Deve ser horrível ser Deus

Já pensaram na pachorra que é preciso para ser Deus? Lidar com toda a humanidade ao mesmo tempo deve ser horrível. É que Deus tem de conviver com todo o tipo de pessoas. Neste caso é mesmo todo o tipo de pessoas. Não há dúvida que Deus tem de ser Deus só para conseguir suportar ser Deus.
Ser Deus é ser incompreendido. Não existe nada no mundo tão evidente, tão visível, tão compreensível como Deus. Deus, porque é Deus, resplandece em tudo. Por isso, a existência de Deus é uma das certezas mais consensuais da humanidade. No entanto Deus está também acima de tudo, infinitamente acima de tudo. Claro que Deus sabe que as suas criaturas nunca O conseguirão compreender. O problema não está aí, mas na forma como as criaturas lidam com o que não entendem.
Muitos não Lhe ligam nenhuma. Aproveitam tudo o que Ele lhes dá, sem sequer uma palavrinha para agradecer aquilo que, afinal, é tudo o que eles têm e são. Por vezes até exigem mais, invocando direitos inalienáveis. Se Deus não existisse como podiam existir direitos? Como podia existir quem os invoque? Alguém fala dos direitos de Deus?
Aqueles que acham que compreendem Deus às vezes ainda são piores. Que piegas e pedinchões! Como acham que compreendem, fazem contratos com Deus, chantagem com Deus, tentam enganar Deus, seduzir Deus, manipular Deus. Mais, como se consideram relacionados a alto nível, acham-se com direito a uma vidinha melhor. Melhor do que quê? Se é assim, porque não pedir asas ou visão raio-x?
Não é extraordinário que Deus tenha feito o universo e depois essa obra se ponha a comentar o que Ele fez e o que ela é? Temos mil críticas à forma como o mundo funciona. Como se houvesse alternativa e não fosse um privilégio indiscritível simplesmente existirmos. Nós somos os que conseguiram convite para participar neste momento e neste cantinho da Criação. Lamentar o mundo e a sociedade, desdenhar da obra e Autor é, senão grosseria, pelo menos tolice.
A mais bela criatura de Deus é a liberdade humana, e é essa que gera mais problemas. Deus criou a liberdade da forma mais radical, recuando para deixar outros fazer. Se a liberdade humana avançar para Deus consegue realizar obras espantosas. Menos perfeitas que as Deus faria sozinho, mas muito mais valiosas por serem feitas por quem não é capaz.
O risco da liberdade é que pode ser usada como se quiser. Uma liberdade sem Deus é destruição, mas isso faz parte da liberdade. O mais incrível é muitos usarem esse mal que a liberdade humana faz sem Deus como prova da inexistência de Deus. Como existe mal no mundo, que nós fizemos, então não pode existir um Deus bom, que nos fez a nós. Eu estraguei e por isso Ele não existe! Não é espantoso o raciocínio?
Talvez o mais ridículo seja nós orgulharmos daquilo que Deus fez através de nós. Alguém que não é nada senão aquilo que Deus fez, que depois teve de ser corrigido porque já estragara o que era, e que só conseguiu fazer algo de bom porque Deus lhe segurou a mão, anda todo inchado com essa sua realização! E nós todos dizemos «que grande artista!», «que genial autor!», «que excelente artigo!», sem percebermos que o verdadeiro Artista e Autor é aquele que merece palmas cada vez que passa uma mosca.
Ser Deus é tão horrível que, se Ele viesse a este mundo, as coisas iam correr mal de certeza. É verdade que os gregos, romanos e outros imaginaram como seriam as visitas dos deuses, mas eles perceberam tudo ao contrário, descrevendo a cena como um patrão a visitar a propriedade. O que aconteceria realmente seria que, depois de um momento de euforia no reconhecimento, começariam as reinvindicações, as discussões, os ataques. Não! Se Deus nos visitasse, o mais certo era Ele acabar morto da forma mais cruel que se conseguisse encontrar.
Deve ser horrível ser Deus. Afinal quem é que quereria ser Deus, para ter tanto trabalho, fazer tudo tão bem, tão perfeito e depois acabar esquecido, desprezado, incompreendido? Tem de se ser especial para se aceitar ser Deus. De facto só o Amor quereria e poderia ser Deus.

