Gestos e Símbolos do Baptismo

O rito do Baptismo celebra, com gestos e palavras, isto é, com símbolos simples e concretos, tudo o que pro­curou exprimir. Cada um de nós é convidado a reler estes gestos e símbolos, especialmente por ocasião do Bap­tismo de alguma pessoa que nos seja querida.

Que nome dais ao vosso filho? Dar o nome a uma criança é reconhecê-la como valor em si mesma, com dig­nidade igual. Ser chamado é tomar consciência de existir como sujeito em relação: quanto mais alguém é chamado, mais existe.

É muito bom, por exemplo, ouvir chamar nosso nome quando nos encontramos no meio de uma multidão anó­nima: tenho a certeza de que alguém me conhece, me ajuda a existir como pessoa.E o nome é reflexo do nome de Deus, uma participa­ção na sua glória. Depois, se o meu nome é o de um santo liga-me àquela história especial, certifica-me de que faço parte da comunhão dos santos.

Exorcismo e unção do baptizando. Mas o nosso nome é, desde o início, desenvolvido numa história que não é toda de bem, numa história em que dominam a descon­fiança, a incomunicabilidade, os medos, os egoísmos e a agressividade. No Baptismo recebemos a certeza de nos podermos defender e desvincular destas ligações. O exor­cismo dispõe-nos para vencer o mal com o bem, para re­nunciar ao que é negativo.

O óleo da unção que prepara os atletas para a luta: a vida é um combate para chegar à plena liberdade dos fi­lhos de Deus, é uma libertação progressiva do corpo de todas as escravidões.

A água. Mergulhar na água é morrer, emergir é respirar e viver. O Baptismo, ser mergulhado na água, é morrer para renascer para a vida nova do Espírito. Como o povo de Israel sai da escravidão do Egipto entrando no Mar Vermelho por um caminho de liberdade, assim também no Baptismo saímos dos condicionamentos dos ídolos para conformar a nossa vida com a do Filho, a de Jesus.

E com a fórmula «Eu te baptizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo», somos mergulhados no misté­rio da Trindade, no poder criador e redentor de Deus, consagrado a Ele.

Mediante a unção com o Santo Crisma, o óleo com que se consagravam os reis, os sacerdotes e os profetas, reco­nhece-se que a nova criatura é rei, súbdito de ninguém, fi­lho e não servidor; é sacerdote em comunhão plena com o Pai e com o supremo sacerdote Jesus Cristo e, por isso, tor­nado capaz, pelo dom do Espírito Santo, de prestar um ver­dadeiro culto a Deus; é profeta, depositário da palavra de Deus, feito para conhecer a verdade e para testemunhá-la.

Todo o ministério pastoral, sacerdotal e profético na Igreja está ao serviço da realeza (liberdade), do sacerdócio (santidade) e da profecia (verdade) comuns a todos os baptizados e próprios de cada um.

A vela acesa é símbolo de Cristo, que é luz e vida. A nova vida é luminosa, o corpo do baptizado é reflexo de Deus na terra, segundo as palavras de São Paulo: «E nós to­dos que, com o rosto descoberto, reflectimos a glória do Senhor, somos transfigurados na sua própria imagem, de glória em glória, pelo Senhor que é Espírito» (2Cor 3, 18).

Somos chamados a ser filhos da luz, luz do mundo.

A veste branca é a imagem visível do nosso corpo tor­nado nova criatura porque revestido de Cristo.

Por fim, o sinal do Efatha. Tocam-se as orelhas para que se abram continuamente à escuta da Palavra de Jesus; tocam-se os lábios para que se tornem capazes de expri­mir esta Palavra, de professar a nossa fé.

Como na semente

Quando nasço, está dentro de mim, em em­brião, toda a minha vida que, no entanto, deve crescer e desenvolver-se.

