Congresso Sacerdotal – Um exemplo, também, de boa comunicação!

Conclusões

A. O primeiro Congresso sobre o Sacerdócio do século XX, em Portugal, foi realizado em Braga, em 25 de Outubro de 1905. O primeiro do século XXI, sendo de cariz internacional, também foi realizado em Braga, de 12 a 15 de Janeiro de 2010, comemorando 450 anos da fundação do Colégio de S. Paulo, actual edifício do Seminário Conciliar.

B. Os congressistas tiveram uma singular oportunidade de, em conjunto, rezar, cantar, reflectir, dialogar, tomar refeições em comum, conviver, presenciar e participar em manifestações artísticas, mormente de índole musical, poética e teatral.

C. Atentos ao acontecimento do terramoto ocorrido no Haiti, os congressistas manifestaram a sua profunda vizinhança e comunhão com os sobreviventes e imploraram a Deus o repouso eterno para os numerosos falecidos.

D. O número de participantes superou as três centenas de presbíteros, vindo alguns de outras dioceses. Inscreveram-se também umas três dezenas de leigos.

E. A cobertura dos meios de comunicação foi bastante ampla, tendo-se utilizado, com proveito e eficiência, as novas tecnologias de comunicação.

F. O texto de Heb 2,17 foi a fonte de enraizamento bíblico que inspirou a multiplicidade de comunicações e testemunhos:

«Deve em tudo aos seus irmãos ser semelhante, a fim de misericordioso se tornar e fidedigno Sumo Sacerdote nas coisas para com Deus para propiciar os pecados do povo».

Realçamos, pois, as seguintes conclusões:

1. O presbítero dos nossos dias encara as transformações do mundo e seus reflexos na Igreja como soberana oportunidade para se dar conta de que o seu ministério é fundado sacramentalmente: compete-lhe manifestar claramente aos olhos dos outros fiéis que só um é Senhor da Igreja, só um a orienta e apenas um possui nela a Palavra – Jesus Cristo.

2. No ministério eclesial, não se coloca uma autoridade humana no lugar de Cristo, mas é Ele mesmo tornado presente sacramentalmente, um sinal eficaz que para Ele aponta e no qual Ele próprio garante agir.

3. O presbítero encaminha, pela palavra, sacramentos e prática da sua vida, os outros fiéis para a única cabeça da Igreja, para Cristo.

4. Toda a acção eclesial é, no sentido mais vasto, sacramental, isto é, acção representativa. Nela se realiza, se exprime, se corporiza aquilo que o próprio Deus realiza com os humanos. Por isso, só é autêntica quando dá corpo à acção de Cristo, à acção de Deus, e a torna simbolicamente visível.

5. É Deus que age na Igreja. É errado organizarmos as actividades eclesiais em função do êxito, do número. O que realmente conta é a disponibilidade para o envio sacramental, nomeadamente no anúncio da Palavra e, em sinais eficazes, chamar seres humanos para o Povo de Deus e acompanhá-los no caminho do seguimento do Senhor, dando-lhes coragem para o envio no mundo. “Êxito não é nenhum dos nomes de Deus” (Martin Buber).

6. O cerne do ministério presbiteral está em ser indicação sacramental, nos pontos nevrálgicos da vida Igreja, da comunhão entre Deus e o ser humano; e dos homens entre si. Celebrar a comunhão eucarística, sem procurar viver, – pelo menos com o mesmo peso – a comunhão quotidiana, e sem realizar a missão no interior do mundo, é algo perverso.

7. As novas realidades do nosso mundo exigem novas formas de ser presbítero. O ministério eclesial tem que ser colegial. É-se bispo no colégio dos bispos; é-se presbítero no presbitério. Quem possui o ministério da unidade deve agir unido. Mais, deve, quanto possível, viver conjuntamente, como exigia Santo Agostinho aos seus padres.

8. O padre tem de ser um homem de Deus, um mistagogo que conhece o mistério de Deus, o vive em comunhão, o celebra e o comunica com entusiasmo e alegria.

9. Anuncia uma Palavra salvadora, eficaz, de futuro e de esperança. Fá-lo com paixão por Aquele que é a Palavra e comprova a verdade do seu testemunho na compaixão pelos irmãos, verdadeiro caminho de paz e unidade. Segundo o Novo Testamento, Cristo é Sacerdote por assemelhação com os seus irmãos e não por separação.

10. É um sacerdote que incorporou a absoluta necessidade de formação permanente para possuir uma formação superior à média e poder responder com propriedade aos desafios completamente novos dos nossos dias.

11. É um padre que dedica muito tempo à formação dos leigos, não só para que a sua fé seja cada vez mais esclarecida e luminosa, mas para que desempenhem, com verdadeiro espírito missionário, as múltiplas tarefas que lhes são próprias: na família, na sociedade e na Igreja.

12. A unção do Espírito Santo, que a imposição das mãos realiza, é para que, pela acção do presbítero, aquilo que o baptizado já é sacramentalmente, se realize existencialmente, também na promoção dos diversos ministérios – nomeadamente o diaconado permanente – e em estilos de vida comunitária cada vez mais colegiais.

13. Os seminários, numa atitude maternal, devem acolher com benevolência os candidatos e saber exigir, com docilidade e firmeza, uma formação humana, espiritual, pastoral e cultural muito sólida, ancorada ainda no compromisso da formação permanente.

14. As pessoas manifestam, em esmagadora maioria, o desejo de que os sacerdotes tenham grande disponibilidade para ouvir e atender, acompanhar e aconselhar, serem alguém em quem se confia plenamente.

15. Comunicar é serviço; não é protagonismo. Mas exige séria formação. Só assim poderá haver celebrações, sobretudo da eucaristia, que sejam espelho de uma comunidade salva e agradecida. Homilias curtas, incisivas e cobrindo os pontos essenciais.

A hora de mudança e de transformações rápidas na sociedade e na Igreja exige claramente novos modos de organização da vida eclesial e novos estilos diversificados de exercício do ministério presbiteral. Os caminhos a percorrer e as decisões a tomar hão-de ser procurados, em comunidade, na escuta atenta da Palavra que nos salva e do seu rumor nas plurais palavras humanas.

Braga, 15 de Janeiro de 2010

O Congresso pode ser visto aqui.

A Igreja é Comunhão – IX

O processo de alteração da sociedade, através das evolução tecnológicas, estou em crer, é imparável. No futuro, a ciência e a técnica “continuarão a desenvolver-se segundo uma lógica que lhes é imanente e necessária, e a sua transmissão às gerações futuras é também consequência lógica do seu valor universal. Não se lhes pode pôr freios, contrapondo-lhes o sonho romântico de um paraíso terrestre, anterior à era da ciência; ou seja, um modo de negar aos outros aquilo que não queremos perder. O que importa, sim, é achar os meios mais adequados para lhes limitar os danos”(Joseph Ratginzer).
Se, por um lado, vivemos numa época em que a informação flui por toda a parte, por outro, o indivíduo tem de ter capacidades para se saber localizar, tanto quanto possível, na complexidade.
A educação desempenha aqui um papel importante; a linha de pensamento educacional moderna põe o seu acento na ideia de autonomia e tomada de responsabilidade pelo próprio indivíduo. A noção não é de forma alguma nova mas adquire valor de resposta à crise contemporânea de ideologias que deixa o homem sem ponto de apoio individual e colectivo.
Podemos dizer que o mundo tecnológico apresenta-se como algo de enigmático aos nossos olhos, tanto mais que acarreta consigo um estado de crise preocupante. Esta é-o porque não tem paralelo com nenhuma época anterior. A especificidade desta vem-lhe da enorme mudança que a caracteriza. Contudo, a sociedade tecnológica continua a desenvolver-se segundo uma lógica que lhe é própria e na qual cada indivíduo é chamado a tomar responsabilidades.
Neste contexto a vivência da comunhão pode assumir novos contornos; as possibilidades técnicas podem ajudar a uma maior clarificação do conceito de «comunhão» e a achar formas novas de a praticar. É um dado assente que esta revolução é universal, tal como a Igreja pretende ser (católica), assim à Igreja cabe compreender este processo, assimilá-lo, na medida do possível, para poder situar-se na nova sociedade e realizar aí a sua missão.

