Cristão Adulto X

Cristão Dialogante

Um cristão adulto procura, quer e esforça-se pelo diálogo com todos, nomeadamente com aqueles que procuram em Deus o sentido último da sua existência. O diálogo, como movimento de aproximação é o processo de busca da unidade. Esta unidade através do diálogo com outros Credos denomina-se ecumenismo, quando realizado entre cristãos, e diálogo inter-religioso quando a busca de aproximação é feita com crentes de outras religiões não cristãs.
O ecumenismo e o diálogo inter-religioso são um assunto fascinante e desafiador. Abordar estas questões requer, antes de mais, um exercício de despir-se de preconceitos ou qualquer outro tipo de resistência. Mas, acima de tudo, urge sinceridade e clareza nas nossas convicções e posições.
Há aspectos que são meramente circunstanciais, fruto de um percurso da história humana num determinado espaço e num determinado tempo, mas há coisas que são fundamentais e, abdicando delas, abdica-se do essencial da fé no Deus verdadeiro, que tem a plenitude da Sua revelação em Jesus Cristo. É o próprio Senhor Jesus que nos pede um caminho em direcção à unidade quando diz: «que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste»(Jo 17, 21).

No diálogo a Igreja torna-se mais fiel
O esforço pela unidade realiza a própria renovação da Igreja, na fidelidade à sua própria vocação: ser Sacramento Universal de Salvação.
Mas não há verdadeiro ecumenismo sem conversão interior. É que os anseios de unidade nascem e amadurecem a partir da renovação da mente, da abnegação de si mesmo e do livre exercício da caridade. Por isso, o cristão adulto implora do Espírito divino a graça da sincera abnegação, humildade e mansidão em servir, e da fraterna generosidade para com os outros.
O Concílio Ecuménico Vaticano II exortava os crentes, dizendo que «tanto melhor promoverão e até realizarão a união dos cristãos quanto mais se esforçarem por levar uma vida mais pura, de acordo com o Evangelho. Porque, quanto mais unidos estiverem em comunhão estreita com o Pai, o Verbo e o Espírito, tanto mais íntima e facilmente conseguirão aumentar a fraternidade mútua» (UR 7).
Contudo, o ecumenismo e o diálogo inter-religioso não parte do princípio de que todas as opções religiosas são iguais e de que, acreditando que todas as pessoas de boa vontade se salvem pela misericórdia de Deus, todas as opções são iguais e que haveria que encontrar uma religião universal que englobe toda a Humanidade.

O diálogo como testemunho da Verdade
O cristão adulto sabe que só Jesus Cristo é o autêntico e único Salvador, que nos conduz à verdadeira fé, à fé plena, à autêntica verdade sobre Deus.
Assim, um cristão que se esforça pelo diálogo fá-lo a partir de alguns pressupostos básicos:
– sabe que a fé não é apenas uma relação individual ou individualista com Deus, é também a inserção na Comunidade dos crentes, na Igreja de Jesus Cristo, espaço onde se recebe, cresce e vive a fé;
– embora a fé cristã pressuponha um certo conhecimento é mais do que isso, é o acolher Jesus na vida, é o entregar a uma comunhão com Ele e, por Ele, a toda a Humanidade;
– a fé cristã é também histórica, isto é, Deus revelou-se na história da Humanidade, por diversas etapas, é na história que a pessoa escuta Deus e lhe responde e, por último, é na história pessoal de cada um que se vai experimentando, de forma imperfeita, a salvação que esperamos viver plenamente quando o tempo e o espaço já não tiverem influência sobre nós;
– a fé, por comunhão com o Deus Trino, é um estado sempre inacabado porque o Deus Amor permite sempre uma maior inserção no Seu Mistério, por isso é vivência da autêntica fé, a fé cristã, é sempre um mistério inesgotável.
No diálogo com as outras opções espirituais, o cristão adulto não esquece que vive a fé englobando a sua inteligência, afecto e vontade, por isso uma fé profundamente humana. Fé essa que engloba a totalidade da pessoa, com tudo que isso implica. A sua fé é um dom de Deus, que se procura diariamente aprofundar e cultivar.
Por isso, o diálogo não é para ‘ganhar’ novos adeptos, nem para ‘vencer o inimigo’, é antes uma consequência de se ter descoberto o Verdadeiro Deus, que é a Verdade, e a necessidade de O anunciar, tornando-o presente através da nossa acção.

PowerPoint’s úteis!?!?