O Baptismo é a semente, o ADN da vida nova. É pre­ciso que cresça, que seja alimentada, protegida de feridas, de atrofias e de tumores.Tudo isto acontecerá na escuta da Palavra e com os ou­tros sacramentos que acompanham a vida do corpo.

Um Deus que não serve para nada…?

O homem moderno julga viver num mundo como se Deus não existisse. Negou a existência de um deus repressivo, frente ao qual o homem fica sem espaço para existir. Contudo, não olhou para o verdadeiro Deus que, não sendo um relojoeiro nem um vingador, se revela como um Deus que, sem perder a identidade, se coloca livremente ao serviço do homem.
A ciência está a desenvolver-se de um modo que a ética é interpelada, alertando para o respeito pela Humanidade, para os direitos e para a dignidade da pessoa humana. É, talvez, esta uma forma indirecta de colocar a questão de Deus na sociedade moldada pela tecnologia, onde a ciência e vista como a plenitude do ser humano, a sua salvação. Será a ciência capaz de responder às questões fundamentais do Homem integral? Fica a interrogação.
Por outro lado, possuímos modos próprios de escutar a realidade, para lhe descobrir os fundamentos e o sentido. Oscilamos e temos dúvidas , mas um observador imparcial poderá ver que estamos a caminhar para o retomo do religioso. Deus, que foi arrebatado das ciências deste século e para o qual Nietzsche anunciou a morte, está de volta nas interrogações do homem.
A admiração é o momento inicial de todo o conhecimento humano. Mas não é no espanto que o crente pode intuir a gratuidade de ser chamado à comunhão com Deus? A maravilha desta graça pode fazer surgir a interrogação sobre as razões da esperança. Nesta dinâmica, revela-se um homem como mistério, em abertura para o mundo, em busca de um sentido sempre maior.
Deus, ocultado pelo pensamento autónomo, reaparece através da mediação interpessoal, pela admiração e pelo amor. É um Deus que está para além das categorias de necessidade, utilidade e contingência. Não será este o Deus da Sagrada Escritura que, mesmo revelando-se, mantém a sua identidade de totalmente Outro, que não se confunde com nenhuma realização humana?
Com a derrocada dos tradicionais pontos de partida para Deus, o cosmológico e o antropológico, torna-se claro que o homem moderno não precisa de Deus para explicar o cosmos e muito menos para implantar uma antropologia ou ética cheios de sentido. É precisamente aqui, num clima de secularização e indiferença religiosa, de expansão da ciência e da tecnologia, que se coloca a questão de Deus de uma forma totalmente livre e gratuita. Deus, não já como explicação, aparece, então, como dom.
A afirmação pós-moderna da não necessidade de Deus é precisamente o luxo supremo de toda a vida humana. Para os crentes, Deus é o luxo que procuram numa sociedade tecnológica e científica. Neste sentido, Deus é mais que necessário, mas sem se constituir em função da nossa sociedade.
Não nos sentimos nós atraídos por um amor que se atreve ao inútil, ao supérfluo e ao desnecessário? Não será que o Deus de Jesus Cristo necessita dos homens, não para ser Deus, mas sim para ser um Deus dos homens?

Ressurreição

Não há nada mais consolador do que saber que o nosso corpo ressurgirá, que a morte e a consequente separação das pessoas queridas não é a última palavra.

O desejo original

O homem é humus, vem da terra e para ela volta. É mortal e está consciente de que o é: isto torna-o humano.

Contudo, volta à terra como uma semente caída da planta, regressa ao lugar de onde veio como promessa de vida.

A ressurreição não é simples reanimação de um cadáver que volta a viver, mortal como antes. É, pelo contrário, aquela plenitude de felicidade e de vida – não há felicidade sem vida – a que sempre aspiramos.

É a realização do nosso desejo original: tornarmo-nos como Deus (cf. Gn 3, 5). Um desejo purificado, ordenado e realizado pelo próprio Deus em Cristo.Toda a cultura é uma espécie de máquina feita para derrubar os limites. O homem sente dentro de si a ânsia de libertar-se do último limite para gozar de uma existência livre da hipoteca da morte.