A Igreja é Comunhão – VIII

A tolerância perante o erro, a ambiguidade e, acima de tudo, a diversidade, apoiada por um sentido de humor e das proporções, são artigos de sobrevivência, quando preparamos a nossa mochila para a espantosa viagem do próximo milénio. Preparem-se para o que poderá ser a mais excitante viagem da nossa história(Alvin Toffler).

Vivemos no mundo da comunicação.
Este dado influencia e condiciona sobremaneira o modo de ser e de agir dos indivíduos e, consequentemente, das sociedades. Mas o mundo da comunicação continua ainda um mundo misterioso, cheio de segredos e surpresas. Apesar de se terem descoberto nele limitações, contradições e práticas que o obrigam a se adaptar e se transformar, muitas das suas estratégias permanecem ainda ocultas, ambíguas, e muitas das suas consequências nos são ainda desconhecidas.
Por esta razão, a era da informação e as suas consequências podem ser discutíveis, mas merecem ser analisadas; parece, inclusive, sintetizar as duas etapas de comunicação anteriores: escrita e audiovisual. Das dez grandes transformações que marcam hoje a nossa sociedade, nenhuma é mais subtil, e contudo mais explosiva, que a passagem de uma sociedade industrial para uma sociedade de informação.
Embora se possa duvidar do nome ou das causas, o certo é que vivemos uma crise que nos preocupa. Perante isto, “torna-se necessário reconhecer que o que a ‘nossa’ apresenta de original e único (para além de não podermos deixar o cuidado da sua resolução aos outros) assenta na qualidade de mudança e de imaterial que caracterizam a nossa civilização e a nossa cultura neste final de século”(João Caraça). O que se torna preocupante é que a novidade deixa-nos sem pontos de apoio no passado; a história não nos dá grandes lições, pois nenhuma sociedade se organizou como a nossa.
É impossível iludir esta crise que está em plena eclosão no Ocidente e que se alastra a todo o globo: temos que tentar compreendê-la. Sabemos, à partida, que as mutações que estamos a viver são fruto de transformações tecnológicas, em ordem à massificação da informação. Sabemos também que as novíssimas estradas da informação permitem deslocar recursos, instantaneamente, através das praças financeiras. Permitem, também, fluxos de informação. E de fluir resulta influenciar.
A mentalidade resultante daqui modela a cultura e os modos de pensar tornam-se diferentes dos do passado. “A técnica progrediu tanto que transforma a face da terra e tenta já dominar o espaço”(GS 5).
Mas, por outro lado, “o progresso tecnológico deixou de ser visto como a maneira automática e natural de atingir o bem-estar económico e social no nosso planeta. A crise presente, pelas suas características globais, resulta do desajuste (ou esgotamento) do modelo da modernidade que vigorou nos últimos 150 anos”(João Caraça), estão a emergir vozes críticas que põe em causa a viabilidade da autonomia do progresso tecnológico.

A Igreja é Comunhão – VII (ponto de situação)

Se, por um lado, a comunhão aparece como algo de desejável, por outro lado, é uma realidade que todo o homem nasce, vive e morre só. A agudeza desta verdade sente-se a caminho de cada calvário, lugar onde cada um percebe o valor e a importância da comunhão, pois quando experimentamos a ajuda de um qualquer Cireneu, recordamos o de desejo de viver em comunhão.
Mas é precisamente este valor que está em crise, devido às mutações sociais, provacadas pela industrialização e as crescentes mobilidades. A Igreja, existindo neste contexto histórico, também se sente perturbada por tais mudanças sociais, até porque a linguagem usada pela sociedade deixou de ser a religiosa.
Torna-se então claro que a Igreja tem de repensar a sua missão, tem de se repensar. É a sua própria identidade que está em causa. A comunhão — que a Igreja é — pode ser um ponto de ligação entre as duas sociedades. A tarefa que se impõe é a de descobrir as fontes inspiradoras da comunhão: elas são a Sagrada Escritura e as comunidades eclesiais concretas, pois se por um lado a comunidade primitiva experimentou e viveu a comunhão, por outro lado nós hoje conhecemos e experimentamos esta realidade através das comunidades que se lhe seguiram ininterruptamente até hoje.
Segundo a Sagrada Escritura a comunhão humana deriva da comunhão trinitária, como a imagem deriva do original. A própria salvação é obtida através de Jesus Cristo, mas em comunhão com os outros baptizados. Dá-se a mística do encontro entre Deus e os homens, entre os homens e Cristo, e dos homens entre si. Aqui está patente a dinâmica da salvação na qual Deus nos introduz pelo baptismo. O cânone da autenticidade de cada acto comunitário está na Igreja primitiva, na Igreja dos Actos dos Apóstolos. Aí, o exercício da comunhão fazia-se através da participação e da partilha comunitárias.
O Espírito Santo apresenta-se, neste contexto, como o autêntico agente dessa comunhão que converte em católica a Igreja universal, ao integrar a diversidade e pluralidade de elementos. De notar que uma sociedade que se deixa inspirar pela comunhão trinitária não pode tolerar as classes, as dominações a partir de um poder que submete e marginaliza os que ousam ser diferentes, respondendo afirmativamente à sua identidade.
Mas a Igreja, que é comunhão, só se compreende a partir de factos concretos e visíveis: enquanto comunhão eucarística, a Igreja é não só imagem da comunhão trinitária, mas também a sua actualização. Ela não é apenas sinal e meio de salvação, mas também fruto da salvação. Enquanto communio eucarística é a resposta sobreexcedente à questão humana originária da comunhão.
Esta questão é mediada por símbolos; são eles que nos reportam para o mistério. Actualmente há a disparidade entre as objectivações eclesiais e a restante sociedade, havendo a registar muitas contingências que afectam a valorização dos símbolos religiosos, pelo que a Igreja deve fazer-se a si mesma de muitas formas, cada uma delas representa uma acomodação do símbolo aos destinatários. Deste modo, a Igreja presente no mundo, recorda a dimensão esquecida do homem, a dimensão relacional, a que aspira até no além-túmulo.
Algumas formas de comunhão têm na morte a sua fronteira inevitável, o fracasso de todos os messianismos terrenos e a inexistência de uma esperança verdadeiramente universal. A comunhão eclesial, pelo contrário, é comunhão também para além da morte; só ela pode satisfazer o desejo mais íntimo do coração humano. A instituição eclesial deveria ser o espaço onde se vive já o que proclama a fé, o sinal sacramental da fraternidade escatológica, que, além de aguardar o significado, realiza o que significa. As dimensões visível e invisível da Igreja não deviam ser consideradas como duas coisas distintas, mas como duas dimensões implicadas mutuamente.
É, pois, de suma importância que a comunhão se fundamente teologicamente e que se diga: a eclesiologia da comunhão constitui o critério fundamental para a ordenação da Igreja e especialmente para a correcta relação entre unidade e multiplicidade; síntese muito útil numa sociedade da informação ou informacional, pelo que se manifesta a necessidade de cultivar o espírito de comunhão para construir a comunidade.