O recurso às novas tecnologias tem sido, nos últimos tempos, um excelente contributo para dinamizar a acção de catequizar, nomeadamente na formação de catequistas.
As suas virtualidades e potencialidades são por demais evidentes. Um bom uso do PowerPoint faz com que a comunicação a realizar se torne mais clara e o fio condutor mais e perceptível.
Contudo, tem-se vindo a observar uma dificuldade que eu sintetizaria nesta frase: quando tenho pouco a dizer, exagero no aspecto gráfico.
Pelo que uma boa apresentação começa sempre por um sintetizar de ideias e conteúdos a transmitir, que depois coloco na apresentação. Nunca se fará uma boa formação, e muito menos catequese, se pego numa aplicação de PowerPoint e me limito a lê-la. Ou, pior a ianda, a ler uma aplicação que eu não fiz.

É com esta ressalva que partilho alguns link’s que têm aplicações muito completas.
Cabe a cada um de nós ver, utilizar o que nos serve. Mas quando apresentarmos que seja uma aplicação que já a fizemos nossa.

https://inicteol2.googlepages.com/60aulas
https://inicteol2.googlepages.com/catequese-infantil
https://klappiquiz.googlepages.com/

Estes link’s estão divulgados na página: https://www.montemuro.org/portal/

Cristão Adulto – IX

Homem e Mulher, Deus os criou!

Depois de ter abordado alguns aspectos, que eu considero fundamentais para que um cristão se possa considerar adulto, vou debruçar-me sobre aspectos, aparentemente de fronteira. Daqueles que podem fazer a qualidade de uma vida cristã e que são, a maior parte das vezes, descuidados por se considerarem assumidos à partida. E não é bem assim.
Começo por me referir ao lugar da mulher na vida cristã, e faço-o pela mão do Mestre. De facto, Jesus, num ambiente tremendamente patriarcal, age com as mulheres de modo diferente.

Mulher marginalizadaAs senhoras estavam marginalizadas em, pelo menos, três âmbitos: sexual, social e religioso.
No âmbito sexual, e por causa das normas de pureza, as mulheres estavam muitas vezes marginalizadas da restante comunidade – sobretudo religiosa –, o que provocaria graves danos na auto-estima e realização de cada uma delas. Mas Jesus age de modo diferente: admite-as como discípulas (Lc 8,1-3); fala com elas em público (Jo 4, 27); e num grande desafio aos preceitos do seu tempo restitui dignidade ao funcionamento corporal feminino, veja-se o caso da hemorroísa (Mc 5, 21-43).
A marginalização social da mulher empurrava a mulher para dentro de casa, para as lides domésticas, retirando-lhes responsabilidades sociais, políticas, jurídicas e religiosas. Jesus, por seu turno, reage tratando cada mulher como pessoa de facto, em igualdade com o varão. Veja-se o caso dos paralelismos nas parábolas: a mulher introduz o fermento na farinha (Mt 13,33) o varão semeia o grão de mostarda (Mt 13, 18-19); ou então o amigo inoportuno que pede pão durante a noite (Lc 11, 5-8) que corresponde com a viúva impertinente que pede ao juiz que se faça justiça (Lc 18, 1-8). A maneira de Jesus entender a actividade feminina iguala-a com a do varão. Jesus transforma as mulheres nas primeiras testemunhas da ressurreição, desafiando, assim, a concepção segundo a qual a mulher não era capaz de dar testemunho válido (Mc 16,7).
A nível religioso, a mulher estava secundarizada: não tinha acesso ao estudo da Torah, nem ao Templo e nem às outras realidades religiosas. As inúmeras prescrições legais de pureza ritual pelas quais tinha de passar dificultava-lhe ainda mais a sua realização como sujeito religioso adulto de pleno direito. Mas Jesus com as suas palavras e gestos erradica estas situações de injustiça. As mulheres participam no Reino de Deus em igualdade de condições com o varão. Veja-se o paralelismo da confissão de fé entre Marta (Jo 11,27) e Pedro (Jo 6, 69). Os textos pascais dão testemunho desta igualdade entre as mulheres e os varões, pois estão presentes nos momentos mais densos. É uma mulher que unge Cristo como profeta em Betânia (Mc 14, 3-9), são as mulheres que estão no lugar da Morte de Jesus Cristo (Mc 15, 40-41) e no Evangelho segundo São Marcos vê-se claramente a vinculação das mulheres ao discipulado e seguimento de Jesus, e são elas que primeiro dão testemunho da Ressurreição de Jesus.
No fundo, a síntese está em São Paulo quando diz: “Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus. E se sois de Cristo, sois então descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa” (Gl 8, 28).