João César das Neves
Professor universitário
naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

Cada um…

Cada um que passa em nossa vida passa sozinho…
Porque cada pessoa é única para nós,
e nenhuma substitui a outra.
Cada um que passa em nossa vida passa sozinho,
mas não vai só…
Levam um pouco de nós mesmos
e nos deixam um pouco de si mesmos.
Há os que levam muito e os que levam pouco,
mas não há os que não levam nada.
Há os que deixam muito e os que deixam pouco,
mas não há os que não deixam nada.
Esta é a mais bela realidade da vida…
A prova tremenda de que cada um é importante
e que ninguém se aproxima um do outro por acaso…
[Saint Exupery]

Símbolos Paulinos

• Primeiro, as datas de início e conclusão do ano Paulino, desde hoje e até ao dia 29 de Junho do próximo ano, para comemorar os dois mil anos do nascimento de São Paulo, quando este era ainda Saulo, de Tarso, judeu exemplar, fariseu convicto e exímio perseguidor de cristãos.

• Logo depois, a Cruz da qual disse São Paulo: «Quanto a mim, de nada me quero gloriar, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo». Paulo abraçou com todo o amor a Cruz de Cristo, nas suas tribulações, calúnias, sofrimentos, prisão e, por fim, no seu martírio.

• Seguem-se os nove anéis das algemas, que, segundo a tradição, mantiveram São Paulo, preso em Roma. Paulo não hesita em definir-se, várias vezes, como “prisioneiro de Cristo”, apoiado na força de Deus, por amor dos pagãos. Ele sente-se também «prisioneiro do Espírito», impelido pelo sopro do Espírito Santo, que o conduz, de cidade em cidade, a anunciar a Boa Nova!

• A espada é, sem dúvida, o grande símbolo de São Paulo. Esta espada é o símbolo do verdadeiro “soldado de Cristo”, do grande combatente e sofredor! Mas a espada, sugere também o vigor penetrante da Palavra de Deus, que é “como uma espada de dois gumes”, é uma palavra cortante, que fere e cura; é uma palavra penetrante, que vai até ao mais íntimo de nós mesmos. A espada é, por fim e sobretudo, o instrumento com que São Paulo foi martirizado em Roma, no tempo da perseguição de Nero, nos anos 64 a 65.

• Não podia faltar, entre os símbolos paulinos, o grande livro, que representa os escritos de São Paulo, as suas treze Cartas, que lemos praticamente, em quase todos os domingos, ao longo do ano, como segunda leitura;

• Por fim, a chama, que exprime a paixão ardente, o fogo da caridade, o calor da ternura paterna e do amor maternal, com que São Paulo formou e gerou, pelo evangelho tantos filhos para a fé. Esta chama manifesta ainda a extrema afectividade e calor humano que Paulo mantém com todos os seus colaboradores e fiéis.

Convite

«Cada pessoa precisa de um “centro” na sua vida, de uma fonte de verdade e de bondade à qual recorrer na sucessão das diferentes situações e no cansaço da vida quotidiana.
Cada um de nós, quando se recolhe, precisa sentir não somente o palpitar do coração, mas, de maneira mais profunda, o palpitar de uma presença fiável, perceptível com os sentidos da fé e que, no entanto, é muito mais real: a presença de Cristo, coração do mundo.
Eu vos convido, portanto, a renovar no mês de Junho a vossa devoção ao Coração de Cristo, valorizando também a tradicional oração de oferecimento do dia e tendo presentes as intenções que proponho a toda a Igreja.»

Bento XVI, Ângelus 01/06/08

Uma metáfora pastoral!!