A Igreja é Comunhão – VI

É de suma importância que a comunhão se fundamente teologicamente e que se diga: a eclesiologia da comunhão constitui o critério fundamental para a ordenação da Igreja e especialmente para a correcta relação entre unidade e multiplicidade; síntese muito útil numa sociedade da informação ou informacional.

Para mais, e segundo Walter Kasper, “a ânsia humana pela comunhão visa algo que possa ser o uno e o todo do homem, algo que ultrapassa todo o humano e só encontra o seu cumprimento na autocomunicação de Deus, na comunhão e amizade com Deus. O anelo do coração humano é tão grande e tão profundo que só Deus é suficientemente grande para o cumular. Só Deus é a última resposta à questão que é o próprio homem”(W. Kasper). A comunhão toma um lugar eminente na prática pastoral, ou pelo menos devia tomar, pois é “um modo de ser, viver, relacionar-se e trabalhar em Igreja, de construir uma comunidade cristã. Por conseguinte com implicações pastorais. Deve configurar um estilo, modelo de pastoral a partir de dentro. Faz parte da realidade dos cristãos. Por isso, é necessário antes de mais cultivar o espírito de comunhão para construir a comunidade”(A. Marto).

A comunhão é uma aspiração de todo o homem, pois este realiza-se na relação com os seus semelhantes. Mas esta prática está em crise, em parte derivada da mentalidade científico-tecnológica emergente na sociedade actual, a qual constitui um mito para o homem moderno.

Poderá, por ventura, esta mentalidade trazer algo de novo à Igreja que ajude a compreender e a realizar a comunhão, como característica essencial da Igreja? Antes de mais é preciso compreender e ver como é que a sociedade actual realiza e aspira à comunhão. É o que faremos a seguir.

A Igreja é Comunhão – V

Ainda no ambiente do Concílio, mais concretamente no desencadear próximo das suas consequências, podia-se acreditar que a crise na pertença eclesial, na ausência de comunhão, era sobretudo vivida pelas novas gerações, que acentuavam de boa vontade a referência evangélica a Jesus. Logo depois, apesar de tudo, a frase ‘sim a Jesus, não à Igreja’ revela que a pertença eclesial não era só vista de uma forma problemática pelos jovens: a situação real das condições de pertença à Igreja mudou por causa de factores culturais, como o ambiente pluralista, a crise das autoridades, a valorização da subjectividade pessoal e a religiosidade interior, e como consequência também do Choque de Futuro que então se começa a sentir um pouco por toda a parte.
Como consequência da fé cega na ciência e num aspecto superficialmente humano, a comunhão vê na morte a sua fronteira inevitável. Todas as “utopias humanas, mesmo as mais elevadas, de um reino de liberdade e justiça, não podem compensar a injustiça feita aos que já morreram, aos torturados e assassinados do passado. Assim, as utopias puramente humanas não fundamentam nenhuma esperança verdadeiramente universal. Pelo contrário, a communio da Igreja é communio também para além da morte. Só ela pode cumular o anelo do coração humano”(W. Kasper). Mas do pós-morte nada se sabe e para responder a esta questão, a Igreja tem de fazer referência ao seu fundador e apelar para o seu mistério: a sua dimensão humana e divina, sendo esta última a única capaz de fazer justiça ao homem, respondendo-lhe à questão sobre o sentido da vida. A fé cristã impele a antecipar activamente no tempo presente o que será realidade consumada na eternidade. A Igreja deveria ser o espaço onde se vive já o que proclama a fé, o sinal sacramental da fraternidade escatológica, que, além de aguardar o significado, realiza o que significa.
As dimensões visível e invisível da Igreja não devem ser consideradas como duas coisas distintas, mas como duas dimensões que formam uma realidade complexa que está integrada de um elemento humano e outro divino. Esta afirmação que é sumamente importante para a compreensão da eclesiologia do Vaticano II, está fundada cristologicamente na analogia entre o mistério do Verbo encarnado e o mistério da Igreja, segundo a qual ‘assim como a natureza assumida serve ao Verbo divino como instrumento vivo de salvação unido indissoluvelmente a ele, de modo semelhante a articulação social da Igreja serve ao Espírito Santo, que a vivifica, para o aumento do seu corpo.
Perante esta realidade o desejo de comunhão, que traduz a situação espiritual do mundo, e os movimentos litúrgico, bíblico e ecuménico, movimentos internos de renovação, em que despertava a consciência eclesial, convergem na redescoberta da Igreja como comunhão. E o concílio, atento a uma das questões mais profundas do nosso tempo, purificando-a à luz do Evangelho, procura responder-lhe de uma forma que supera a questão e a busca puramente humanas.
E a inovação do Vaticano II de maior transcendência para eclesiologia e para a vida da Igreja foi o ter centrado a teologia do mistério da Igreja sobre a noção de comunhão, que é a ideia central e fundamental nos documentos conciliares.
A comunhão entre os homens é o sinal e reflexo da nossa comunidade pessoal com Deus; aquela é possível apenas como praxe da adoração, como praxe do reconhecimento concreto da transcendência da comunhão trinitária.

O individualismo não tem lugar na Igreja pois a comunhão e a relação pessoal constituem o seu tecido.

Jesus, o Pão do Céu (Jo 6)

Jesus, pão da vida

Ao longo do trabalho, vamo-nos dedicar à análise das diversas secções do capítulo sexto do Evangelho de S. João. Para tal, iremos seguir a divisão da Tradução Ecuménica da Bíblia, que é também utilizada pela Bíblia de Jerusalém e pela Bíblia Sagrada dos capuchinhos.

O sexto capítulo integra a terceira secção do livro dos sinais e começa com o esquema habitual. Dois acontecimentos: a multiplicação dos pães e o caminhar sobre as águas; e dois discursos: um sobre o pão da vida[1] e o outro sobre a eucaristia[2] .

Entre os acontecimentos e os discursos há uma espécie de «entreposto que pretende centrar a questão sobre o verdadeiro alimento»[3]. O evangelista toma como ponto de partida um relato do qual temos «exemplos paralelos na literatura judia e profana. Com a multiplicação dos pães, o autor atribui a Jesus o que se contava dos grandes profetas e taumaturgos»[4], com a intenção de ensinar que quem tiver necessidade de remédio pode encontrá-lo em Jesus.