Complementaridade imprescindível
Chegados aqui, vemos que a complementaridade entre os dois géneros é o único caminho a seguir, sem qualquer subjugação ou subordinação.
Contudo, na história da Igreja, no seu esforço de realização histórica do projecto de Deus, nem sempre foi assim, porque o esforço de institucionalização esclesiástico levou a que se esquecessem algumas das realidades acima referidas. As necessidades de adaptação ao meio cultural envolvente prevaleceram para que sobrevivessem a disciplina e a boa ordem. Cada pessoa é fruto também do seu tempo… E hoje podemos dizer com convicção que a mulher precisa de ser mais reconhecida e valorizada dentro da nossa sociedade e também dentro da Comunidade eclesial.
Considero que a Igreja ficou privada de uma dimensão muito importante – a dimensão feminina – que empobrece a sua mediação histórica de Corpo de Cristo, porque se não contar com a presença de todos os fiéis, vê-se incompleta na sua missão.

Que as falsas imagens de Deus e a má compreensão da relação entre mulher e varão, juntamente com o nosso pecado, não nos continue a impedir de ver com clareza a beleza da Criação: “Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher” (Gn 1,27).

Cristão Adulto – VIII

Novos movimentos eclesiais

Uma das características de um cristão adulto é a sua capacidade de se relacionar com os «novos movimentos eclesiais», de os respeitar e considerar, ou então de fazer parte de um deles, recebendo daí o acompanhamento necessário para ser um cristão maduro.
Estes movimentos chamam-se ‘novos’ para diferenciá-los de qualquer outra forma de associação laical e denominam-se ‘movimentos’, porque são uma expressão profunda do movimento eclesial, da Igreja movimento, mais do que uma actividade. São ‘eclesiais’ porque podem pertencer a eles cristãos provenientes das três vocações: leigos, consagrados e ordenados. Se bem que na sua grande maioria estão compostos por cristão leigos.

Identidade dos novos movimentos eclesiais
Estes movimentos são considerados como verdadeiros carismas do Espírito para o tempo presente. Têm a característica de estarem dotados de uma certa imprevisibilidade, mutabilidade, assombro, profunda novidade, gratuidade e liberdade. Não podia ser de outra forma, ao serem expressão da acção do Espírito Santo na Igreja.
Cada crente, ao contactar com esta realidade, procurará que se verifiquem, com qualidade e coerência, as seguintes características:
– Que sejam realidades eclesiais novas, preferentemente laicais, diferentes das precedentes ou contemporâneas associações laicais;
– De origem carismática, pois pertencem à vida e dinamismo da Igreja, não à sua estrutura ou dimensão institucional. Não vêm dadas, surgem inesperadamente conforme a liberdade e a imprevisibilidade do Espírito Santo;
– Com um forte impulso missionário numa sociedade secularizada. Têm como tarefa principal a missão no mundo, no qual se situam como testemunhas daqueles valores cristãos que o vendaval secularista arrasou;
– Nascidas em torno de um fundador, que é caminho para Cristo, embora tenha forte personalidade carismática, que exerce uma forte atracção, testemunha privilegiado da fé, com uma oferta atraente e significativa, porque pessoa do Espírito;
– Com uma doutrina, espiritualidade e metodologias próprias, inseridas dentro do grande tesouro que é a Igreja, mas concretizadas e com um toque especial e específico;
– Vivem o acontecimento cristão de modo excepcional. A grande novidade destes movimentos está na recuperação daquelas formas de ser cristão que foram esquecidas pela grande massa de cristãos. Tratam de encarnar na vida a Jesus Cristo, o Senhor, e de testemunhá-Lo desde essa experiência vital;
– Que viva no aqui e agora da Igreja. O rasgo mais característico destes movimentos é que vivem muito encarnados no tempo presente, com uma forte comunhão teológica, afectiva e efectiva com os Pastores, de modo especial com o Papa;
– Empenhados numa nova evangelização. O estar decididos a desempenhar tarefas de nova evangelização deriva do seu encontro existencial com o acontecimento Jesus Cristo, em comunhão com a Igreja.

Dito de outro modo, os novos movimentos são realidades eclesiais, preferentemente laicais, de origem carismática, e com um forte impulso missionário, no seio de uma sociedade secularizada. Nasceram de um fundador com grande personalidade carismática e têm espiritualidade e metodologias específicas. No seu agir, vivem de maneira excepcional o acontecimento originante: Jesus Cristo, empenhados, em Igreja, em anunciá-Lo aqui e agora.