O início da ressurreição universal

A ressurreição, centro da fé cristã, refere-se precisamente ao corpo e funda-se na esperança de Jesus ressuscitado. A sua e a nossa ressurreição relacionam-se de tal modo que uma não é verdadeira sem a outra.

De facto, a ressurreição de Jesus é para nós; é o início da ressurreição universal dos mortos.

A história toda é vista como um parto que gera a nova criatura. E a própria criação espera com impaciência, «geme e sofre nas dores de parto», esperando vir à luz da glória dos filhos de Deus, à redenção do corpo (cf. Rm 8,19-24).

Por isso, não nos interessa a teoria da reincarnação que nega a ressurreição do corpo enquanto o considera um peso de que é necessário libertar-nos.

A manhã de Páscoa

Na manhã de Páscoa veio à luz a cabeça, Cristo. Vem a seguir o corpo, que somos nós. Ele foi o primeiro que começou a viver uma vida que vai para além da morte; é o primogénito daqueles que ressuscitam dos mortos.

A ressurreição é a beleza de Deus participada ao homem e, nele, a toda a criação: são os novos céus e a nova terra contemplados por Isaías (65, 17), onde tudo tem o espanto de uma manhã perene que não conhece ocaso, de uma alegria nascente e perene.

Finalmente o homem inquieto – que não encontra «nada de novo debaixo do Sol», como diz Qohélet, o Eclesiastes (1, 9) – descobre a novidade inaudita que há tempos vem procurando.

É uma «visão» que supera a nossa imaginação, mas é também o sonho secreto do nosso coração.

Aqui e agora

Mas a eternidade, a vida nova e definitiva já entrou, com a morte e ressurreição de Jesus, na minha esperança.

É por mim vivida, aqui e agora, na indestrutibilidade dos gestos que faço: de amor, de fidelidade, de perdão, de amizade, de honestidade e de liberdade responsável. Gestos em que supero misteriosamente o tempo, alcançando a eternidade na medida em que me confio à vida e à eternidade do crucificado Ressuscitado que venceu a morte.

É bom pensar que posso resgatar a angústia do tempo, a história do meu corpo, com actos de dedicação que têm um valor definitivo, depositado na plenitude do corpo ressuscitado de Cristo!

É bom pensar que cada palavra que digo na oração é mais um tijolo lançado na eternidade para construir a morada que não tem fim.

O Corpo

Há um texto muito lindo do card. Carlo Maria Martini sobre o corpo.
Vou respigar um pouco da parte que fala dos sacramentos de iniciação cristã.

O corpo do cristão

O cristianismo está totalmente fundado no corpo que Cristo assumiu: é a religião do Logos incarnado, da Palavra que se fez homem.

Ele é projectado no corpo do cristão que é mergulhado na água do baptismo e, depois, acompanhado ao longo dos vários momentos da vida, até à última doença e à morte, como prelúdio da ressurreição do corpo. Este corpo do cristão vive pela sua inserção no Corpo de Cristo que é a Igreja.

Portanto, o cristianismo tem no centro um corpo que nasce, cresce, comunica, reproduz-se, dilata-se, sofre, adoece, cura-se e morre; porque é fazendo-se corpo que vive a Palavra.

E todas as diversas fases do meu corpo têm um signifi­cado, uma «palavra» para que remetemos. Esta palavra é dita pelos sacramentos da Igreja, vejamos o da Iniciação Cristã.

Os sacramentos

Os sacramentos explicitam e exprimem a palavra dita pelo corpo, actualizam a sua potencialidade comunicativa.

Em cada sacramento há uma palavra que dá forma, sentido completo e vida a coisas e gestos relativos ao corpo humano e ao seu caminho para Deus, sempre em referência ao Corpo de Cristo e ao Corpo da Igreja.