O segundo sinal, o caminhar sobre as águas, interrompe a narração. A lógica exigiria unir os discursos sobre o pão da vida e sobre a eucaristia com o relato da multiplicação dos pães. «O evangelista coloca-o aqui porque era assim que figurava nos textos narrados»[5]. Os sinópticos referem-no na mesma ordem. É uma constatação importante, pois o evangelho de S. João, apesar de ser muito alegórico, está veiculado com a tradição eclesial.

1. Multiplicação dos pães (VI, 1-15)

A cena desenrola-se depois de os discípulos andarem já há algum tempo com o Senhor, o número dos que O seguiam não parava de crescer. «As multidões seguiam Jesus por causa das suas curas e dos seus ensinamentos»[6]. Com este relato, o evangelista tenta realçar o conhecimento sobre-humano de Jesus, que aparece como o Senhor. Toda a situação se desenrola debaixo do seu controlo: Ele sabe perfeitamente o que tem que fazer, e tem a iniciativa em todo o momento. Adianta-se às necessidades que Lhe são apresentadas pelos discípulos. Nos sinópticos[7] são estes que lembram ao Mestre a necessidade da multidão[8]. O «relato de S.João é como uma parábola em acção que pretende destacar a finalidade pela qual Jesus veio ao mundo. Esta acentuação faz com que a cena se ‘desumanize’ em grande medida»[9]. Desaparecem os traços humanos, como é o caso da compaixão pela multidão que há muito que já não come e está a desfalecer[10]. São os sinópticos que recolhem a dimensão mais «humanitária» da cena[11].

Acentua-se a preocupação de Jesus pelo homem e por resolver as suas necessidades mais profundas, em «responder a esta fome que é a razão de ser do pão e do trabalho, a fome de se dar a comer àqueles que o amam»[12]. A multidão seguia Jesus porque via os sinais que fazia com os enfermos. Este facto extraordinário lembra à multidão a figura de Moisés a dar de comer ao povo no deserto. Deduzem que Jesus é um profeta semelhante a Moisés e querem fazer d’Ele rei[13]. «Jesus aparece como a personagem central do relato»[14].

No evangelho joanino o papel dos discípulos fica reduzido apenas à acomodação das pessoas. Naturalmente que devem também recolher o que restar da multiplicação, em cestos.

Tenta-se ressaltar o universalismo da pessoa de Jesus. O número mil designa uma grande multidão[15], e esta vê-se multiplicada por cinco no caso das pessoas saciadas. Os números pretendem sublinhar o aspecto simbólico do relato. O número sete — cinco pães e dois peixes — apresenta Jesus como a plenitude da graça de Deus[16]. Esta graça é inesgotável e permanece na Igreja para sempre. O simbolismo dos cestos que sobram sublinha esta realidade. Devem servir para dar de comer a todo o povo de Deus, simbolizado nos doze apóstolos[17].

O quarto evangelho é o que nos oferece mais pistas sobre a relação desta passagem com a Eucaristia: a leitura de Jo VI, 11 remete-nos para a celebração eucarística. Dentro deste âmbito, merece menção especial o verbo gÛP”D4HJXT que habitualmente se traduz por ‘dar graças’. É este o verbo utilizado na Última Ceia[18] e na referência que S. Paulo faz a ela[19]. E já no início do segundo século se tinha convertido no termo técnico para designar a celebração eucarística[20].

Esta está intimamente ligada à alegria natural de quem celebra as maravilhas de Deus, «porque estas maravilhas são expressas pelo homem nas acções de graças que dão colorido ao louvor de reconhecimento: nestes casos, a acção de graças é acompanhada de uma ‘anamnese’ pela qual a memória evoca o passado»[21].

Não esqueçamos também que, para além de Moisés e dos sacrifícios sangrentos dos animais, relembra, pela oferta do pão e do vinho do pão e do vinho e as acções de graças, o rei sacerdotal Melquisedec, no seu encontro com Abraão[22].

Mas mais do que da multiplicação este relato fala da multiplicação do pão. É evidente que o interesse do narrador não está centrado no facto em si, mas no seu significado. Na mente do evangelista o milagre deve ser considerado como sinal, como símbolo que aponta para outro pão que pode saciar toda a classe de homens[23]. Isto é posto em relevo tanto pelo discurso do pão da vida, como pelo eucarístico. Mas é todo o conjunto que nos oferece a base para afirmar que o evangelista tenta que os leitores entendam o relato como sinal da salvação que Jesus trouxe para todos os homens. É este o cumprimento das esperanças associadas à Páscoa: a libertação total do homem das suas escravidões, incluindo a morte; é a superação daquilo que parece impossível aos homens[24]; é um gesto compreensível apenas com a fé[25].

O poder de Jesus não deve ser mal entendido. Ele aceita ser o profeta que haveria de vir, mas nega ser o rei que eles esperavam. Está aqui antecipada a afirmação que o mesmo Jesus haveria de proferir diante de Pilatos: «a minha realeza não é deste mundo»[26]. Jesus, o enviado do Pai, não tem pretensões políticas; não entra em colisão com César; o campo das suas competências é distinto. Deste modo defendia-se também a comunidade cristã, que estava a ser acusada «pelos judeus diante de Roma de ser um movimento político-revolucionário em luta contra o império»[27].

O evangelista refere no texto que «havia muita grama naquele lugar»[28], o que é «um sinal de esperança messiânica»[29]. Jesus, como bom pastor, conduz as suas ovelhas a boas pastagens, prepara-lhes a mesa do banquete em pleno deserto, como já o fizera outrora[30], aquando do êxodo do povo hebreu.

Na revelação bíblica, alimento e repasto servem para exprimir a comunicação de vida que Deus faz ao seu povo[31]. O maná e as cordonizes do Êxodo, tal como a água que jorrou do rochedo[32], são realidades simbólicas prefigurantes do dom verdadeiro que brota da boca de Deus[33], a Palavra, verdadeiro pão descido do Céu[34].

Estas figuras cumprem-se em Jesus. O dom que Ele promete, fazendo referência ao Êxodo, situa-se também no horizonte do banquete messiânico, imagem da felicidade celeste familiar ao judaísmo[35].

Jesus faz também três acções que ficarão gravados na memória dos discípulos: receber, dar graças e distribuir. «Gestos da liturgia judaica que passaram para a liturgia cristã»[36].

2. Caminhada sobre as águas e discurso sobre o pão da vida (VI, 16-50)

O facto em si é um milagre epifánico, com o esquema clássico, exposto em forma de quiasmo[37]:

a) necessidade de ajuda;

b) temor, mas não medo, perante a epifania;

b’) consolo perante o temor;

a’) acalma-se o vento.