Multiplicidade na Unidade
Perante este fenómeno dos novos movimentos eclesiais e da sua fecunda proliferação pela Igreja universal, podemos afirmar, com João Paulo II, que só é admissível aquela pluralidade que constitui «um hino à unidade».
Este princípio de unidade, que se deve sempre salvaguardar, e que deriva da comunhão na mesma fé, esperança e caridade, obedientes a Cristo e aos Pastores da Igreja; ou seja, pela comunhão no ser e no fazer da Igreja. Está é, indubitavelmente, a melhor chave de classificação dos movimentos e da maturidade dos seus membros.

Cristão Adulto – VII

Uma espiritualidade saudável

A vida espiritual de um cristão adulto é o que permite uma vida com sentido, que lhe permite responder às questões fundamentais: quem sou?, de onde venho?, para onde vou?, para quê viver? A espiritualidade permite a cada ser humano ver para além de si mesmo, é a capacidade de transcendência, de ter esperança, de abertura ao futuro e consciência da própria finitude.
As necessidades de ordem espiritual emergem da interioridade da pessoa, embora se articulem em cada contexto de acordo coma cultura e as tradições do lugar onde a pessoa se encontra. Num mundo plural, onde nada aparece como absoluto, o cristão deverá ser capaz de zelar pela sua saúde espiritual, para obter uma vida com qualidade.
De seguida descrevo algumas características de uma espiritualidade saudável.

Mistagógica e não moralizante
Diz-se que uma espiritualidade é mistagógica quando introduz ou inicia o indivíduo no mistério de Deus e no mistério da pessoa. Tem por objectivo as experiências da vida espiritual, dom incomparável de Deus. Toda a prática ascética tem como finalidade remover do caminho humano tudo aquilo que impede a comunhão e intimidade pela com Deus.
Por seu turno, uma espiritualidade moralizante vê como principal objectivo evitar as faltas e os pecados. Parte do ideal de perfeição moral e está em permanente perigo de criar escrúpulos de consciência. Um erro, muito comum, é equiparar fé e moral.

Libertadora e não asfixiante
Uma espiritualidade que queira ser de seguimento de Jesus Cristo tem de tender necessariamente para a introdução de cada ser humano numa vivência de Liberdade: a liberdade dos filhos de Deus.
A liberdade interior, que se consegue por uma ascese espiritual, é o único local onde se consegue o encontro profundo com Deus e a libertação dos factores exteriores condicionantes, nomeadamente as expectativas e exigências que são impostas.

Criadora de unidade e não de divisão
Uma espiritualidade saudável implica também que, na relação com os outros, haja sentimentos fraternos. O indivíduo sente-se profundamente unido a cada ser humano: nas suas limitações e fragilidades, e no desejo de salvação.
Quando a «espiritualidade» de um cristão o leva a classificar as pessoas em crentes e não crentes, entre ortodoxos e hereges, entre piedosos e depravados, entre bons e maus, está a dar uma mostra clara de que a sua espiritualidade ainda não atingiu a fase adulta.
Uma espiritualidade de unidade valoriza o sentido das relações interpessoais. A vida espiritual saudável precisa de boas relações humanas, cordiais, relaxadas, nas quais se possa dedicar aos outros o próprio tempo. Amizades autênticas e profundas fertilizam a vida espiritual.

Encarnada e não separada da realidade
Uma espiritualidade sã capacita a pessoa para, diariamente, fazer bem as suas coisas, superando as dificuldades inevitáveis do trabalho e do contexto social.
Um cristão que procura, permanentemente, na sua espiritualidade uma forma de fugir da sua vida diária ainda não atingiu a vida adulta da fé. Pois uma espiritualidade adulta capacita o cristão para dizer sim às suas ocupações diárias que Deus lhe propõe e que ele discerne à luz do Espírito.

Procura Deus e nãos os seus consolos
O cultivar a vida espiritual tem como objectivo ter experiências espirituais. Mas há o perigo de se ficar pelas vivências e sentimentos, que acabam por ser o mais importante, relegando a questão do sentido – e Deus – para um segundo lugar.
As experiências isoladas nada dizem da qualidade da vida espiritual. Esta demonstra-se no caminho do amor dado e recebido nas interligações fraternas, e consequente compromisso, onde Deus está presente e se manifesta.

Global e não parcelar
Uma espiritualidade adulta contempla a totalidade da pessoa, toas as suas dimensões: entendimento e vontade, coração e sentimentos, espírito e corpo, consciente e inconsciente – tudo é abrangido pela vida espiritual.

Humilde e não orgulhosa
A humildade é um excelente critério para discernir se uma vida espiritual é ou não adulta, pois “a humildade nada mais é do que a caminhada para a verdade”(Santa Teresa de Jesus).

