classificação até ao fornecimento de informação de retorno, relativa a um conteúdo específico.
* Presença (Presence) – permite indicar a disponibilidade de um utilizador e propagar este estado.
* Perfil Pessoal (Personal Profile) – permite ao utilizador manter um perfil pessoal (ou vários) e partilhar esta informação com outros quando necessário ou desejado.
* Exploração e Percursos (Exploration and Trails) – permite a partilha de percursos, através dos conteúdos.
O Modelo de Referência do PLE constitui um mínimo de serviços identificados, que se articulam e pressupõem uma série de padrões prévios, analisados pelos autores citados. Mas vejamos graficamente o Modelo[Imagem retirada de Milligan et el. Ibidem].


Considerações Finais

Depois deste breve recorrido, consideramos poder afirmar que os PLE são uma realidade a ter bem em conta no futuro da educação, quer pela possibilidade de expandir o campo da aprendizagem durante o tempo formal de aprendizagem, quer pela possibilidade de apoiar e possibilitar a aprendizagem ao longo da vida. A isto acresce a mais-valia de um PLE poder acompanhar o indivíduo ao longo da vida, das suas transições académicas, profissionais e pessoais.
Tendo presente as mudanças culturais, assentes na Web, nomeadamente a 2.0, os PLE também respondem e são potenciadores desta mudança de paradigma cultural, o que postula uma compreensão atenta desta realidade.

Bibliografia

  • Fridolin Wild, Felix Mödritscher, Steinn Sigurdarson – Designing for Change: Mash-Up Personal Learning Environments. Disponível em https://www.elearningeuropa.info/files/media/media15972.pdf. [Acedido a 15-07-2009].
  • José Mota (6-2009) – Da Web 2.0 ao e-Learning 2.0: Aprender na Rede. Dissertação de Mestrado, Versão Online, Universidade Aberta. Disponível em https://orfeu.org/weblearning20/. [Acedido a 16-07-2009].
  • Mohamed Amine Chatti – LMS vs. PLE, disponível em https://mohamedaminechatti.blogspot.com/2007/03/lms-vs-ple.html. [Acedido a 15-07-2009].
  • Ron Lubensky – The present and future of Personal Learning Environments (PLE), Disponível em https://www.deliberations.com.au/2006/12/present-and-future-of-personal-learning.html. [Acedido a 07-07-2009].
  • Sandra Schaffert, Wolf Hilzensauer – On the way towards Personal Learning Environments: Seven crucial aspects. Disponível em https://www.elearningeuropa.info/files/media/media15971.pdf. [Acedido a 15-07-2009].
  • Scott Leslie – A Collection of PLE diagrams. Disponível em https://edtechpost.wikispaces.com/PLE+Diagrams. [Acedido em 15-07-2009].