Chamam-lhe o “Manso” e é uma lenda entre os pescadores de Sesimbra. Pescava tanto que se dizia que fazia nascer peixe no mar. O seu barco, o Luís Adrião, que está hoje no fundo do mar, depois de um naufrágio que matou o seu novo proprietário, trazia as redes sempre cheias. Nunca ninguém soube como o velho “Manso” conseguia aquilo. Era um mistério numa comunidade piscatória sazonalmente invadida por ondas de miséria. Mas eu falei com Teodoro “Manso”, na altura já com 70 anos, e ele contou-me tudo.

O segredo do “Manso” é que ele “vivia com o peixe“. Ele próprio mo explicou. “Sonhava com o peixe.” Conhecia as várias espécies como se fossem da sua família. Os hábitos, as manhas, a inteligência de cada uma.

“Os peixes deslocam-se no mar como os pássaros no céu, em fila”, dizia ele. “Basta olhar o céu para saber o que se passa no fundo do mar.” Os peixes, continuava, “são como as pessoas. Têm as suas manias. Se os conhecermos, se vivermos com eles, temos mais hipóteses de os apanhar“.

Há peixes pouco inteligentes, que são traídos pela Lua. “Têm medo da luz, e vão para a fundura. Se estiver escuro, pensam que ninguém os vê.” Nestes casos, a Lua indica a direcção em que se deslocam os cardumes. Mas mesmo os peixes mais inteligentes, como por exemplo o sargo, têm as suas fraquezas. “O sargo vê um anzol e não vai lá porque sabe que está ali um pescador. E se apanharmos um, temos de lavar as mãos ao pôr o isco de novo, ou não apanhamos mais nenhum. Eles sentem o cheiro, e sabem. Os sargos andam sempre junto à costa. Dizemos que eles gostam de ver passar os automóveis. Aí, são muito difíceis de apanhar. Escondem-se nos rochedos. Uma vez dei com um com a cabeça de fora, a olhar para mim, como quem diz: queres apanhar-me? Pois anda cá, a ver se eu deixo.”

Em certas alturas, porém, os sargos são de uma inexplicável imprudência. Após a desova, deslocam-se em cardume e deixam-se apanhar com facilidade. “As mulheres quando engravidam também têm desejos extravagantes. Apetece-lhes comer carvão e coisas assim. Com o peixe é a mesma coisa. Deixam os filhos e pensam: vocês já estão aí, a gente agora vai dar uma volta. Não sei se é loucura do peixe…”

As sardinhas também têm hábitos muito humanos. É a sua maior fragilidade. “A sardinha vai às zonas com rochas, para se alimentar, passar a noite, como nós vamos ao café. Depois volta para a profundidade, poque se acha insegura ali. A sardinha é um peixe friorento. No Inverno, vai para o fundo, onde as águas são mais quentes.” E é aí, meio enterradas na areia, que dormem. Mas deitam-se tarde. “Sabe, quando vamos com os amigos, à noite, beber uns canecos… Já não nos víamos há tanto tempo e tal… Chega aí uma altura, lá para as cinco, seis da manhã, em que dá uma dormência… A gente tem de se encostar um bocado… Pois com a sardinha é a mesma coisa.” É a hora certa para as apanhar. Vai-se com cuidado e lançam-se as redes quando elas acordam, estremunhadas. Não falha. Eram grandes pescarias. “Eu encostava o ouvido ao fundo do bote e até as ouvia ressonar”, jurou-me o “Manso”.

[Paulo Moura, “Viver com os peixes”. Público. P2, 30.05.2008, 3]

Introdução à Catequética

A Faculdade de Teologia (Braga), da Universidade Católica Portuguesa realiza o curso de extensão universitária de Introdução à Catequética, que está a ser promovido e coordenado entre a Faculdade e o Departamento Arquidiocesano de Catequese.
Com a duração de um ano lectivo, em que são ministradas três cadeiras por semestre, esta formação atende às novas exigências da evangelização e é dirigido a catequistas que já tenham frequentado outros cursos de catequese e, tanto melhor, o curso Teológico-Pastoral.
Plano Curricular
1. Catequética
2. Psico-sociologia
3. Mensagem cristã
4. Pedagogia catequética
5. História da catequese
6. A Catequese na Igreja Particular