Cristão Adulto – VI

Um cristão praticante

É óbvio demais para se dizer: um cristão adulto é um cristão praticante! Tem de o ser.
E o que é praticar? Literalmente, é exercer, pôr em prática. A prática cristã consiste em pôr em circulação os dons recebidos, em favor da comunidade, dos irmãos. Não é critério suficiente o cumprimento do preceito dominical e demais deveres estipulados. Embora estes preceitos tenham o seu papel imprescindível, pois concentram no essencial e dão força para viver essa nova vida experimentada e saboreada: a comunhão com Deus.

Praticar implica

Praticar implica participar na celebração da Eucaristia dominical: alimentar-se com a Palavra e com o Pão da Vida, reunir-se com os irmãos da Comunidade. Aí o encontro com o Ressuscitado implica necessariamente na «missa», no envio, na missão. Pois a eucaristia como «fonte e cume de toda a vida cristã» é comunhão de vida com Deus e unidade do povo de Deus, pelas quais a Igreja é o que é, são significadas e realizadas pela Eucaristia (cf. CCE 1325).
Praticar implica a confissão sacramental, sempre que necessário, mas pelo menos uma vez por ano. Confessar-se é um acto extremamente pessoal e nada rotineiro, que um cristão adulto percebe que se o faz com sinceridade e autenticidade de arrependimento, e firme propósito de conversão sente em si os frutos da graça que perdoa. Exemplo dessa graça é a alegria do regresso do filho pródigo. Por esta prática, o cristão reconcilia-se com Deus e restabelece a comunhão plena que o pecado tinha debilitado. Reconcilia-se também com os irmãos, a quem o pecado tinha espiritualmente afectado, debilitando a comunhão fraterna.
Praticar implica viver ao ritmo do ano litúrgico. A comemoração cíclica dos acontecimentos sagrados, o memorial das maravilhas de Deus, faz com que o cristão celebre no hoje da sua história os grandes acontecimentos salvíficos de Deus em favor do Seu povo, o assuma como seus e os expresse no seu quotidiano, fazendo do ano litúrgico o seu itinerário espiritual, porque o ano litúrgico “é o desenrolar dos diferentes aspectos do único mistério pascal. Isto vale particularmente para o ciclo das festas em torno do mistério da Encarnação (Anunciação, Natal, Epifania), que comemoram o princípio da nossa salvação e nos comunicam as primícias do mistério da Páscoa” (CCE 1171).
Praticar implica entender a existência à luz de Deus, quando caminha ao lado do Ressuscitado e não se limita aos caminhos já percorridos e pré-estabelecidos, geradores de seguranças, mas curtos, muitas vezes no seu alcance. Quando solta as amarras do egoísmo e decide a percorrer caminhos não andados, desconhecidos, na sua existência, está a praticar a sua fé. Choca com os seus limites, sente-se impotente, decepciona-se de si e das suas coisas. Mas no meio da provação e da dor é capaz de gritar com convicção: Deus ama-me.

Mas é missionária
A prática cristã fica assim entrelaçada com a totalidade da vida do cristão. É um encontro permanente entre Deus e o crente, uma vida feita comunhão. O cristão encontra Deus na Palavra e nos Sacramentos, para continuar a encontrá-Lo mais apaixonadamente aí onde Ele não está e onde a Igreja o deve tornar presente; ou de uma forma mais precisa, onde está oculto e quer ser encontrado.
O cristão adulto vive o mandato do Senhor:
“Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra.
Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos”(Mt 28, 19-20).

Cristão Adulto – V

O Cristão tem em Jesus Cristo o sentido da vida

A questão do sentido une todos os homens. Ter uma vida com sentido é a profunda inquietação que também hoje se sente. O problema agudiza-se ainda mais quando se torna evidente que nada do que se faz parece ter valor. Perante a morte e o problema do antes e do depois, não se pode deixar de colocar a questão do sentido. E quando a sede de sentido se agudiza, pode chegar-se ao desespero, ao sem sentido.
A resposta à questão do sentido era, normalmente, herdada do ambiente familiar, social ou religioso circundante. Houve, pois, uma infinidade de sentidos, desde os primórdios da humanidade até hoje. Exemplos disso são a história das religiões, da filosofia e da literatura. E mesmo da arte.