Este «sinal descreve o caminho da Igreja através do mundo no meio das dificuldades paralisantes e do desalento»[38]. Só a presença de Jesus é capaz de fazer com que a barca chegue à outra margem[39]; «na situação de desespero, revela-se a presença divina»[40]. Neste relato, a tempestade estava já anunciada ao mencionar as trevas[41]. Elas simbolizam a ausência de luz, a ausência de Jesus, que se autodefine neste evangelho como a luz[42]. É sempre de noite que falta a Luz[43]. Ao faltar a luz, as ondas precipitam-se sobre a barca e esta detém-se a metade do caminho[44]. Só a presença de Jesus que se manifesta como o eu sou, sem necessidade de estar fisicamente na barca, fez com que esta chegasse a bom porto. É como um milagre acrescentado se o compararmos com os sinópticos, «onde o relato tem diferenças importantes»[45]: Jesus não sobe à barca, como Marcos afirma[46]; S. João não precisa de mencionar os motivos pelos quais acalmou a tempestade nem a compreensão que os discípulos tiveram do facto, como sublinham os sinópticos; «a marcha sobre as águas justifica-se em João como uma ocasião para demonstrar o poder divino de Jesus, não como uma imperiosa necessidade para salvar a situação angustiosa em que os discípulos se encontravam»[47], como afirma Marcos; o facto de Jesus se retirar para o monte é, segundo o quarto evangelho, uma fuga de Jesus, que quer escapar às pretensões da multidão que quer fazer d’Ele rei, ainda que segundo Marcos seja para se dedicar à oração[48].

Segundo o relato de Marcos[49], a barca dirige-se para Betsaida. Em João, pelo contrário, a direcção é Cafarnaum. Deste modo «Jesus está a preparar o lugar de onde debaterá o tema sobre o pão da vida»[50]. É na sinagoga de Cafarnaum que Jesus vai explicar o verdadeiro sentido da multiplicação dos pães e onde os discípulos, os seguidores e os entusiastas de Jesus deverão aprender o verdadeiro sentido e dimensão daquela pessoa que lhes deu de comer.

No que diz respeito à historicidade, o «acontecimento é mais teológico que histórico. Isto significa que a marcha sobre as águas não teve lugar da forma que narram os evangelhos. O ponto de apoio mais sólido de todo o relato e como a infra-estrutura do mesmo é-nos dada pelo Saltério»[51]: Teu caminho passa pelo mar, tua senda passa pelas águas torrenciais, e ninguém reconheceu tuas pegadas[52]. Ao mostrar Iahweh a caminhar sobre as águas está a mostrar poeticamente o Seu poder. Jesus, caminhando sobre as águas, vê adequada e poeticamente afirmado o seu poder supra-humano, apresentando-o como a presença de Deus no mundo e, em particular, na Igreja que, devido à sua acção poderosa pode levar a «bom porto a missão que lhe encomendou o Fundador»[53].

Os dados históricos que se seguem à narração dos sinais precedentes — a multiplicação dos pães e o caminhar sobre as águas — «têm a finalidade de orientar a gente em direcção à sinagoga de Cafarnaum, onde vão ter lugar as manifestações mais importantes de Jesus»[54]. A cena de transição[55] caracteriza-se pela frieza do encontro. Jesus não se sente entusiasmado pelo facto de a multidão o procurar. Jesus diz claramente que não o procuram a Ele, interessam-se, isso sim, mas é pelos benefícios que podem receber d’Ele. «Uma busca interessada e egoísta, que nunca pode entusiasmar a pessoa que é procurada. A multidão buscava-se a si mesma, não a Ele»[56].

No âmbito da revelação, os dons não podem ser separados do dador dos mesmos. O mais importante é o segundo. Jesus diz-lhes com estas palavras: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos saciastes[57]. Para além do alimento que mantém a nossa existência terrena, é indispensável aspirar ao alimento que nos proporciona o autor da vida, «que quer plenificar a nossa»[58]; dimensão de eternidade, vida eterna, participação na mesma vida daquele que pode conceder-nos o alimento permanente, o que dá a vida eterna.

É Jesus, o Filho do homem, o credenciado pelo Pai com o selo da sua autoridade, o único que pode proporcionar ao homem o alimento mencionado. Ele exige ser aceite de forma pessoal; que se converta em centro de gravidade da fé para que possa produzir-se o encontro adequado entre o homem e Deus; para que o homem descubra nele o revelador que manifesta e ‘dá’ o Pai[59].

Devem distinguir-se dois discursos na parte discursiva: um sobre o pão da vida[60] e outro sobre o pão eucarístico[61]. No primeiro, o protagonista é o Pai. Ainda que se fale de Jesus como o pão da vida e como enviado do Pai, o verdadeiro protagonista é o Pai[62]. A resposta do homem à acção de Deus é a fé.

No discurso eucarístico muda-se de perspectiva: o protagonista é Jesus[63]. O Pai só é mencionado uma vez e é-o para acentuar o poder que o Filho tem de dar a vida[64]. A resposta aqui não é a fé — esta supõe-se e antecipa-se como absolutamente necessária no discurso sobre o pão da vida, ao jeito de preparação para este — mas o comer e beber a carne e o sangue do Filho do homem. Ele vai oferecer o «verdadeiro maná do Êxodo, um pão vivo e glorioso, que atravessa a morte, o espaço e o tempo»[65].

O discurso sobre o pão da vida está polarizado entre dois pensamentos: a exigência da fé, por parte de Jesus, e a recusa da mesma, por parte da multidão. Este tema, praticamente único[66], desenrola-se em três fases:

– Jesus pede à multidão que se situe ao nível dos sinais, que não se fique apenas pelos milagres[67];

– Jesus exige ser aceite como o revelador do Pai, como o que veio de cima, como o pão descido do céu. As perguntas que se seguiram a estas afirmações, diríamos, pretensiosas expressam a falta de fé dos ouvintes de Jesus. Indicam, além disso, que eles se procuravam a eles próprios e não a Deus[68];

– Perante a sua falta de fé, justificada pelo conhecimento que tinham da origem humana de Jesus, Ele faz uma nova exigência de fé: que o vejam como o único pão da vida[69]. A multidão pede a demonstração de que se faça presente aquilo que esperavam para quando chegasse o Messias. De acordo com as esperanças judias, o Messias devia renovar os milagres realizados por Moisés, o maná seria o alimento permanente. Mas esta demonstração equivaleria a negar a verdadeira fé, já que esta exige aceitar Jesus como o verdadeiro maná: eu sou o pão da vida[70].

Jesus, nesta auto-apresnetação, manifesta-se como a resposta às necessidades e esperanças do homem. Para que seja assim, a única condição que se põe ao homem é que ele tenha fé. Manifestam isto mesmo as palavras de Jesus expostas em claro paralelismo em Jo VI, 35b: o acreditar ou ir a Ele é graça concedida pelo Pai[71] e ao mesmo tempo tarefa humana[72]. Estamos perante um excelente resumo da história da salvação, que destaca a iniciativa de Deus, que se realiza no seu Filho e que se torna eficaz graças à fé.

O evangelista utiliza, pela primeira vez, a frase célebre eu sou, que é uma fórmula de revelação e põe em relevo o que Jesus é para o homem. A aceitação do eu sou introduz-nos no terreno da revelação, da fé e da vida.

A frase eu o ressuscitarei no último dia[73] aparece neste evangelho ao jeito de um estribilho. Trata-se de uma adição que pretende harmonizar a concepção de João sobre a chegada da salvação com a visão mais futurista dos sinópticos[74]. Os lugares em que é utilizada[75] demonstram tratar-se de algo acrescentado, pois as frases em cujo contexto aparecem têm sentido mesmo que se omita o dito estribilho.

Este evangelho, realça também que aquele que crê passou da morte para a vida[76].

3. Discurso eucarístico (VI, 51-59)

O discurso eucarístico não procede da sinagoga de Cafarnaum[77] — pois não se podia falar assim da eucaristia antes da sua instituição, já que ninguém entenderia nada —, mas da Última Ceia[78]. Foi colocado aqui pela pena do evangelista como continuação do discurso sobre o pão da vida[79].

