A formação que a Web possibilita tem, então, de ser vista a partir do problema das linguagens e do modo como cada pessoa participa e está presente nas redes mediáticas, sobretudo a partir da categoria de amizade, muito falada neste contexto, que deverá ser vista como expressão do testemunho cristão, quer dos indivíduos, quer das comunidades, num permanente exercício de abertura de portas, sobretudo às periferias existenciais (Cf. EG 46-47).
Mas a relevância da Internet será tanto maior quanto esta se puder utilizar de acordo com a pedagogia divina[1], que se concretiza em torno de três princípios: o da condescendência, o da participação comunitária e o da participação gradual (Cf. DGC 139-147).
O recurso à Web responde ao princípio da condescendênciadivina, que se adaptou à «condição humana» (Cf. DGC 146). A utilização da Internet mais não é, também, do que a adaptação às condições em que hoje uma boa parte da humanidade vive, procurando reconhecer e potenciar as possibilidades existente no ambiente digital. Mas o auge da condescendência de Deus realiza-se em Jesus Cristo, a palavra de Deus feita carne, que é o ponto mais alto da condescendência divina. A pedagogia da encarnação, tal como está refletida no Diretório Geral da Catequese, não coloca como ponto central a presença de um corpo, mas sim «o Evangelho [que] deve ser proposto sempre para a vida e na vida das pessoas» (DGC 143); logo, mais do que proximidade física, importa uma proximidade vivencial. Destaca-se a visibilidade que é dada à experiência de fé, à sua narração[2]. Verifica-se a necessidade de «iluminar e interpretar a experiência com o dado da fé (…), sob pena de se cair em justaposições artificiais ou em compreensões integristas da verdade» (DGC 153), logo contrárias ao princípio da condescendência.
A dimensão comunitáriada pedagogia divina também tem na Web um fator potenciador. Recordemos que esta dimensão requere que se valorize a experiência de fé de uma comunidade crente e apoia-se na relação pessoal e no diálogo (Cf. DGC 143). A Internet oferece recursos para que esta partilha de experiências aconteça e o diálogo, de onde pode brotar uma profunda relação, surja. Se, por vezes, o diálogo e a partilha se tornam difíceis num encontro presencial, nos espaços virtuais é diferente[3]. O reconhecimento e potenciação de ecologias de aprendizagem[4]não só dará espaço para que cada membro da comunidade se expresse, como poderá mesmo modificar a fisionomia das comunidades, tornando-as mais ativas.
Por último, o recurso à Internet permite que a gradualidade, que é própria da pedagogia divina, seja personalizada, o que é bem difícil noutros âmbitos mais clássicos. Aqui, o centro é de facto o indivíduo que tem uma participação ativa em todo o processo, é ele que decide o ritmo. Sem essa participação, o progresso não se verifica e isso é evidenciável.
[1]Cf.
J. Gresham, «The Divine Pedagogy as a Model for Online Education», in Teaching Theology and Religion9, 1 (2006) 24-28.
[2]Cf. B. Callieri, «L’aspetto narratológico nella cultura dele realità virtuale: tra sfida e rischio», in
Psicotech1 (2003) 9-17.
[3]Cf.
J. Gresham,«The Divine Pedagogy as a Model for Online Education», in Teaching Theology and Religion9, 1 (2006) 27.
[4]Cf. G.
Siemens, Knowing Knowledge, 2004,
42-47[https://www.elearnspace.org/KnowingKnowledge_LowRes.pdf (acedido a 27/07/2016)].