Sede de absoluto
Perante as diversas vagas de sentido, que chegam até a contradizer-se, surge a inevitável pergunta se não haverá um verdadeiro sentido que acabe por valer de facto a pena viver?
O cristão adulto vive a sede de absoluto, que não se realiza plenamente por esta vida, sem contudo negar a possibilidade de vir a realizar-se. Perante a morte, a radicalidade do problema humano faz emergir na consciência a aspiração que habita cada pessoa: realizar-se infinitamente. «Queria era sentir-me ligado a um destino extrabiológico, a uma vida que não acabasse com a última pancada do coração»(Miguel Torga).
A partir da morte pode reconhecer-se, também, a impotência do homem para construir sozinho a sua realização. «O homem é um animal compartilhante. Necessita de sentir as pancadas do coração sincronizadas com as doutros corações, mesmo que sejam corações oceânicos, insensíveis a mágoas de gente. Embora oco de sentido, o rufar dos tambores ajuda a caminhar. Era um parceiro de vida que eu precisava agora, oco tambor que fosse, com o qual acertasse o passo da inquietação»(Miguel Torga).
O adulto na fé reconhece que a vida terrena — projecto e aspiração a ser mais — tem sentido e abre a possibilidade da esperança de um futuro transcendente. A descoberta do sentido para a vida, integrando o sentido da morte, revela a precariedade e a finitude de uma vida sobre a qual assenta o desejo de absoluto que se espera. É a descoberta da liberdade ansiada, aquela que se tem devido a uma liberdade transcendente. O desejo de liberdade infinita do homem dá lugar à descoberta da condição de possibilidade da liberdade humana: Deus. A realização humana surge a partir do ser pessoa, da relação.

Cristo fonte de sentido
Mas o sentido é um dom, oferecido pelo mistério do Verbo encarnado. «Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente. […] Cristo, novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a vocação sublime»(GS 22). O mistério do homem revela-se através do mistério de Cristo, chamado a participar da sua filiação. Quando o homem descobre que é amado pelo Pai, em Cristo e através do Espírito, revela-se a si mesmo, descobre a grandeza de ser objecto da benignidade divina, receptor do amor do Pai revelado em Cristo. O mistério trinitário é o único capaz de realizar o homem, é o «mistério iluminador» do sentido. A expressão desse mistério faz-se pela vivência da comunhão, onde o ser com os outros impele para a solidariedade e para o diálogo.
Jesus Cristo, através da sua vida e pregação, é o mediador do sentido, o único intérprete dos problemas humanos. Em Cristo, os cristãos podem compreender-se, realizar-se e superar-se continuamente.
Em Jesus Cristo, cada ser humano, realiza-se e plenifica-se. O ser insaciado sacia-se. Aquilo que o homem é e o que anseia por ser têm um espaço de convergência e realização: Jesus Cristo.

Cristão Adulto – IV

A alegria de ser cristão


A alegria e o gozo de viver a palavra de Deus são características próprias de um cristão adulto.
Há diversos tipos de alegria, diversos graus. Mas só se pode falar em alegria no sentido estrito, quando o ser humano, a nível das suas faculdades superiores, encontra a satisfação e possui um bem conhecido e amado. De acordo com este ensinamento de S. Tomás de Aquino, e vendo as potencialidades desta afirmação, o Papa Paulo VI, na exortação apostólica Gaudete in Domino, afirma que o ser humano não só pode sentir e experimentar as alegrias humanas quando está em contacto e comunhão com a natureza e com a humanidade, mas também pode atingir o grau mais elevado de felicidade que é a alegria da comunhão com Deus. Aí, o ser humano conhece a alegria e a felicidade espiritual quando o seu espírito entra em comunhão com Deus, conhecido e amado como bem supremo. A alegria verdadeira não provém dos prazeres efémeros nem das certezas do mundo, mas sim da vida espiritual, pois é um fruto do Espírito.

Alegria Cristã

A alegria cristã é por sua essência uma participação espiritual da alegria insondável – simultaneamente divina e humana – do Coração de Jesus glorificado. Através da oração pode experimentar-se mais profundamente esta grande alegria: cada cristão sabe que vive de Deus e para Deus.
E ninguém é excluído deste chamamento universal à felicidade, na sua vida concreta. É a partir da vida no Espírito, que os discípulos de Jesus Cristo são chamados a participar da alegria divina, alegria essa que se fundamenta na participação no amor trinitário. Jesus quer que sintam dentro de si a sua mesma alegria em plenitude: “Eu revelei-lhes o teu nome, para que o amor com que tu me amaste esteja neles e eu também esteja neles’” (Jo 17, 26).