O discurso sobre o pão da vida converte-se na preparação adequada do discurso eucarístico. O lugar que deveria ocupar, que era a Última Ceia[80], foi escolhido pelo evangelista para narrar a lavagem dos pés. Sem dúvida que não se atreveu a omitir uma relato tão importante, recorreu foi à transladação para outro lugar. Não tenhamos dúvida que este era o lugar mais adequado, em razão da semelhança de matéria: pão material, pão descido do céu e pão eucarístico. A transladação está bem justificada[81].

Perante o discurso metafórico sobre o pão da vida — Jesus como o pão dado pelo Pai, descido do céu, daquele que se há-de comer graças à fé — destaca-se o realismo sacramental desta unidade literária estritamente eucarística: é preciso comer e beber da carne e do sangue do Filho do homem. Ao expressar-se deste modo, o evangelista tenta dar uma resposta à pergunta sobre o modo como pode este dar-nos a comer a sua carne. «Uma pergunta que supõe uma compreensão inadequada da Ceia do Senhor. Inclusivamente é preciso contar com uma polémica contra a sua celebração. Procederia das discussões com os judeus, com os judeo-crsitãos ou com outras tendências dentro da Igreja? Inácio de Antioquia afirma que: ‘não confessam que a eucaristia é a carne do Senhor’. Frente a eles põe-se em relevo a necessidade de tomar parte na eucaristia para participar na vida»[82].

O evangelho insiste em apresentar a carne e o sangue como verdadeira comida e como verdadeira bebida. Deste modo colocava-se de lado outra concepção errónea do cristianismo primitivo: a corrente ou tendência gnóstico-docetista «que começam a surgir, e sublinha-se fortemente — para os corrigir —a realidade da Incarnação do Filho unigénito»[83]. Perante uma corrente de pensamento que via a eucaristia como mero símbolo, o texto sublinha a facto de se tratar de uma verdadeira comida, de uma comida real, na qual se participa na carne e no sangue de Jesus Cristo.

Os efeitos da eucaristia expressam-se mediante a fórmula da permanência mútua: aquele que come… permanece em mim e eu nele. Esta permanência designa a vida cristã como tal: o discipulado cristão define-se pela permanência na união com Cristo[84].

A concepção joanina da eucaristia põe em relevo os seguintes aspectos[85]:

– a sua consideração e a sua valorização dentro do acontecimento salvífico no seu conjunto, ou seja, a estreita relação com a missão do Filho de Deus desde a encarnação até à crucificação e exaltação. Os dons sacramentais — o pão e o vinho — são meio para conseguir a união com Cristo. Esta união é eficaz e realiza-se quando se cumpre a exigência única e decisiva imposta ao homem, que é a fé no Revelador, enviado por Deus e portador da salvação;

– a preponderância cristológico-soteriológica: aparece o próprio Jesus como sujeito da acção que se desenrola naquela cena; o seu mesmo ser, toda a realidade implicada na figura do Filho do homem, morto e ressuscitado, faz-se presente na celebração da Eucaristia;

– o efeito principal da eucaristia, a união pessoal com Cristo, que se expressa mediante a mútua permanência: quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele[86];

– a palavra «carne» é a mesma que utiliza o quarto evangelho para designar a encarnação: o logos-palavra fez-se carne[87]; é necessário comer a carne. A eucaristia é a prolongação da encarnação e dos seus efeitos.

Sentido teológico da Eucaristia

O evangelho de S. João, apesar e não falar da Eucaristia na Última Ceia, tem uma reflexão muito profunda sobre a Eucaristia, que é apresentada no capítulo VI do seu evangelho, no «livro dos sinais», onde se manifesta a identidade de Jesus Cristo.

Na referência à Eucaristia vê-se claramente uma progressão que vai desde a apresentação de Cristo, o pão da vida enviado pelo Pai à humanidade, até à revelação de Cristo como Aquele que nos dará o pão da vida, que é a sua carne oferecida pela vida do mundo[88]. Ou seja, desde a fé em Cristo como o Messias e Filho de Deus, até à Eucaristia como o sacramento dessa fé em Cristo. À «identidade de Cristo como o verdadeiro pão, o maná que Deus nos oferece, corresponde a atitude da fé»[89]. Aquele que acredita em Jesus Cristo não só não tem fome nem sede, como tem a vida eterna.

Numa primeira parte[90], Cristo é tratado como pão, mas numa forma mais sapiencial e metafórica: Cristo como o alimento, a resposta absoluta de Deus à fome da humanidade. Mas Cristo promete que nos dará a um pão que é sua própria carne.

Os verbos que se empregam é comer e beber, o que dão a esta revelação um tom inconfundivelmente eucarístico. O receber Jesus Cristo pela fé transforma-se em receber Cristo pelo sacramento — à manducatio spiritualis sucede-se a manducatio sacramentalis —, apresentando-se assim os dois aspectos paralelos que nos levam à verdadeira vida em Cristo[91]. Compreende-se melhor esta teologia se se recordar a teologia joanina da encarnação[92], a sucessão dos temas da fé e do sacramento[93].

A carne que Cristo oferece àqueles que crêem n’Ele é a mesma carne que Cristo entregou na cruz e foi ressuscitada ao terceiro dia. A palavra «carne», no quarto evangelho, designa tudo aquilo que «constitui a realidade do homem, com as suas possibilidades e fraquezas»[94] Este dado realça o carácter sacrificial da eucaristia, onde Cristo actualiza sacramentalmente o seu sofrimento vicário.

Ainda que não apareça aqui a categoria do «memorial», todo o discurso da eucaristia faz referência directa ao sacrifício de Cristo na Cruz[95].

Os efeitos da Eucaristia são apresentados nos versículos 53-57. A doação da carne de Cristo tem uma finalidade dinâmica: dar a vida, já que aquele que come tem vida; é o mesmo efeito atribuído anteriormente à fé[96]. O significado atribuído a vida por S. João é-lhe muito próprio: é a imersão na vida do Ressuscitado, que nos quer comunicar a Sua existência escatológica, a vida eterna; «a Eucaristia é igualmente o princípio da ressurreição futura»[97].

Este dado é importante para compreender o tema que nos ocupa, a Eucaristia. «O pão-pessoa pertence a um futuro, a um momento posterior ao que o evangelista está a narrar»[98]. Está aqui presente a oposição entre a «comida que perece (ou deixa perecer) e a comida que conserva até à Vida Eterna»[99]

Esta doação da vida pressupõe a presença real de Cristo na Eucaristia. a terminologia empregue por S. João é uma interpretação claramente realista do isto é o meu corpo, dos outros relatos. Fala em comer e beber, em oposição à tendência docetista que não acredita na realidade nem da incarnação, nem na Eucaristia como dom sacramental de Cristo.