O nascimento e o crescimento do corpo estão em conexão com o Baptismo, com a Confirmação e com a Reconciliação.

Alimentar-se e tornar-se adulto estão em conexão com a Eucaristia e com a Ordem sagrada.

Ser amado e amar em conexão com o Matrimónio.

O sofrimento e a morte em conexão com a Unção e o dies natalis, com o baptismo definitivo. Daqui deriva uma concepção da morte como nascimento para a vida e para a promessa da ressurreição e da transfiguração do corpo.

Dia Mundial do Doente

A celebração da Jornada do Dia Mundial do Doente tem por objectivo:
– sensibilizar o povo de Deus, e por conseguinte, as várias instituições de saúde católicas e a sociedade civil, ante a necessidade de assegurar a melhor assistência possível aos doentes;
– ajudar o doente a valorizar, no plano humano e sobretudo no plano sobrenatural, o sofrimento;
– fazer que se comprometam na pastoral sanitária, de modo especial, as dioceses, as comunidades cristãs e as famílias religiosas;
– favorecer o compromisso cada vez mais valioso do voluntariado;
– recordar a importância da formação espiritual e moral dos agentes da saúde,
– fazer com que os sacerdotes, assim como os vivem e trabalham com os que sofrem, compreendam melhor a importância da assistência religiosa e espiritual aos
doentes.
João Paulo II

Eucaristia: Pão que mata a fome de plenitude!

O ser humano é um ser carencial (M. Zambrano), que tem que resolver diversas necessidades, inclusivamente espirituais, sempre tendendo para a plenitude. Toda busca se centra na grande procura, na procura do sentido, que se concretiza nestas perguntas: quem sou?; de onde venho?; para onde vou?; Para quê tudo isto?…
É que, às vezes, pode chegar-se conclusão de que:

«Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim(…).

Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que projecto:
Se me olho a um espelho, erro –
Não me acho no que projecto».
(Mário de Sá-Carneiro)

É neste contexto, que eu observo cada dia pelas ruas da Cidade, que percebo cada vez melhor o Deus que se nos dá em alimento como pão: o Pão da Vida.
Cristo vê-nos com fome sede, conhece-nos, sabe que temos fome e sede de felicidade, de paz, de vida e de amor. Fome de autenticidade, de verdade e de integridade pessoal.
Porque Cristo é a Vida, e vida em abundância, nEle alimentamo-nos de verdade, de vida, de felicidade, de paz.
Na Eucaristia encontramos, de facto, a Vida que nos permite ter vida em abundância e vivificar os ambientes em que nos inserimos, nos quais fazemos caminho e onde experimentamos a salvação de Deus.

Doçura da vida…

Um certo dia, a professora querendo saber se todos tinham estudado a lição catecismo, perguntou as crianças quem saberia explicar quem é Deus?
Uma das crianças levantou o braço e disse:
– Deus é o nosso pai, Ele fez a terra, o mar e tudo que está nela; Nos fez como filhos dele.
A professora, querendo buscar mais respostas, foi mais longe:
– Como vocês sabem que Deus existe, se nunca O viram?
A sala ficou toda em silêncio…
Pedro, um menino muito tímido, levantou as mãozinhas e disse:
– A minha mãe me disse que Deus é como o açúcar no meu leite que ela faz todas as manhãs, eu não vejo o açúcar que está dentro da caneca no meio do leite, mas se ela tira, fica sem sabor. Deus existe, e está sempre no meio de nós, só que não o vemos, mas se Ele sair de perto, nossa vida fica… sem sabor.
A professora sorriu, e disse:
– Muito bem Pedro, eu ensinei muitas coisas a vocês, mas você me ensinou algo mais profundo que tudo o que eu já sabia. Eu agora sei que Deus é o nosso açúcar e que está todos os dias adoçando a nossa vida! Deu-lhe um beijo e saiu surpresa com a resposta daquela criança.