O caminho das Bem-aventuranças

Estar dentro do amor de Deus é uma possibilidade que se realiza nesta vida concreta, através da opção pelas coisas do Reino. Claro que pode obrigar a um caminho difícil, mas é o único que leva à verdadeira alegria: o caminho das Bem-aventuranças.
As “Bem-aventuranças traçam a imagem de Cristo e descre­vem sua caridade; exprimem a vocação dos fiéis associados à glória de sua Paixão e Ressurreição; iluminam as acções e atitudes características da vida cristã; são promessas paradoxais que sustentam a esperança nas tribulações; anunciam as bênçãos e re­compensas já obscuramente adquiridas pelos discípulos; são ini­ciadas na vida da Virgem Maria e de todos os santos”( CIC 1717).
Convém ter presente que a alegria do Reino feita realidade, não pode brotar senão da celebração conjunta da morte e ressurreição do Senhor. É o paradoxo da condição cristã que tem em Jesus Cristo o seu esclarecimento. À luz do novo Adão, os sofrimentos e dificuldades não são eliminados, mas adquirem um novo sentido, porque há a certeza de participar na redenção realizada por Jesus Cristo e participar da Sua glória.
O cristão, por muitas dificuldades que enfrente, desde que esteja inserido na comunhão de amor trinitário, sente sempre a alegria divina, pois participa do amor de Deus(cf Jn 17, 25-26). Esta consciência leva-o a ser sal e luz do mundo, anunciando a Boa Nova com alegria. Deste modo não sucumbirá à falta de fervor, que se manifestaria no cansaço, acomodação, desinteresse e desilusão. Antes se revigora continuamente com verdadeiro fervor espiritual.

Cristão Adulto III

Vida em Cristo, espiritualidade teologal

A maturidade cristã implica que cada cristão possua uma comunhão íntima com Cristo, levando-o a expressar o amor salvífico de Deus.
Este objectivo é alcançado através de um vida espiritual profunda, sendo a vida espiritual o desenvolvimento da vida de Deus em cada pessoa criada, amada e salva por Deus. O progresso espiritual encaminha para uma mais íntima união com Cristo. Desta união relacional brota a compreensão das virtudes teologais.
As virtudes humanas, as qualidades de cada pessoa, radicam nas virtudes teologais, que adaptam as faculdades do ser humano à participação na natureza divina. De facto, “as virtudes teologais referem-se directamente a Deus e dispõem os cristãos para viverem em relação com a Santíssima Trindade. Têm Deus Uno e Trino por origem, motivo e objecto”(CCE 1812).
As virtudes teologais são infundidas por Deus nos seus fiéis, para que sejam capazes de proceder como filhos de Deus. São “o penhor da presença e da acção do Espírito Santo nas faculdades do ser humano”(CCE 1813).


A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que Ele disse e revelou, e que a Igreja transmite(Cf CCE 1814). A fé é alimentada quotidianamente com o Evangelho e“é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se vêem. Foi por ela que os antigos foram aprovados”(Hb 11, 1-2). Por isso, mesmo que a fé comporte uma atitude de procura humilde e corajosa, fundamenta-se na Palavra de Deus que não se engana e é sobre esta rocha firme que edificamos a Igreja. Cada cristão possui, então, certezas simples e sólidas que hão-de ajudar a procurar um cada vez maior conhecimento do Senhor.
Deus mostra a Sua fidelidade porque cumpre sempre a Sua Palavra, mesmo quando há oposição ou indiferença; tem confiança no homem, no Seu povo e acredita nas suas possibilidades; e ama o Seu povo com amor de esposo, sempre fiel. É este acreditar no Deus fiel que dá segurança a o cristão, mesmo no meio das dificuldades e incompreensões.

Esperança
A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos o Reino dos Céus e a vida eterna como nossa felicidade, por isso pomos toda a nossa confiança nas promessas de Cristo, apoiados não nas forças humanas, mas na acção do Espírito Santo(Cf CCE 1817).
O cristão vê com esperança a acção de anunciar a Palavra de Deus, sabendo que “o Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Quer esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e cresce, sem ele saber como”(Mc 4, 26-27). A esperança, como virtude teologal, fundamenta-se apenas em Deus e na Sua Palavra. É um dom do Espírito Santo: “Que o Deus da esperança vos encha de toda a alegria e paz na fé, para que transbordeis de esperança, pela força do Espírito Santo”(Rm 15,13).