4. As palavras da vida eterna (VI, 60-71)

Os interlocutores de Jesus, ao longo de todo o relato — a gente[100], os judeus[101] e os discípulos —, «são as mesmas pessoas com nomes distintos»[102]. Os nomes distintos designam aqueles que se entusiasmaram com Jesus no primeiro momento, considerando-o como um profeta de Nazaré, filho de José[103], mas que não se decidiram a dar o passo exigido pela fé cristã: a aceitação de Jesus como o Filho de Deus, aquele que veio de cima, o pão da vida, o Revelador. «Eis-nos chegados à grande decisão da fé ou da recusa»[104]

O quarto evangelho quase não se interessa pelos Doze, menciona-os apenas aqui e em XX, 24. Porque será que este texto lhes dá tanta importância? A comunidade joanina estava descriminada, era perseguida e tinham-se realizado rupturas e abandonos[105]. Numa situação como esta, é lógico que surja a pergunta inevitável: não seremos nós que estamos errados? A resposta a esta pergunta apenas podia ser dada pela Igreja oficial, representada pelos Doze, a cuja cabeça estava Pedro. Foi esta a razão de acrescentar aqui algo tão importante, mas que, no contexto do sexto capítulo do quarto evangelho, é apenas um apêndice[106].

A «dureza das palavras» ou a inademissibilidade da doutrina, sobre a qual se pronunciam muitos dos seus discípulos[107], não se refere àquilo que se passou imediatamente antes, àquilo que foi afirmado sobre a eucaristia[108]. Depois do que se disse sobre ela não se podia afirmar que a carne para nada serve[109]. Não é precisamente a «comida da carne» o que concede ao homem a vida eterna? Nesta pequena parte do texto não se faz referência à eucaristia, mas ao próprio mistério de Jesus.

A murmuração e a deserção dos judeus-discípulos foi suscitada pela pretensão manifestada por Jesus de ser o Revelador[110]. O auto-testemunho dos que murmuram não deixa lugar para dúvidas: E diziam: «Esse não é Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe conhecemos? Como diz agora: ‘eu desci do Céu’?!»[111]. Quem aceita Jesus como o Revelador, como o enviado do Pai, como o que veio de cima, não tem por que se escandalizar com as palavras sobre a eucaristia. Para quem não O aceita assim, também as afirmações eucarísticas são duras, ou seja, sensivelmente inadmissíveis.

Este ponto de vista foi confirmado pelas palavras de Jesus a propósito do escândalo mencionado ou da inadmissibilidade da doutrina: Isto vos escandaliza? E quando vires o Filho do Homem subir onde estava antes?…[112]. Aumentaria o escândalo ou diminuiria? A dedução imediata perece levar-nos a pensar que aumentaria o escândalo. «Parece-nos mais provável que o escândalo desapareceria, porque se supunha que se tivesse aceite o mistério de Jesus, que é Aquele que veio de cima, o enviado de Deus, e não apenas o filho de José como eles pensavam»[113].

O mistério de Jesus expressa-se mediante a fórmula subir até onde estava antes. E isto é duro e inadmissível[114]. Isto demonstra que esta unidade literária não era a continuação sobre o discurso eucarístico, mas seguia-se ao discurso sobre o pão da vida, que termina no versículo 51, antes de começar o discurso eucarístico.

A manifestação de Pedro, enquanto representante dos Doze, é a versão joanina daquilo que conhecemos como «a confissão de Casareia de Filipo»[115]. Pedro não confessa Jesus como o Messias, nem como o filho do Homem ou Filho de Deus; nesta passagem de João apresenta-se Jesus como o «Santo de Deus»[116]. É uma designação singular e muito antiga que expressa a suprema dignidade da pessoa a quem é atribuída.

No aspecto literário remonta-se ao Antigo Testamento:

– a história de Sansão[117];

– também se aplica aos sacerdotes e, em particular, a Aarão[118].

São “santos de Deus ou para Deus”. A expressão é posta por Marcos na boca dos possessos[119]. Em qualquer caso, não é um título correntemente dado ao Messias. «João considera-o como um importante título profético-carismático»[120].

Será que pretende pôr em relevo a presença do três vezes santo, dos Deus santíssimo, em Jesus? Neste sentido, Jesus seria a encarnação e personificação da santidade divina.

Conclusão

Será que o capítulo sexto do Evangelho de S. João é uma «capítulo aucarístico»? Pelo que vimos, a resposta é fácil: o estritamente eucarístico são apenas os versículos que vão de 51b a 58. A sua colocação na continuidade do discurso sobre a vida dá a este um aspecto eucarístico que, na realidade, este não teria. A insistência na fé ilumina algo que é fundamental: a eucaristia sem a fé perde a sua inteligibilidade.

O relato sobre a multiplicação dos pães é também revestido do mesmo tom eucarístico. Na mente do redactor final, esta ordenação de sequência tinha a finalidade de apresentar a eucaristia num contexto eucarístico que originariamente não teve, o seu lugar era a Última Ceia.

Realça-se aqui a fé e aceitação de Jesus Cristo como o pão descido do Céu, que encarnou, morreu e ressuscitou para salvar o género humano.

A Eucaristia, com o seu tom sacrificial, celebra este acontecimento e actualiza-o no concreto da nossa história.

Ao comungar, o cristão participa na escatologia. Vai-se unindo Aquele Eterno que se fez história. O cristão vai experimentando que aquilo que o espera em plenitude.

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[1] JoVI, 23-51a.

[2] Jo VI, 51b-58.

[3] Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento. Navarra: La Casa de la Biblia, 1995, p. 286.

[4] Ibidem.

[5] Ibidem.

[6] Jacques GOETTMANN — Saint Jean. Évangile de la Nouvelle Genèse. Paris: Cerf, 1982, p. 101.

[7] Cf Jean- Pierre CHARLIER — Signes et prodiges. Les miracles dans l’Évangile. Paris: Cerf, 1987. Lire la Bible; 79. P. 134.

[8] Mc VI, 35-36; Mt XIV, 13-21; Lc IX, 10-17.

[9] Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 286.

[10] Cf Jean GIBLET — La chair du fils de l’homme. Lumier et Vie. 29 (1980) 95.

[11] Cf Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 286.

[12] Jacques GOETTMANN — Saint Jean. Évangile de la Nouvelle Genèse. Paris: Cerf, 1982, p. 102.

[13] Jo VI, 14-s.

[14] Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 286.

[15] Cf Ibidem.

[16] Ibidem.

[17] Cf Ibidem.

[18] Mc XIV, 23; Mt XXVI, 26; Lc XXII, 17.

[19] I Cor XI, 24.

[20] Cf Didaké 9,5; 10,1-s. A HAMMAN — Eucharistie, in Dictionnaire Encyclopedique du Christiannisme Ancien. I. Paris: Cerf, 1990, p. 894.

[21] Pierre BENOIT — Vocabulaire de Théologie Biblique, Paris: Cerf, 1970, p. 404.

[22] Gn XIV, 17-20. Cf Jacques GOETTMANN — Saint Jean. Évangile de la Nouvelle Genèse. Paris: Cerf, 1982, p. 103.

[23] Cf Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 287.

[24] Só lhes ocorre pensarem no dinheiro; duzentos denários.

[25] Cf Pierre BENOIT — Vocabulaire de Théologie Biblique, Paris: Cerf, 1970, p. 404-405.

[26] Jo XVIII, 36.

[27] Cf Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 287. Act XVII, 7.

[28] Jo, VI, 10.

[29] Jacques GOETTMANN — Saint Jean. Évangile de la Nouvelle Genèse. Paris: Cerf, 1982, p. 102. Cf Sl LXXII.

