A Geração Enganada!

Hoje discute-se muito o conflito das gerações. Existirá mesmo um grupo etário enganado e sacrificado? Estão actualmente vivas várias gerações em Portugal. Ainda é activa boa parte das pessoas que tinham 20 anos por volta de 1955. Essas não se podem considerar enganadas, porque ninguém lhes disse que ia ser fácil. Viveram a guerra colonial e a prosperidade da ditadura. Mas é bom lembrar que nessa prosperidade tratava-se, por exemplo, de terminar a electrificação nacional. Mesmo com emprego seguro e crescimento geral, tinham uma vida hoje inimaginável.
A geração seguinte tinha 20 anos por volta de 1975. Essa não conheceu a guerra, mas fez o 25 de Abril e aderiu à Europa. As descrições românticas do período heróico tendem a esconder o medo, a incerteza, os sacrifícios dessa época. O Portugal que no tempo do salazarismo se sabia atrasado e pobre, mesmo crescendo rápido, deixou de crescer e andou nas notícias mundiais devido à confusão. Depois as coisas acalmaram e fomos o “o bom aluno europeu”. Mas também aí a geração não foi enganada, porque todos lhe diziam que seria difícil o desafio. E foi.
Seguem-se os que tinham 20 anos por volta de 1995. Esses, de facto, podem dizer-se uma geração enganada. Discursos, debates, projectos, planos prometeram que, chegando ao euro, tudo ia ser fácil. Bastava estudar alguma coisinha e haveria empregos bons e seguros. Eles acreditaram. Para depois descobrirem amargamente aquilo que pais e avós tinham sabido à sua maneira: a vida é dura e ninguém nos garante nada. É verdade que a vida hoje é muito menos dura do que foi nas décadas anteriores, cuja dureza já esquecemos. Mas a frustração não vem do que se vive. Vem da expectativa.
Existe depois a geração que tem hoje mais ou menos 20 anos. Essa já não é enganada. Discursos, debates, projectos e planos ainda lhes prometem o mesmo de antes, mas ninguém acredita. Notícias, canções, conversas de café e histórias de amigos não deixam ilusões. Esses, como os que fizeram a electrificação ou o 25 de Abril, sabem à partida que a vida vai ser muito dura. Mas, embora sem ilusões, ainda têm uma amargura que os antigos não tinham. Sentem-se com direito ao que sabem que não vão ter porque, de alguma maneira, admitem os tais discursos, embora em desespero.
Esta é a base da análise que anda por aí. Normalmente omite a terrível dureza da vida das duas primeiras gerações para se centrar na justa raiva das duas últimas. Assim motiva os protestos. Mas protestos porquê? Protestos contra quem? Será que vale a pena protestar contra a data do nosso nascimento? Contra a sociedade onde caímos? Quereríamos voltar atrás? Não podemos e, se pudéssemos, então era difícil convocar manifestações no Facebook!
Protestos porquê? Seria razoável os avós dos actuais jovens terem-se manifestado contra a má electrificação? Os pais protestarem por sermos mais pobres que a Europa? Eles fizeram muitas manifestações no seu tempo, por exemplo contra a guerra colonial. Mas aí havia um pedido concreto. Hoje o problema dos protestos é não saberem o que querem que se faça. Sabem o que pretendem, o mesmo que todos queremos. Mas, como todos, não sabem bem como lá chegar.
Protestos contra quem? Quem é responsável pelo actual estado de coisas? Vamos acusar as gerações anteriores? De quê? Da electrificação? Da democracia e adesão à Europa? De nos terem trazido o Facebook e darem casa aos filhos, porque o trabalho precário não lhes permite melhor?
Muita da irritação destas gerações é compreensível. Têm razão no protesto. Mas é bom lembrar que só há desilusão se antes houver ilusão. Foi o mito da vida fácil com dívida europeia que nos meteu a todos nesta crise. Nisso somos todos, mais ou menos, responsáveis. Um só grupo se pode dizer inocente.
Existe ainda uma geração entre nós: aquela que terá cerca de 20 anos em 2030. Esses não têm culpa nenhuma. Seria bom que, em vez de protestar contra o estado da nossa geração, todos nos esforçássemos por melhorar a deles, enfrentando este desafio como enfrentámos os anteriores.

João César das Neves   (DN 14-03-2011)

A caixinha de Beijos

Há algum tempo atrás, um homem castigou a sua filhinha de três anos por desperdiçar um rolo de papel de presente dourado. O dinheiro era pouco naqueles dias, razão pela qual o homem ficou furioso ao ver a menina a embrulhar uma caixinha com aquele papel dourado e a colocá-la debaixo da árvore de Natal. Apesar de tudo, na manhã seguinte, a menina levou o presente ao seu pai e disse: “Isto é para ti, papá!”. Ele sentiu-se envergonhado da sua reacção furiosa, mas voltou a “explodir”, quando viu que a caixa estava vazia. Gritou e disse: “Tu não sabes que, quando se da um presente a alguém, se coloca alguma coisa dentro da caixa?”. A menina olhou para cima, com lágrimas nos olhos, e disse: “Oh papá, não está vazia. Eu soprei beijos para dentro da caixa. Todos para ti, papá”. O pai quase morreu de vergonha, abraçou a menina e suplicou-lhe que lhe perdoasse. Dizem que o homem guardou a caixa dourada ao lado da sua cama durante muitos anos e, sempre que se sentia triste, mal-humorado, deprimido, pegava na caixa e tirava um beijo imaginário, recordando o amor que a sua filha ali tinha colocado.
De uma forma simples, mas sensível, cada um de nós tem recebido uma caixinha dourada, cheia de amor incondicional e beijos de nossos pais, filhos, irmãos e amigos… Ninguém possui uma coisa mais bonita do que esta.
Clube Contadores de Histórias

Noite de Natal

Se considero o triste abatimento
Em que me faz jazer minha desgraça,
A desesperação me despedaça,
No mesmo instante, o frágil sofrimento.

Mas súbito me diz o pensamento,
Para aplacar-me a dor que me traspassa,
Que Este que trouxe ao mundo a Lei da Graça,
Teve num vil presepe o nascimento.

Vejo na palha o Redentor chorando,
Ao lado a Mãe, prostrados os pastores,
A milagrosa estrela os reis guiando.

Vejo-O morrer depois, ó pecadores,
Por nós, e fecho os olhos, adorando
Os castigos do Céu como favores.


Manuel Maria Barbosa du Bocage

Coisas de dia de Aniversário!!!!

Com que então caiu na asneira
De fazer na quinta-feira
Vinte e seis anos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse…
Mas fazê-los não parece
De quem tem muito miolo!

Não sei quem foi que me disse
Que fez a mesma tolice
Aqui o ano passado…
Agora o que vem, aposto,
Como lhe tomou o gosto,
Que faz o mesmo? Coitado!

Não faça tal; porque os anos
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem a gente velho:
Faça outra coisa; que em suma
Não fazer coisa nenhuma,
Também lhe não aconselho.

Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois se se habitua,
Já não tem vontade sua,
E fá-los, queira ou não queira!

João de Deus