Caridade

A caridade é a virtude teologal que torna o cristão capaz de amar a Deus sobre todas as coisas por Ele mesmo, e ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus(Cf CCE 1822). A caridade orienta-se sempre para Deus, dando-O a conhecer aos irmãos.
A caridade, o amor a Deus e, nele, aos irmãos, não é mais do que a resposta Àquele que nos amou primeiro. “O amor de Deus manifestou-se desta forma no meio de nós: Deus enviou ao mundo o seu Filho unigénito, para que, por Ele, tenhamos a vida. É nisto que está o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi ele mesmo que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados. Caríssimos, se Deus nos amou assim, também nós devemos amar-nos uns aos outros”(1Jo 4,9-11). Em Cristo ficámos a conhecer o amor de Deus, como é, e n’Ele somos convidados e viver de acordo com esse amor. A caridade cristã é, então, um dom do Pai, que se manifesta especialmente na solidariedade(cf Flp 2,1-11) e no serviço aos demais, nomeadamente aos pobres e abandonados.
Ora, esta virtude, a caridade, precisa de ser continuamente alimentada pela vida de comunhão com o Senhor, o que se consegue através da oração e da liturgia sacramental. Os sacramentos, e em especial a Eucaristia, “comunicam e alimentam aquele amor para com Deus e para com os homens”(LG 33).

Cristão Adulto II

A vida adulta é entendida muitas vezes como uma fase de estabilidade, pelo que essa estabilidade é, ela mesma, uma característica de maturidade.
Vamos, pois, ao longo deste texto, percorrer os aspectos nucleares do adulto, vendo-os na sua dimensão também espiritual e religiosa.

Pessoa unificadaUm adulto é alguém que já fez uma primeira unificação da sua personalidade. Todas as dimensões da sua personalidade estão harmoniosamente interligadas. Um cristão adulto faz esta harmonização a partir da sua decisão livre de aderir a Jesus Cristo, pela fé. Esta conversão compromete livremente a cada pessoa que vai adequando a sua conduta na direcção daquilo que vai descobrindo como vontade de Deus. A vida do cristão adulto não é fruto de um determinismo circunstancial, mas sim de um permanente exercício de liberdade. Escolher, em cada caso, de acordo com a vontade de Deus implica o manuseamento de muitas variáveis. Este exercício de discernimento é fruto e gerador de uma personalidade crente equilibrada e madura.

Com convicções

A liberdade e entrega do adulto, geradores de profundas convicções, leva-o a viver com estabilidade, e não ao sabor dos acontecimentos. A coerência cristã deriva das profundas convicções evangélicas que dão forma a uma fé adulta.
Embora o Cristianismo não se reduza a uma mensagem ou a um conjunto de conhecimentos, o adulto assimilou uma estrutura de conteúdos de fé capaz de dar consistência às atitudes e aos comportamentos.
Este maturidade é fruto de um itinerário de crescimento, já realizado, no seio de uma comunidade cristã, acompanhado por um catequista, e onde a sua vida pessoal foi e é relida à luz do Acontecimento pascal de Jesus Cristo.

Responsável
O adulto é responsável e sabe-se consciente por todas as dimensões da sua vida e atitudes, pelo que o seu assumir da vida cristã implica a vivência de uma vocação. A vocação faz de cada cristão responsável por um projecto de vida, fiel à sua identidade de filho de Deus. Este compromisso deriva da sua identificação com o ser e a missão da Igreja, que se traduz no cumprimento da sua responsabilidade eclesial na circunstância e condição a que o Senhor o chamou.
Como membro de uma comunidade, o cristão vive em Igreja, comprometido com o Reino de Deus: é um ser socializado. Por isso, é capaz de estar inserido no mundo, nos diversos âmbitos – família, cultura, economia, política e outras –, como seguidor de Jesus Cristo, colaborando com todas as pessoas para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.

E Humilde

O adulto é também aquele que vive adaptado à realidade que o circunda e às suas próprias capacidades. Esta tomada de consciência dá ao cristão adulto uma convicção firme da sua humildade, que não é falso comodismo, mas sim o assumir que só com a graça de Deus é capaz de viver a sua fé, fiel e livremente.
Sabe-se criatura diante do Criador, filho de Deus Pai. Reconhece que só em Cristo pode obter a salvação e que a sua santificação é resultado da acção do Espírito Santo.
Esta relação com Deus dá ao crente a capacidade de perceber a sua própria vida e a história da humanidade integradas na realização de um projecto que não é seu, mas de Deus. É a referência a este projecto que vai dando sentido e significado aos acontecimentos, mesmo aqueles que parecem negativos podem ser assumidos à luz desta visão mais ampla.
É também à luz deste projecto amplo e global, que tem Deus como origem e meta, que o adulto encontra resposta e sentido para as grandes perguntas existenciais que reiteradamente atormentam o ser humano.