[30] Sl XXIII; LXXVIII, 19-25.

[31] Cf Pierre BENOIT — Vocabulaire de Théologie Biblique, Paris: Cerf, 1970, p. 407.

[32] Sl LXXVIII, 20-29.

[33] Dt VIII, III; Mt IV, 4.

[34] Ex XVI, 4.

[35] Is XXV, 6.

[36] Jacques GOETTMANN — Saint Jean. Évangile de la Nouvelle Genèse. Paris: Cerf, 1982, p. 102.

[37] Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 287.

[38] Ibidem.

[39] O capítulo XXI confirma este simbolismo.

[40] Jacques GOETTMANN — Saint Jean. Évangile de la Nouvelle Genèse. Paris: Cerf, 1982, p. 104.

[41] Cf JoVI, 17.

[42] Cf Jo VIII, 12; IX, 5.

[43] Cf Jo XIII, 30.

[44] Os vinte ou trinta estádios equivalem a quatro quilómetros e meio ou cinco quilómetros e meio. Metade da travessia do lago de Tiberíades.

[45] Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 287.

[46] Cf Mc VI, 51.

[47] Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 287.

[48] Cf Mc VI, 46.

[49] Cf Mc VI, 45.

[50] Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 287.

[51] Ibidem, p. 288.

[52] Sl LXXVII, 20.

[53] Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 288.

[54] Ibidem.

[55] Jo VI, 23-28.

[56] Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 288.

[57] Jo V, 26.

[58] Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 288.

[59] Cf Ibidem.

[60] Jo VI,23-51.

[61] Jo VI, 52-58.

[62] Cf Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 288.

[63] Ibidem.

[64] Jo VI, 57.

[65] Jacques GOETTMANN — Saint Jean. Évangile de la Nouvelle Genèse. Paris: Cerf, 1982, p. 105.

[66] Cf Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 288.

[67] Jo VI, 22-29.

[68] Jo VI, 30-40.

[69] Jo VI, 40-51.59.

[70] Jo VI, 48.

[71] Jo VI, 37.39; XVII, 2.7.24.

[72] Jo III, 19-21; VII, 17.

[73] Jo VI, 54.

[74] Cf Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 289.

[75] Jo VI, 39-40.44.54; XII48.

[76] Jo V, 24.

[77] Cf Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 289.

[78] Cf VIGOUROUX — Dictionnaire de la Bible. Paris, 1899, p. 408.

[79] Cf Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 289.

[80] Jo XIII.

[81] Cf Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 289.

[82] Ibidem.

[83] Jean GIBLET — a Eucaristia no evangelho de João. Concilium. (1968) 55.

[84] Jo XV, 4-7.

[85] Seguirei de perto Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 290.

[86] Jo VI, 56.

[87] Jo I, 14.

[88] Cf J. ALDAZÁBAL — La Eucaristá. In Dionisio BOROBIO — La celebracion en la Iglesia. Salamanca: Sígueme, 1990. Lux Mundi; 58, p.244.

[89] Ibidem, p.245.

[90] Jo VI, 35-47.

[91] Cf Michel CORBIN — Le Painde la Vie. La lecture de Jean IV par S. Thomas d’Aquin. Recherches de Science Religieuse. 65/1 (1977) 114.

[92] Jo I, 14.

[93] Cf J. ALDAZÁBAL — La Eucaristá. In Dionisio BOROBIO — La celebracion en la Iglesia. Salamanca: Sígueme, 1990. Lux Mundi; 58, p.245.

[94] Jean GIBLET — E Eucristia no Evangelho de João. Concilium. (1968) 56.

[95] Cf J. ALDAZÁBAL — La Eucaristá. In Dionisio BOROBIO — La celebracion en la Iglesia. Salamanca: Sígueme, 1990. Lux Mundi; 58, p.246.

[96] Cf Jo VI, 39.40.44.47.51.53.54.58.

[97] Jean GIBLET — E Eucristia no Evangelho de João. Concilium. (1968) 58.

[98] Francisco de la CALLE — La Eucaristia: perspectiva joanica. Biblia y Fe. 12 (1986)181.

[99] Jean GIBLET — E Eucristia no Evangelho de João. Concilium. (1968) 54.

[100] Jo VI, 22.

[101] Jo VI, 41.

[102] Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 290.

[103] Jo I, 45; VI, 42.

[104] Jean GIBLET — E Eucristia no Evangelho de João. Concilium. (1968) 59.

[105] Cf Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 290.

[106] Cf Ibidem..

[107] Jo VI, 60.

[108] Cf Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 290.

[109] Jo VI, 63.

[110] Jo VI, 41-42,

[111] Jo VI, 63.

[112] Jo VI, 62-63.

[113] Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 290.

[114] Cf Ibidem, p. 291.

[115] Ibidem.Cf Mc VIII, 27-30.

[116] Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 291.

[117] Jz XIII.

[118] Lv XXI, 6-7; Ecl CXV, 7.

[119] Mc I, 24.

[120] Filipe FERNÁNDES RAMOS, in AA.VV. — Comentário al Nuevo Testamento, p. 291.

Os padres na política!


O Verão está aí e com ele o habitual calor. Este ano acresce ainda o aquecimento normal do tempo de eleições.
É neste contexto de caloricidade que eu faço, agora em público, uma reflexão sobre algo que se tem falado e que me preocupa: os padres na política!
Quando algum sacerdote se candidata a um cargo político, normalmente nas autarquias, há sempre quem se pronuncie contra e quem se pronuncie a favor. É normal, cada um pensa como quer.
Costumo até ouvir com frequência que acham normal um padre candidatar-se, pois é um cidadão normal, como os outros.
Aqui poderia fazer-se uma reflexão teológico-pastoral sobre o facto, a sua pertinência e até a sua conveniência. Mas como referi acima, estamos num tempo difícil para a reflexão, os ânimos começam a estar aquecidos e a frieza necessária à reflexão pode faltar.

Mas também neste caso se acha muito e se conhece pouco
Segundo a Lei canónica, aos clérigos compete promover e fomentar sempre e o mais possível a paz e a concórdia entre os homens, baseada na justiça. E acrescenta ainda, o cânone 287, que os clérigos não tomem parte activa em partidos políticos [e não refere se como militantes ou independentes] ou na direcção de associações sindicais.
Mas se virmos noutro local, no cânone 317, diz expressamente que nas associações públicas de fiéis directamente orientadas para o exercício do apostolado, não sejam moderadores os que desempenham cargos directivos em partidos políticos. Se este princípio se aplica para os leigos em geral, como será para o Sacerdote, que compete ser o pastor que a todos congrega, em nome de Jesus Cristo?
Concedo que o Direito canónico não é um texto legislativo que esteja muito acessível, quem nem todos tenham a sensibilidade necessária para o procura conhecer.

E a Lei civil?
Nessa, o caso ainda é mais claro!
Diz a Lei Eleitoral dos Órgãos das Autarquias Locais, no seu artigo 7º, sobre as inelegibilidades especiais, que não são elegíveis para os órgãos das autarquias locais dos círculos eleitorais onde exercem funções ou jurisdição, entre outros, os ministros de qualquer religião ou culto (Art. 7º 1 c).

Perante o acima exposto: qual é a dúvida?