A sabedoria não está no conhecimento, mas na vivência de Deus em nossas vidas, pois teorias existem muitas, mas doçura como a de DEUS não existe, nem mesmo nos melhores açúcares…

Texto enviado pela Fernanda 😉

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(c) Paulo Pinto – 2005

O que fazer no «despertar religioso»?

Uma das grandes dificuldades da catequese actual deve-se ao facto de muitos catequizandos, apesar de frequentarem a catequese, não terem dado ainda o «salto da fé», ainda não terem dado a sua primeira adesão a Jesus Cristo.
Mas, «para que os candidatos dêem este passo, é necessário que neles tenham sido lançados os primeiros fundamentos da vida espiritual e da doutrina cristãs: um princípio de fé concebida durante o tempo do pré-catecumenado, um começo de conversão e uma primeira vontade de mudar de vida e de estabelecer relações pessoais com Deus em Cristo e, consequentemente, um primeiro sentido de penitência, a prática incipiente de invocar a Deus e de oração e ainda uma primeira experiência de vida da comunidade e do espírito cristão»(RICA 15).

Para que se possa falar de catequese propriamente dita, o catequizando deve:

– Aderir com firmeza o querigma;
– Mostrar uma conversão inicial a Jesus Cristo;
– Dar o primeiro assentimento de fé;
– Desejar seguir a Cristo;
– Desejar celebrar os Sacramentos da fé.

Agora sim, podemos contar com mais um catequizando…

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(c) 2005 – Ricardo Martinelli

Desenvolvimento Espiritual

É certo que a espiritualidade está de novo a ser descoberta e valorizada, e em sectores da sociedade estranhos e até afastados da Igreja, o que se calhar até é bom: consegue purificar-se a beleza que existe na relação com a Transcendência das «mesquinhices beatas» e «preconceitos eclesiásticos».
A tomada de consciência de que o ser humano procura uma resposta para as suas questões mais profundas, que não se esgotam num satisfazer de necessidades biológicas, e que superam a simples factualidade do dia-a-dia, lança cada ser humano na busca mais interessante da sua vida…

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As pessoas que se dedicam a investigar e a teorizar sobre estas áreas (cf. Zohar Danah e Ian Marshall, Inteligência Espiritual, ed. Sinais de Fogo, Lisboa 2005), sintetizam algumas qualidades presentes naqueles que querem progredir espiritualmente:
1 – Praticam e estimulam o auto-conhecimento profundo;
2 – São levadas por valores. São idealistas;
3 – Têm capacidade de encarar e utilizar a adversidade;
4 – São holísticas (capacidade de ver a relação entre coisas diversas);
5 – Celebram a diversidade;
6 – Têm independência (capacidade de lutar contra as convenções);
7 – Perguntam sempre «porquê»?;
8 – Têm capacidade de colocar as coisas num contexto mais amplo;
9 – Têm espontaneidade;
10 – Têm compaixão.

A dignidade da pessoa, à luz da história da salvação

O homem pecador
No segundo momento da história da salvação está o acontecimento «pecado».
Depois de criados, os homens, abandonando a justiça com relação a Deus e aos demais seres humanos, preferiram o egoísmo, a dominação, as riquezas injustas, a irresponsabilidade e as falsas delícias de todo o género. Este modo de agir conduz ao escurecimento do coração, que o Magistério actual chama de falta de sentido de pecado, que hoje está muito difundido.
Por causa deste defeito, há o perigo de que a prática e a proclamação dos direitos humanos resulte estéril, porque se põe muitas vezes o objectivo de mudar as situações injustas e pecaminosas, sem o intento de mudar os corações. Não podemos esquecer que tais estruturas normalmente são fruto dos pecados pessoais que têm a sua raiz no pecado original e que, como uma grande massa de pecados, se chama, por vezes, pecado do mundo. Mais ainda, suposta o permanente voltar-se para si mesmo do homem depois do pecado, o homem actual, ao desfrutar de maiores possibilidades técnicas e económicas, está também submetido a maiores tentações de comportar-se como senhor absoluto (e não como vice-senhor dependente de Deus) que crie umas estruturas ainda mais opressivas, com respeito aos outros.
A Igreja ao proclamar a doutrina do pecado e toda a sua integridade, convida os homens à conversão do coração, para que abandonem as injustiças. A justiça em toda a sua plenitude, proclamada pela Igreja, reconhece os direitos de Deus Pai e dos homens irmãos. Deste modo se entende que a pregação da doutrina do pecado seja uma válida contribuição para a promoção dos direitos da pessoa humana. Os cristãos, com a sua doutrina, podem dar algo de novo ao esforço universal de promover esses direitos. Para mais, pode dar-lhe uma esperança inaudita, pois o cristão não tem a sua esperança numa realidade penúltima, mas só na última, na escatologia. Deve tentar fazer sempre um mundo melhor, ainda que por vezes só veja frutos terrenos que, à imagem de Cristo, são a cruz e o fracasso. Também nesta configuração com Cristo crucificado, o homem que busca a justiça prepara o Reino escatológico de Deus. Por isso, cada cristão abraça a causa dos direitos humanos com uma profunda esperança.

O homem redimido por Cristo
A excelência da teologia da história da salvação, presente no Vaticano II, aparece também se se consideram os efeitos da redenção adquirida por Cristo o Senhor. Pela sua cruz e ressurreição, Cristo Redentor dá aos homens a salvação, a graça, a caridade activa e abre, de modo mais amplo, a participação da vida divina, simultaneamente animando, pelo mesmo facto, purificando e robustecendo os desejos generosos com os quais a família humana tenta fazer a sua vida mais humana e submeter toda a terra a este fim.
Cristo comunica estes dons, tarefas e direitos à natureza redimida e chama a todos os homens que pela fé e pela caridade se unam ao Seu mistério pascal, dando cada um a vida pelos demais, tal como Ele o fez.
A doutrina, os exemplos, e também o mistério pascal de Jesus confirmam que os esforços dos homens que procuram construir um mundo melhor, conforme à dignidade do ser humano, são dignos e rectos. Criticam as deformações destes esforços quando pensam que se pode alcançar utopicamente o seu êxito pleno aqui na terra ou se empregam meios contrários ao Evangelho para alcançar esses fins. Superam estes esforços quando se propõe com luz meramente humana, enquanto que o evangelho oferece um novo fundamento religioso especificamente cristão à dignidade e direitos humanos, e abre umas perspectivas novas e mais amplas aos homens como verdadeiros filhos adoptivos de Deus e irmãos em Cristo paciente e ressuscitado, pois Cristo está sempre presente em toda a história humana.
Os cristãos devem conformar-se, com o seu coração e com o seu agir, às exigências da vida nova e agir de acordo com a dignidade cristã, estando especialmente disposto a respeitar os direitos de todos: agindo segundo a lei de Cristo e o novo mandamento da caridade, numa atitude de total desprendimento.
No uso que cada cristão faz dos bens da criação deve cooperar com o Criador, libertando-a da escravidão e corrupção do pecado, para que sirva a justiça com respeito a todos pelos bens da dignidade humana, da comunhão fraterna e da liberdade. Desta maneira, como na nossa vida mortal levamos, pelo pecado a imagem do Adão terreno, devemos, agora, pela vida nova, levar a imagem do Adão celeste, o qual constantemente pro-existe para o bem de todos os homens.
Nesta divinização e humanização do mundo cósmico e social, o trabalho e a distribuição das riquezas tem um lugar privilegiado. O trabalho humano é um ponto crucial para a dignidade e os direitos a nível cristão. Por cima das finalidades e das estruturas próprias das coisas, das actividades e dos homens, existe uma dimensão mais profunda, que vai da cruz, sofrimento e glória, até à Parusia.

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(c) 2005 – Filipe Santos